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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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seja outra coisa que não a reprodução de uma realidade vivida pela criança.<br />

Pois a criança, tal como o adulto, só pode produzir fantasias com material adquirido<br />

em algum lugar; as vias para essa aquisição se acham em parte (leitura,<br />

por exemplo) interdita<strong>das</strong> à criança, o espaço de tempo disponível para a<br />

aquisição é curto e fácil de explorar, na busca dessas fontes.<br />

Em nosso caso, a cena primária contém a imagem da relação sexual entre os<br />

pais, numa posição particularmente propícia para certas observações. Não constituiria<br />

prova da realidade desta cena, se a encontrássemos num doente cujos<br />

sintomas, isto é, os efeitos da cena, tivessem aparecido em alguma ocasião de<br />

sua vida posterior. Tal pessoa poderia ter adquirido nos mais diversos momentos<br />

do longo intervalo as impressões, representações e conhecimentos que<br />

ela transforma numa imagem de fantasia, projeta de volta em sua infância e<br />

liga a seus pais. Mas se os efeitos de uma tal cena surgem no quarto ou quinto<br />

ano de vida, a criança deve tê-la presenciado numa época ainda anterior. Então<br />

permanecem de pé to<strong>das</strong> as conclusões desconcertantes que nos vieram da análise<br />

da neurose infantil. A menos que se suponha que o paciente não só fantasiou<br />

inconscientemente esta cena primária, mas também tramou sua mudança<br />

de caráter, seu medo dos lobos e sua compulsão religiosa, um expediente que<br />

estaria em contradição com sua natureza normalmente sóbria e a tradição imediata<br />

de sua família. Então a coisa deve ficar nisso — não vejo outra possibilidade:<br />

ou a análise que parte de sua neurose infantil é um desvario, ou tudo<br />

corresponde ao que descrevi acima.<br />

Numa passagem anterior também estranhamos a seguinte ambiguidade: a<br />

preferência do paciente pelas nádegas da mulher e pelo coito na posição em<br />

que elas sobressaem parecia requerer uma derivação do coito observado entre<br />

os pais, ao mesmo tempo em que tal predileção é um traço geral <strong>das</strong> constituições<br />

arcaicas predispostas à neurose obsessiva. Aqui se oferece o expediente<br />

simples de resolver a contradição vendo-a como sobredeterminação. A pessoa<br />

que ele observou nessa posição durante o coito era o seu pai carnal, do qual ele<br />

podia ter herdado também essa preferência constitucional. Nem a posterior<br />

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