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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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que diz “vou te comer” pode ter sido expressa várias vezes, no período inicial<br />

em que o pai, que depois se tornou severo, costumava acariciar e brincar com<br />

o filhinho. Uma de minhas pacientes contou que os seus dois filhos nunca<br />

puderam gostar do avô, porque ele costumava apavorá-los com a brincadeira<br />

afetuosa de que iria cortar suas barrigas.<br />

Deixemos de lado agora o que neste ensaio antecipa o aproveitamento do<br />

sonho, e voltemo-nos para a sua interpretação imediata. Quero observar que<br />

essa interpretação foi uma tarefa cuja solução se estendeu por vários anos. O<br />

paciente relatou o sonho bem cedo, e logo partilhou minha convicção de que<br />

por trás dele se escondiam as causas de sua neurose infantil. No decorrer do<br />

tratamento retornamos ao sonho com frequência, mas apenas nos últimos<br />

meses da terapia foi possível compreendê-lo inteiramente, e isso graças ao trabalho<br />

espontâneo do paciente. Ele sempre enfatizou que dois fatores do sonho<br />

tinham deixado a maior impressão sobre ele: primeiramente a completa calma<br />

e imobilidade dos lobos, e em segundo lugar a atenção tensa com que todos<br />

eles o olhavam. Também lhe parecia digna de nota a persistente sensação de<br />

realidade no final do sonho.<br />

Vejamos esse último ponto. Sabemos, da experiência ao interpretar sonhos,<br />

que esta sensação de realidade tem uma significação determinada. Ela nos<br />

garante que algo, no material latente do sonho, reivindica realidade na lembrança,<br />

isto é, que o sonho se refere a um acontecimento que realmente ocorreu,<br />

não foi apenas fantasiado. Naturalmente pode se tratar apenas da realidade<br />

de algo desconhecido; a convicção, por exemplo, de que seu avô realmente<br />

contara a história do lobo e do alfaiate, ou de que realmente lhe haviam lido as<br />

histórias do Chapeuzinho Vermelho e dos sete cabritinhos, não poderia jamais<br />

ser substituída por essa sensação de realidade que perdurou após o sonho. O<br />

sonho parecia apontar para um acontecimento cuja realidade é acentuada em<br />

oposição à irrealidade dos contos.<br />

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