FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14
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Essa óbvia carência do ensino levou, algum tempo atrás, à inserção de cursos de psicologia médica no currículo universitário; mas, na medida em que o teor desses cursos era determinado pela psicologia acadêmica ou pela psicologia experimental — com um enfoque apenas fragmentário —, eles não podiam satisfazer as necessidades da formação do estudante, nem avizinhá-lo dos problemas humanos gerais e daqueles de sua profissão. Daí a posição desse tipo de psicologia médica no currículo universitário ter se revelado insegura até o momento. Um curso de psicanálise bem poderia responder a essas exigências. Antes de se chegar à psicanálise propriamente, seria necessário um curso introdutório que tratasse das relações entre a vida psíquica e a somática, fundamento de qualquer psicoterapia, que descrevesse os vários procedimentos sugestivos e, por fim, demonstrasse como a psicanálise representa o término e coroamento dos métodos anteriores de tratamento psíquico. Mais do que outros métodos, de fato, a psicanálise é adequada para ensinar psicologia ao estudante de medicina. b) Uma outra função da psicanálise seria oferecer uma preparação para o estudo da psiquiatria. Em sua forma atual, a psiquiatria é de caráter meramente descritivo; apenas ensina o estudante a reconhecer uma série de quadros clínicos, capacitando-o a distinguir quais deles são incuráveis e quais são perigosos para a comunidade. Seu único vínculo com os outros ramos da ciência médica está na etiologia orgânica, ou seja, no tocante ao organismo e à anatomia. Mas a psiquiatria não proporciona o entendimento dos fatos observados, algo que apenas a psicologia profunda pode fazer. Na América, pelo que estou informado, já se reconhece que a psicanálise — como a primeira tentativa de psicologia profunda — fez bem-sucedidas incursões nessa área inexplorada da psiquiatria. Por isso, muitas escolas médicas organizaram cursos de psicanálise como introdução ao estudo da psiquiatria. 286/311
O ensino da psicanálise teria de proceder em dois estágios: um curso elementar, destinado a todos os estudantes de medicina, e um curso especializado para psiquiatras. c) Ao investigar os processos psíquicos e as funções intelectuais, a psicanálise segue um método próprio, cuja aplicação não se limita ao âmbito dos distúrbios psíquicos, mas se estende igualmente à resolução de problemas na arte, na filosofia e na religião. Nesse sentido, ela já forneceu novos pontos de vista e trouxe importantes esclarecimentos em questões de história da literatura, mitologia, história das civilizações e filosofia da religião. Portanto, esse curso geral deveria também ser aberto aos estudantes dessas áreas da ciência. A fecundação dessas outras disciplinas pela psicanálise certamente contribuirá para forjar um vínculo mais sólido entre a medicina e os ramos de saber da filosofia e das artes, no sentido de uma universitas literarum. Em suma, podemos dizer que uma universidade só teria a ganhar com a inclusão do ensino da psicanálise em seu currículo. É verdade que este ensino somente poderia ser ministrado de forma dogmática, em aulas teóricas, pois quase não haveria oportunidade para experimentos ou demonstrações práticas. Para a pesquisa que o professor de psicanálise deverá realizar, bastaria ele ter acesso a um ambulatório com pacientes “neuróticos”, e, quanto à psiquiatria psicanalítica, um serviço de internação também deveria estar disponível. Por fim, cabe considerar a objeção de que dessa forma o estudante de medicina jamais aprenderá realmente a psicanálise. Isso é verdadeiro se pensamos no efetivo exercício da psicanálise, mas para os propósitos em vista é suficiente que ele aprenda algo sobre e com a psicanálise. Afinal, tampouco se espera que o estudo universitário transforme o estudante de medicina num cirurgião hábil; quem escolhe a cirurgia como profissão não pode escapar a vários outros anos de trabalho e especialização no departamento cirúrgico de um hospital. 287/311
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Essa óbvia carência do ensino levou, algum tempo atrás, à inserção de<br />
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problemas humanos gerais e daqueles de sua profissão. Daí a posição desse<br />
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Um curso de psicanálise bem poderia responder a essas exigências. Antes<br />
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que tratasse <strong>das</strong> relações entre a vida psíquica e a somática, fundamento de<br />
qualquer psicoterapia, que descrevesse os vários procedimentos sugestivos e,<br />
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dos métodos anteriores de tratamento psíquico. Mais do que outros métodos,<br />
de fato, a psicanálise é adequada para ensinar psicologia ao estudante de<br />
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para a comunidade. Seu único vínculo com os outros ramos da ciência<br />
médica está na etiologia orgânica, ou seja, no tocante ao organismo e à anatomia.<br />
Mas a psiquiatria não proporciona o entendimento dos fatos observados,<br />
algo que apenas a psicologia profunda pode fazer.<br />
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