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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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secreta do inquietante, compreendemos que o uso da linguagem faça o<br />

heimlich converter-se no seu oposto, o unheimlich (p. 340), pois esse unheimlich<br />

não é realmente algo novo ou alheio, mas algo há muito familiar à psique, que<br />

apenas mediante o processo da repressão alheou-se dela. O vínculo com a<br />

repressão também nos esclarece agora a definição de Schelling, segundo a qual<br />

o inquietante é algo que deveria permanecer oculto, mas apareceu.<br />

Falta-nos apenas aplicar essa percepção que adquirimos à explicação de alguns<br />

outros casos do inquietante.<br />

Para muitas pessoas é extremamente inquietante tudo o que se relaciona<br />

com a morte, com cadáveres e com o retorno dos mortos. Já vimos que em algumas<br />

línguas modernas a nossa expressão “uma casa unheimlich” pode ser<br />

vertida apenas por “uma casa mal-assombrada”. Poderíamos ter iniciado nossa<br />

indagação com esse exemplo de Unheimlichkeit, talvez o mais forte de todos,<br />

mas não o fizemos porque nele o inquietante está muito mesclado ao horripilante,<br />

e em parte é por ele coberto. Mas em nenhum outro âmbito nossos<br />

pensamentos e sentimentos mudaram tão pouco desde os primórdios, o arcaico<br />

foi tão bem conservado sob uma fina película, como em nossa relação com a<br />

morte. Dois fatores contribuem para essa imobilidade: a força de nossas<br />

reações emotivas originais e a incerteza de nosso conhecimento científico.<br />

Nossa biologia ainda não pôde decidir se a morte é o destino necessário de todo<br />

ser vivo ou apenas um incidente regular, mas talvez evitável, dentro da<br />

vida. É certo que a frase “Todos os homens são mortais” vem apresentada, nos<br />

manuais de lógica, como exemplo de proposição universal, mas para nenhuma<br />

pessoa ela é evidente, e hoje, como outrora, nosso inconsciente não tem lugar<br />

para a ideia da própria mortalidade. As religiões insistem em negar importância<br />

ao fato indiscutível da morte individual e fazer prosseguir a existência além<br />

da vida; os poderes seculares não acreditam poder conservar a ordem moral<br />

entre os vivos, se for preciso renunciar a outra vida que compense esta; em<br />

nossas grandes cidades anunciam-se palestras que devem ensinar como<br />

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