19.04.2013 Views

FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

da libido. No Eu forma-se lentamente uma instância especial, que pode<br />

contrapor-se ao resto do Eu, que serve à auto-observação e à autocrítica, que<br />

faz o trabalho da censura psíquica e torna-se familiar à nossa consciência<br />

[Bewußtsein] como “consciência” [Gewissen]. * No caso patológico do delírio de<br />

estar sendo observado, ela torna-se isolada, dissociada do Eu, discernível para<br />

o médico. O fato de que exista uma instância assim, que pode tratar o restante<br />

do Eu como um objeto, isto é, de que o ser humano seja capaz de auto-observação,<br />

torna possível dotar de um novo teor a velha concepção do duplo e<br />

atribuir-lhe várias coisas, principalmente aquilo que a autocrítica vê como pertencente<br />

ao superado narcisismo dos primórdios. 6<br />

Não apenas esse conteúdo repugnante para a crítica do Eu pode ser incorporado<br />

ao duplo, mas também to<strong>das</strong> as possibilidades não realiza<strong>das</strong> de configuração<br />

do destino, a que a fantasia ainda se apega, e to<strong>das</strong> as tendências do Eu<br />

que não puderam se impor devido a circunstâncias desfavoráveis, assim como<br />

to<strong>das</strong> as decisões volitivas coarta<strong>das</strong>, que suscitaram a ilusão do livre-arbítrio. 7<br />

No entanto, após assim considerar a motivação manifesta da figura do duplo,<br />

somos obrigados a admitir que nada disso nos torna mais compreensível o<br />

elevado grau de inquietante estranheza que lhe é próprio, e nosso conhecimento<br />

dos processos psíquicos patológicos nos leva a acrescentar que nada,<br />

nesse material, poderia explicar o esforço defensivo que o projeta para fora do<br />

Eu como algo estranho. O caráter do inquietante pode proceder apenas do fato<br />

de o duplo ser criação de um tempo remoto e superado, em que tinha um significado<br />

mais amigo. O duplo tornou-se algo terrível, tal como os deuses<br />

tornam-se demônios após o declínio de sua religião (Heine, Die Götter im Exil<br />

[Os deuses no exílio]).<br />

É fácil apreciar, seguindo o modelo do tema do duplo, os outros distúrbios<br />

do Eu explorados por Hoffmann. São um recuo a determina<strong>das</strong> fases da<br />

evolução do sentimento do Eu, uma regressão a um tempo em que o Eu ainda<br />

não se delimitava nitidamente em relação ao mundo externo e aos outros.<br />

264/311

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!