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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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No entanto, chega o tempo em que essa primeira floração é estragada pelo<br />

gelo; nenhum desses amores incestuosos pode fugir à fatalidade da repressão.<br />

Sucumbem a ela devido a ensejos externos verificáveis, que provocam decepção,<br />

devido a inespera<strong>das</strong> doenças, ao nascimento indesejado de um<br />

irmãozinho, que é sentido como uma infidelidade etc., ou então a partir de<br />

dentro, sem ocasiões exteriores, talvez apenas porque não se realizou a satisfação<br />

há muito ansiada. É inegável que tais ensejos não são as causas efetivas,<br />

mas que essas relações amorosas estão fada<strong>das</strong> a declinar em algum momento,<br />

não sabemos dizer em virtude de quê. O mais provável é que desapareçam<br />

porque seu tempo acabou, porque as crianças entram em nova fase de desenvolvimento,<br />

na qual são obriga<strong>das</strong> a repetir a repressão da escolha incestuosa<br />

de objeto que houve na história da humanidade, como anteriormente haviam<br />

sido leva<strong>das</strong> a empreender tal escolha de objeto. (Ver o papel do Destino no<br />

mito de Édipo.) O que existe inconscientemente, como resultado psíquico dos<br />

impulsos de amor incestuosos, não é mais assumido pela consciência na nova<br />

fase, e o que deles já se tornou consciente é de novo repelido. Ao mesmo<br />

tempo que esse processo de repressão surge uma consciência de culpa, também<br />

de origem desconhecida, mas sem dúvida ligada àqueles desejos incestuosos e<br />

justificada pela permanência deles no inconsciente. 1<br />

A fantasia do período de amor incestuoso dizia: “Ele (o pai) ama apenas a<br />

mim, não a outra criança, porque bate nela”. A consciência de culpa não acha<br />

castigo mais severo do que a inversão desse triunfo: “Não, ele não ama você,<br />

pois bate em você”. Assim, a fantasia da segunda fase, de apanhar ela mesma<br />

do pai, torna-se expressão direta da consciência de culpa, à qual o amor ao pai<br />

fica sujeito. A fantasia tornou-se masoquista, portanto; que eu saiba, é sempre<br />

assim, a consciência de culpa é o fator que transforma o sadismo em<br />

masoquismo. Mas certamente esse não é o conteúdo inteiro do masoquismo. A<br />

consciência de culpa não pode haver dominado sozinha o campo; também o<br />

impulso amoroso deve ter seu quinhão. Recordemos que se trata de crianças<br />

em que o componente sádico pôde, por razões constitucionais, aparecer de<br />

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