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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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por qual caminho essa fantasia, agora sádica, de que garotos desconhecidos<br />

apanham, tornou-se patrimônio duradouro dos impulsos libidinais * da menina?<br />

Também não ocultamos a nós mesmos que os nexos e a sequência <strong>das</strong> três<br />

fases da fantasia de surra, assim como to<strong>das</strong> as suas demais peculiaridades,<br />

ficaram incompreensíveis até o momento.<br />

IV<br />

Se conduzimos a análise através do tempo remoto em que é colocada a fantasia<br />

de surra, e a partir do qual ela é recordada, a criança nos aparece enredada nas<br />

excitações de seu complexo parental.<br />

A menina é afetuosamente fixada no pai, que provavelmente fez tudo para<br />

ganhar seu amor, lançando o gérmen de uma atitude de ódio e concorrência<br />

diante da mãe, atitude que subsiste junto a uma corrente de afetuosa dependência<br />

e que pode, com o passar do tempo, tornar-se consciente de maneira cada<br />

vez mais intensa e nítida, ou provocar uma exagerada ligação amorosa reativa<br />

com ela. Mas não é à relação com a mãe que a fantasia de surra se liga. Há outras<br />

crianças no ambiente, poucos anos mais velhas ou mais novas, <strong>das</strong> quais a<br />

criança não gosta por toda espécie de motivos, mas sobretudo porque tem que<br />

dividir com elas o amor dos pais, e que por isso afasta de si com toda a brava<br />

energia própria dos sentimentos dessa idade. Se é um irmão ou irmã menor<br />

(como em três dos meus quatro casos), a criança o despreza, além de odiá-lo, e<br />

tem de presenciar como ele é alvo do afeto que os pais, enceguecidos, sempre<br />

reservam para aquele que nasceu por último. Logo compreende que apanhar,<br />

mesmo quando não dói muito, significa uma retração do amor e uma humilhação.<br />

Assim, crianças que acreditavam comandar seguramente o inabalável<br />

amor dos pais foram derruba<strong>das</strong>, por meio de um só golpe, <strong>das</strong> alturas de sua<br />

presumida onipotência. Então é agradável a ideia de o pai bater nessa criança<br />

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