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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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uma outra? Era sempre a mesma criança ou, frequentemente, qualquer outra?<br />

Quem batia na criança? Um adulto? Quem, então? Ou a criança fantasiava<br />

que ela mesma batia numa outra? Para to<strong>das</strong> essas questões não havia uma informação<br />

esclarecedora, mas apenas uma tímida resposta: “Não sei nada mais;<br />

batem numa criança”.<br />

Indagações sobre o sexo da criança que apanhava tinham maior sucesso,<br />

mas não traziam maior compreensão. Às vezes a resposta era: “Sempre meninos”,<br />

ou: “Só meninas”; com frequência dizia-se: “Não sei”, ou: “Não faz<br />

diferença”. Aquilo que interessava ao indagador, uma relação constante entre<br />

o sexo da criança que fantasiava e o da que apanhava, nunca se verificou. Ocasionalmente<br />

aparecia um outro detalhe característico do conteúdo da fantasia:<br />

“a criança pequena é golpeada no traseiro nu”.<br />

Em tais circunstâncias não se podia resolver, inicialmente, se o prazer ligado<br />

à fantasia de surra devia ser chamado de sádico ou de masoquista.<br />

II<br />

Uma tal fantasia, que talvez surja na primeira infância por ensejos casuais, e é<br />

mantida para a autossatisfação erótica, pode apenas ser vista, segundo nossos<br />

atuais conhecimentos, como um traço primário de perversão. Um dos componentes<br />

da função sexual teria se adiantado aos outros no desenvolvimento,<br />

teria se tornado prematuramente autônomo e se fixado, escapando assim aos<br />

processos de desenvolvimento posteriores, mas também dando prova de uma<br />

constituição especial, anormal, da pessoa. Sabemos que tal perversão infantil<br />

não continua necessariamente por toda a vida, pode sucumbir depois à<br />

repressão, ser substituída por uma formação reativa ou ser transformada por<br />

uma sublimação. (Mas é possível que a sublimação derive de um processo especial,<br />

que seria freado pela repressão.) Quando esses processos não ocorrem,<br />

porém, a perversão se conserva durante a vida madura, e ao depararmos com<br />

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