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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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adquiririam importância. No meio social de meus pacientes, eram quase<br />

sempre os mesmos livros, aqueles acessíveis à infância, que proporcionavam às<br />

fantasias de surra novos estímulos: a chamada “Biblioteca Rosa”, A cabana do<br />

pai Tomás e outros assim. Competindo com essas obras, a atividade fantasiosa<br />

da criança punha-se a inventar uma grande quantidade de situações e instituições<br />

em que as crianças eram surra<strong>das</strong>, ou puni<strong>das</strong> e disciplina<strong>das</strong> de alguma<br />

maneira, por sua maldade e seu mau comportamento.<br />

Como a fantasia de que batem numa criança era geralmente investida de elevado<br />

prazer e se concluía num ato de prazerosa satisfação autoerótica,<br />

podíamos esperar que também a vista de outra criança sendo golpeada na<br />

escola desse origem a um semelhante deleite. Esse nunca era o caso, porém.<br />

Cenas de castigo físico na escola despertavam na criança que as presenciava<br />

um sentimento peculiar de excitação, provavelmente misto, no qual a repulsa<br />

tinha larga participação. Em alguns casos a experiência real <strong>das</strong> cenas de castigo<br />

era sentida como intolerável. Aliás, também nas fantasias refina<strong>das</strong> de<br />

anos posteriores mantinha-se a condição de que as crianças puni<strong>das</strong> não sofressem<br />

nenhum ferimento sério.<br />

Era forçoso perguntar que relação podia haver entre a importância <strong>das</strong><br />

fantasias de surra e o papel que haviam tido, na educação familiar da criança,<br />

as punições físicas reais. A conjectura imediata, de que se tratava de uma relação<br />

inversa, não podia ser demonstrada, em virtude da unilateralidade do<br />

material. As pessoas <strong>das</strong> quais vieram os dados para essas análises raramente<br />

haviam apanhado na infância; de todo modo, não haviam sido educa<strong>das</strong> com a<br />

ajuda do bastão. Mas, naturalmente, cada uma dessas crianças tivera de sentir<br />

em algum momento a superior força física dos pais ou educadores; não é preciso<br />

sublinhar que não faltaram os golpes normais entre crianças que vivem<br />

sob o mesmo teto.<br />

Quanto às fantasias antigas e simples, que não apontavam claramente para<br />

a influência de impressões da escola ou cenas de livros, a pesquisa demandava<br />

mais informações. Quem era a criança que apanhava? A que tinha a fantasia ou<br />

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