FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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“BATEM NUMA CRIANÇA” CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA GÊNESE DAS PERVERSÕES SEXUAIS (1919) TÍTULO ORIGINAL: “EIN KIND WIRD GESCHLAGEN” (BEITRAG ZUR KENNTNIS DER ENTSTEHUNG SEXUELLER PERVERSIONEN). PUBLICADO PRIMEIRAMENTE EM INTERNATIONALE ZEITSCHRIFT FÜR ÄRZTLICHE PSYCHOANALYSE [REVISTA INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE MÉDICA], V. 5, N. 3, PP. 151-72. TRADUZIDO DE GESAMMELTE WERKE XII, PP. 195-226; TAMBÉM SE ACHA EM STUDIENAUSGABE VII, PP. 229-54.

I É surpreendente a frequência com que a fantasia de que “batem numa criança” * é confessada por pessoas que buscam tratamento psicanalítico para uma histeria ou uma neurose obsessiva. Provavelmente ela surge com frequência maior ainda em pessoas que não foram obrigadas a tomar essa resolução devido a uma doença manifesta. A essa fantasia se acham ligados sentimentos de prazer, em virtude dos quais ela foi reproduzida inúmeras vezes ou continua a sê-lo. No auge da situação imaginada há quase sempre uma satisfação masturbatória (com os genitais, portanto), no início voluntariamente, mas depois contra a vontade do paciente e de forma obsessiva. A confissão dessa fantasia sucede hesitantemente, a recordação da primeira vez em que surgiu é incerta, uma inequívoca resistência se opõe ao tratamento analítico do tema, vergonha e consciência de culpa talvez se agitem mais fortemente do que em comunicações similares das primeiras lembranças da vida sexual. Enfim se constata que as primeiras fantasias dessa espécie foram cultivadas bem cedo, antes da idade escolar, já no quinto ou sexto ano de vida. Na escola, quando a criança viu o professor bater em outras crianças, tal vivência despertou novamente as fantasias, se estavam adormecidas; fortaleceu-as, se ainda estavam presentes, e modificou notavelmente o seu conteúdo. A partir de então, “muitas crianças” foram surradas. A influência da escola foi tão nítida que os pacientes em questão eram inicialmente tentados a ligar as fantasias de surra apenas a tais impressões da época escolar, após os seis anos de idade. Mas não era possível sustentar isso; elas já existiam antes. Nas classes mais adiantadas, tendo cessado os golpes nas crianças, a sua influência foi mais do que substituída pelo efeito das leituras, que logo

I<br />

É surpreendente a frequência com que a fantasia de que “batem numa criança”<br />

* é confessada por pessoas que buscam tratamento psicanalítico para uma<br />

histeria ou uma neurose obsessiva. Provavelmente ela surge com frequência<br />

maior ainda em pessoas que não foram obriga<strong>das</strong> a tomar essa resolução<br />

devido a uma doença manifesta.<br />

A essa fantasia se acham ligados sentimentos de prazer, em virtude dos<br />

quais ela foi reproduzida inúmeras vezes ou continua a sê-lo. No auge da situação<br />

imaginada há quase sempre uma satisfação masturbatória (com os genitais,<br />

portanto), no início voluntariamente, mas depois contra a vontade do paciente<br />

e de forma obsessiva.<br />

A confissão dessa fantasia sucede hesitantemente, a recordação da primeira<br />

vez em que surgiu é incerta, uma inequívoca resistência se opõe ao tratamento<br />

analítico do tema, vergonha e consciência de culpa talvez se agitem mais fortemente<br />

do que em comunicações similares <strong>das</strong> primeiras lembranças da vida<br />

sexual.<br />

Enfim se constata que as primeiras fantasias dessa espécie foram cultiva<strong>das</strong><br />

bem cedo, antes da idade escolar, já no quinto ou sexto ano de vida. Na escola,<br />

quando a criança viu o professor bater em outras crianças, tal vivência despertou<br />

novamente as fantasias, se estavam adormeci<strong>das</strong>; fortaleceu-as, se ainda estavam<br />

presentes, e modificou notavelmente o seu conteúdo. A partir de então,<br />

“muitas crianças” foram surra<strong>das</strong>. A influência da escola foi tão nítida que os<br />

pacientes em questão eram inicialmente tentados a ligar as fantasias de surra<br />

apenas a tais impressões da época escolar, após os seis anos de idade. Mas não<br />

era possível sustentar isso; elas já existiam antes.<br />

Nas classes mais adianta<strong>das</strong>, tendo cessado os golpes nas crianças, a sua influência<br />

foi mais do que substituída pelo efeito <strong>das</strong> leituras, que logo

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