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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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Para nosso paciente, a irmã era, na infância — sem considerar no momento<br />

a sedução —, uma incômoda rival na estima dos pais, cuja superioridade,<br />

demonstrada impiedosamente, ele sentia como algo opressivo. Invejava particularmente<br />

o respeito que o pai testemunhava pelas capacidades de seu espírito<br />

e as realizações intelectuais, enquanto ele, intelectualmente inibido desde a<br />

neurose obsessiva, tinha de se contentar com um prestígio menor. A partir dos<br />

catorze anos de idade, sua relação com a irmã começou a melhorar; uma disposição<br />

similar de espírito e a oposição comum aos pais os aproximaram tanto<br />

que eles se tratavam como excelentes amigos. Na tempestuosa excitação sexual<br />

de sua puberdade, ele ousou buscar uma maior intimidade física junto a ela. Ao<br />

ser rejeitado, de maneira hábil e decidida, voltou-se para uma menina camponesa<br />

que servia na casa e que tinha o mesmo nome de sua irmã. Assim<br />

fazendo deu um passo decisivo para a sua escolha heterossexual de objeto, pois<br />

to<strong>das</strong> as garotas por que mais tarde se apaixonou, frequentemente com os mais<br />

claros indícios de obsessão, eram também cria<strong>das</strong>, cuja educação e inteligência<br />

tinham que estar bem abaixo <strong>das</strong> suas. Se todos esses objetos amorosos eram<br />

substitutos para a irmã que lhe foi negada, não é de rejeitar que uma tendência<br />

ao rebaixamento da irmã, à abolição de sua superioridade intelectual, que um<br />

dia o oprimira tanto, tenha sido decisiva na sua escolha de objeto.<br />

Foi a motivos dessa espécie, que se originam da vontade de poder, do instinto<br />

de afirmação do indivíduo, que Alfred Adler subordinou a conduta<br />

sexual do ser humano, como tudo o mais. Sem negar a vigência de tais motivos<br />

de poder e privilégio, nunca me convenci de que eles pudessem ter o papel<br />

dominante e exclusivo que lhes é atribuído. Se não tivesse conduzido a análise<br />

de meu paciente até o fim, eu me veria obrigado, pela observação desse caso, a<br />

corrigir no sentido de Adler a minha opinião preconcebida. Inesperadamente,<br />

a conclusão dessa análise trouxe um novo material, no qual novamente se<br />

mostrou que esses motivos de poder (em nosso caso a tendência ao rebaixamento)<br />

haviam determinado a escolha de objeto apenas no sentido de uma<br />

contribuição e racionalização, ao passo que a determinação verdadeira, mais<br />

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