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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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número escasso de doentes. Na abundância de miséria neurótica que há no<br />

mundo, e que talvez não precise haver, o que logramos abolir é qualitativamente<br />

insignificante. Além disso, as condições de nossa existência nos limitam<br />

às cama<strong>das</strong> superiores da sociedade, que escolhem à vontade seus próprios<br />

médicos, e nessa escolha são afasta<strong>das</strong> da psicanálise por todo gênero de preconceitos.<br />

Para as amplas cama<strong>das</strong> populares, que tanto sofrem com as neuroses,<br />

nada podemos fazer atualmente.<br />

Agora suponhamos que alguma organização nos permitisse aumentar nosso<br />

número de forma tal que bastássemos para o tratamento de grandes quantidades<br />

de pessoas. Pode-se prever que em algum momento a consciência da<br />

sociedade despertará, advertindo-a de que o pobre tem tanto direito a auxílio<br />

psíquico quanto hoje em dia já tem a cirurgias vitais. E que as neuroses não<br />

afetam menos a saúde do povo do que a tuberculose, e assim como esta não<br />

podem ser deixa<strong>das</strong> ao impotente cuidado do indivíduo. Então serão construídos<br />

sanatórios ou consultórios que empregarão médicos de formação psicanalítica,<br />

para que, mediante a análise, sejam mantidos capazes de resistência e<br />

de realização homens que de outro modo se entregariam à bebida, mulheres<br />

que ameaçam sucumbir sob a carga de privações, crianças que só têm diante de<br />

si a escolha entre a neurose e o embrutecimento. Esses tratamentos serão gratuitos.<br />

Talvez demore muito até que o Estado sinta como urgentes esses<br />

deveres. As circunstâncias presentes podem adiar mais ainda esse momento.<br />

Talvez a beneficência privada venha a criar institutos assim; mas um dia isso<br />

terá de ocorrer.<br />

Então haverá para nós a tarefa de adaptar nossa técnica às novas condições.<br />

Não tenho dúvida de que o acerto de nossas hipóteses psicológicas impressionará<br />

também os incultos, mas teremos de buscar a mais simples e palpável expressão<br />

para nossas teorias. Veremos, provavelmente, que os pobres se acham<br />

ainda menos dispostos a renunciar a suas neuroses do que os ricos, porque a<br />

difícil vida que os espera não os atrai, e a doença significa, para eles, mais um<br />

título à assistência social. É possível que só consigamos realizar algo se<br />

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