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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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apropriado recusar-lhe justamente as satisfações que ele deseja de modo mais<br />

intenso e sobre as quais se manifesta do modo mais premente.<br />

Não creio haver esgotado o alcance da atividade desejável para o médico,<br />

ao afirmar que na terapia deve ser mantida a privação. Uma outra orientação<br />

da atividade analítica, como bem se lembrarão, já foi motivo de polêmica entre<br />

nós e a escola suíça. Recusamo-nos decididamente a transformar em propriedade<br />

nossa o paciente que se entrega a nossas mãos em busca de auxílio, a<br />

conformar seu destino, impor-lhe nossos ideais e, com a soberba de um<br />

Criador, modelá-lo à nossa imagem, nisso encontrando prazer. Ainda me<br />

atenho a tal recusa, e penso que aí deve ter lugar a discrição médica que precisamos<br />

ignorar em outros pontos; também aprendi que o propósito terapêutico<br />

não requer em absoluto uma atuação assim abrangente para com o paciente.<br />

Pude ajudar pessoas com as quais não possuía qualquer vínculo de raça, educação,<br />

posição social ou visão de mundo, sem incomodá-las em sua individualidade.<br />

É verdade que então, no período dessa controvérsia, pareceu-me que as<br />

objeções de nossos defensores — creio que Ernest Jones, em primeiro lugar<br />

— soaram demasiado rudes e intransigentes. Não podemos deixar de acolher<br />

também pacientes tão desorientados e ineptos para a vida que será preciso aliar,<br />

em seu tratamento, a influência educativa com a analítica, e também para a<br />

maioria dos outros haverá ocasião em que o médico é obrigado a atuar como<br />

educador e conselheiro. Mas isso deve ocorrer com grande cuidado, e o doente<br />

não deve ser educado para se assemelhar a nós, mas para liberar e consumar<br />

sua própria natureza.<br />

Nosso estimado amigo J. J. Putnam, na América que atualmente nos é tão<br />

hostil, nos perdoará por também não podermos aceitar sua reivindicação de<br />

pôr a psicanálise a serviço de uma visão de mundo filosófica, e de impor esta<br />

ao paciente a fim de enobrecê-lo. Na minha opinião, isso afinal não passa de<br />

violência, ainda que coberta <strong>das</strong> mais nobres intenções.<br />

Ao perceber gradualmente que as várias formas patológicas que tratamos<br />

não podem ser resolvi<strong>das</strong> com a mesma técnica, chegamos a uma outra<br />

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