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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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à governanta. Ao insultar e xingar de bruxa a babá, ela seguia os passos da<br />

irmã, que havia contado primeiro aquelas coisas monstruosas da babá, e assim<br />

o deixava exteriorizar contra ela a aversão que, em consequência da sedução,<br />

como ainda veremos, ele tinha desenvolvido para com a irmã.<br />

Mas a sedução pela irmã não era certamente uma fantasia. Sua credibilidade<br />

foi aumentada por uma comunicação jamais esquecida, da época madura posterior.<br />

Um primo, mais de dez anos mais velho, tinha lhe dito, numa conversa<br />

sobre a irmã, que se lembrava muito bem da criaturinha petulante e sensual<br />

que ela havia sido. Quando era uma menina de quatro ou cinco anos de idade,<br />

ela se sentou uma vez em seu colo e lhe abriu a calça, para pegar em seu<br />

membro.<br />

Neste ponto gostaria de interromper a história da infância de meu paciente<br />

para falar dessa irmã, de seu desenvolvimento, seu destino e a influência que<br />

teve sobre o irmão. Ela era dois anos mais velha, e sempre permanecera à<br />

frente dele. Indomável como um garoto na infância, logo principiou um brilhante<br />

desenvolvimento intelectual, destacou-se pela inteligência aguda e<br />

realista, privilegiando as ciências naturais em seus estudos, mas produzindo<br />

também poemas que o pai estimava bastante. No tocante ao espírito era bem<br />

superior a seus numerosos pretendentes iniciais, e costumava gracejar deles.<br />

Mas aos vinte e poucos anos começou a ficar de humor deprimido, queixandose<br />

de não ser muito bela e se afastando de todo convívio. Ao fazer uma viagem<br />

em companhia de uma senhora amiga, retornou contando coisas totalmente inverossímeis,<br />

que teria sido maltratada por essa acompanhante, mas permaneceu<br />

obviamente ligada à suposta atormentadora. Numa segunda viagem, pouco<br />

depois, envenenou-se e veio a morrer longe de casa. É provável que sua<br />

afecção correspondesse ao início de uma dementia praecox. Ela era prova da<br />

considerável herança neuropática da família, mas não certamente a única. Um<br />

tio, irmão do pai, morreu após uma longa e singular existência, com indícios<br />

que levam a pensar numa grave neurose obsessiva; um bom número de parentes<br />

colaterais foi acometido, e ainda é, de perturbações nervosas mais leves.<br />

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