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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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explicação o lançamento para fora, através da janela. Esse “para fora”, no entanto,<br />

parece ser parte essencial da ação mágica, tendo origem no sentido<br />

oculto da mesma. A nova criança deve ser levada embora, possivelmente pela<br />

janela, porque veio pela janela. Toda a ação equivaleria, desse modo, à reação<br />

verbal já nossa conhecida, de uma criança que, ao ser informada que a cegonha<br />

lhe trouxera um irmãozinho. “Diga para levar ele de volta!”, foi sua resposta.<br />

Ao mesmo tempo, não ignoramos como é arriscado — sem falar <strong>das</strong> incertezas<br />

internas — basear a interpretação de um ato infantil numa única analogia.<br />

Por isso retive durante anos minha concepção da ligeira cena de Poesia e<br />

verdade. Um dia, veio-me um paciente que iniciou a análise com as seguintes<br />

afirmações, registra<strong>das</strong> literalmente:<br />

“Sou o mais velho de oito ou nove irmãos. 2 Uma de minhas primeiras<br />

recordações é de meu pai contando sorridente, sentado em sua cama, de pijamas,<br />

que eu havia ganhado um irmão. Na época eu tinha três anos e nove<br />

meses; é a diferença de idade entre mim e o meu irmão seguinte. E sei que<br />

numa ocasião, pouco tempo depois (ou foi um ano antes?), 3 joguei pela<br />

janela, na rua, vários objetos, escovas — ou foi somente uma escova? —,<br />

sapatos e outras coisas. Tenho outra lembrança, ainda anterior a essa.<br />

Quando tinha dois anos, eu e meus pais pernoitamos num quarto de hotel<br />

em Linz, a caminho do Salzkammergut. Eu estava tão inquieto durante a<br />

noite, fazendo tamanho barulho, que meu pai teve que bater em mim.”<br />

Com essa declaração, desapareceram-me quaisquer dúvi<strong>das</strong>. Quando,<br />

numa situação analítica, duas coisas são apresenta<strong>das</strong> uma logo após a outra,<br />

como num só fôlego, devemos interpretar essa proximidade como uma relação.<br />

Era como se o paciente tivesse dito: “Porque soube que ganhei um<br />

irmão, joguei depois aqueles objetos na rua”. O lançamento <strong>das</strong> escovas, sapatos<br />

etc. deve ser percebido como reação ao nascimento do irmão. Também não<br />

é algo adverso que os objetos lançados fora, nesse caso, não tenham sido<br />

pratos, mas outras coisas, provavelmente as que o garoto podia alcançar… O<br />

arremesso para fora (para a rua, pela janela) demonstra ser o elemento<br />

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