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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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num paraíso, pois então ele possuía a afeição irrestrita e exclusiva de sua mãe.<br />

Quando ainda não tinha quatro anos, nasceu um irmão — hoje ainda vivo —,<br />

e, reagindo a essa perturbação, ele se converteu num menino teimoso, intratável,<br />

que suscitava constantemente a severidade da mãe. E nunca mais retornou<br />

aos trilhos.<br />

Quando veio tratar-se comigo — em boa parte porque sua mãe, uma senhora<br />

beata, tinha horror à psicanálise —, há muito esquecera o ciúme do irmão<br />

mais novo, que na época chegara a manifestar-se num ataque ao bebê. Tratava<br />

o irmão com muita consideração; mas alguns estranhos atos fortuitos, com os<br />

quais feriu gravemente animais que amava, como seu cão de caça ou pássaros<br />

de que cuidava muito bem, podiam ser entendidos como ecos dos impulsos<br />

hostis para com o irmão menor.<br />

Esse paciente contou que certa vez, na época do ataque ao irmão odiado,<br />

jogara pela janela da casa de campo toda a louça que pôde alcançar. O mesmo<br />

episódio da infância que Goethe relata em Poesia e verdade! Devo informar que<br />

meu paciente era estrangeiro e não familiarizado com a cultura alemã; não<br />

havia chegado a ler a autobiografia de Goethe.<br />

Naturalmente, essa informação levou-me à tentativa de interpretar a recordação<br />

infantil de Goethe no sentido que a história do paciente sugeria. Mas<br />

pode-se demonstrar que existiam na infância do poeta as condições necessárias<br />

para tal concepção? É certo que o próprio Goethe vê o incentivo dos irmãos<br />

Ochsenstein como responsável por sua traquinagem. Mas sua narrativa mesma<br />

dá a entender que os vizinhos adultos apenas o encorajaram a prosseguir seu<br />

ato. O começo fora espontâneo, e a motivação que ele oferece — “como não<br />

sabia mais o que fazer com eles” — pode ser vista, sem exagero, como admissão<br />

de que na época em que escreveu, e provavelmente já muitos anos antes,<br />

ele não conhecia um motivo eficiente para a sua conduta.<br />

Sabe-se que Johann Wolfgang e sua irmã Cornelia foram os mais velhos de<br />

toda uma série de filhos de saúde frágil, e os únicos que sobreviveram. O dr.<br />

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