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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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ela facilmente transfere o interesse dessa matéria para aquela nova, que lhe<br />

surge como o mais importante presente na vida. Quem duvida dessa derivação<br />

do presente pode consultar sua experiência na clínica psicanalítica, estudar os<br />

presentes que como médico recebe do paciente, e atentar para as tempestuosas<br />

transferências que podem ser desperta<strong>das</strong> por um presente seu ao paciente.<br />

De modo que o interesse nas fezes continua em parte como interesse no<br />

dinheiro, e em parte é transposto para o desejo de ter filho. Nesse desejo de<br />

filho convergem um impulso erótico-anal e um genital (inveja do pênis). Mas<br />

o pênis também possui uma importância erótico-anal independente do interesse<br />

na criança. A relação entre o pênis e o canal de membrana mucosa por<br />

ele preenchido e excitado já é prefigurada na fase pré-genital, sádico-anal. O<br />

bolo fecal — ou “vara de cocô”, na expressão de um paciente — é por assim<br />

dizer o primeiro pênis, e a mucosa por ele excitada, a do reto. Há pessoas cujo<br />

erotismo anal permanece forte e inalterado até a época da pré-puberdade (dez<br />

a doze anos); delas ficamos sabendo que já nessa fase pré-genital desenvolvem,<br />

em fantasias e em jogos perversos, uma organização análoga à genital, na qual<br />

pênis e vagina são representados pela vara fecal e o intestino. Em outras<br />

pessoas — neurótico-obsessivas — podemos conhecer o resultado de uma degradação<br />

regressiva da organização genital. Manifesta-se no fato de toda<br />

fantasia originalmente concebida no plano genital ser transposta para o anal, o<br />

pênis ser substituído pela vara de fezes, a vagina pelo intestino.<br />

Quando o interesse pelas fezes retrocede de modo normal, a analogia orgânica<br />

aqui apresentada tem o efeito de transferi-lo para o pênis. Se depois, nas<br />

pesquisas sexuais [infantis], descobre-se que a criança nasceu do intestino, ela<br />

se torna o principal herdeiro do erotismo anal, mas o precursor da criança foi o<br />

pênis, tanto nesse como em outro sentido.<br />

Estou certo de que agora se tornou impossível abarcar to<strong>das</strong> as múltiplas<br />

relações da série excremento—pênis—criança, e por isso tentarei remediar a<br />

falta com uma representação gráfica, em cuja discussão o mesmo material pode<br />

ser apreciado novamente, numa outra sequência. É pena que esse recurso<br />

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