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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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eivindicar a mesma certeza dos dois anteriores, a extensão do conceito de<br />

sexualidade e a tese do narcisismo. Essas inovações foram transposições diretas<br />

da observação para a teoria, sem maiores fontes de erros do que as inevitáveis<br />

nesses casos. É certo que também a asserção do caráter regressivo dos instintos<br />

baseia-se em material observado, isto é, nos fatos da compulsão à repetição.<br />

Mas talvez eu tenha superestimado o significado deles. De toda maneira, só é<br />

possível levar adiante essa ideia combinando repetidamente o factual e o apenas<br />

excogitado, assim afastando-nos da observação. Sabemos que quanto mais<br />

isso é feito, enquanto se constrói uma teoria, menos confiável é o resultado final,<br />

mas não há como especificar o grau de incerteza. Podemos nos sair bem<br />

ou equivocarmo-nos vergonhosamente. Em trabalhos desse tipo, não confio<br />

muito no que chamam de “intuição”; o que dela pude ver pareceu-me antes o<br />

produto de uma certa imparcialidade do intelecto. Mas infelizmente é raro ser<br />

imparcial quando se trata <strong>das</strong> coisas últimas, dos grandes problemas da ciência<br />

e da vida. Creio que cada um é aí dominado por preferências bastante enraiza<strong>das</strong><br />

interiormente, cujo jogo faz, sem o saber, com sua especulação. Havendo<br />

tão bons motivos para a desconfiança, a atitude para com os resultados de<br />

nosso empenho intelectual terá de ser uma fria benevolência. Mas acrescento<br />

que uma autocrítica como esta não obriga a uma tolerância especial para com<br />

opiniões divergentes. Podemos rejeitar implacavelmente teorias que são contraria<strong>das</strong><br />

já nos primeiros passos da análise do que observamos, e ao mesmo<br />

tempo saber que a validade <strong>das</strong> que defendemos é apenas provisória. No julgamento<br />

de nossa especulação sobre os instintos de vida e de morte, não incomodaria<br />

muito que nela sucedam tantos processos estranhos e pouco evidentes,<br />

como um instinto ser expulso por outros, dirigir-se do Eu para um objeto<br />

e coisas assim. Isto se deve a que somos obrigados a trabalhar com os termos<br />

científicos, ou seja, com a linguagem figurada própria da psicologia (mais<br />

corretamente, da psicologia <strong>das</strong> profundezas). De outra forma não poderíamos<br />

descrever os processos em questão; de fato, não os teríamos sequer percebido.<br />

As falhas de nossa descrição provavelmente desapareceriam se já pudéssemos<br />

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