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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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Refiro-me, naturalmente, à teoria que Platão faz Aristófanes exprimir no<br />

Simpósio, que trata não só da origem do instinto sexual, mas também de sua<br />

mais importante variação relativa ao objeto. 33<br />

“Pois antes o nosso corpo não era formado exatamente como hoje; era<br />

muito diferente. Em primeiro lugar havia três sexos, não só o masculino e o<br />

feminino, como agora, mas também um terceiro, que unia os dois […] o<br />

homem-fêmea […].” Mas nestes seres tudo era duplo, tinham quatro mãos e<br />

quatro pés, dois rostos, duplos genitais etc. Então Zeus decidiu parti-los em<br />

dois, “como se divide os marmelos para fazer conserva […]. Como todos se<br />

achavam então divididos, o anseio impeliu as duas metades a juntar-se: elas se<br />

enlaçavam com as mãos, abraçavam-se, desejando fundir-se […]”. 34<br />

Devemos seguir a deixa do filósofo-poeta e arriscar a suposição de que a<br />

substância viva, ao ser animada, foi desmembrada em pequenas partículas que<br />

desde então buscam reunir-se de novo mediante os instintos sexuais? De que<br />

esses instintos, nos quais prossegue a afinidade química da matéria inanimada,<br />

gradualmente superam, atravessando o reino dos protozoários, as dificuldades<br />

que opõe a tal esforço um meio carregado de estímulos perigosos para a vida,<br />

que os obriga a formar uma camada cortical protetora? Que essas dispersa<strong>das</strong><br />

partículas da substância viva alcançam desse modo a multicelularidade e enfim<br />

transferem às células germinais, em elevada concentração, o instinto para<br />

reunir-se? Acho que neste ponto devemos parar.<br />

Mas não sem acrescentarmos algumas palavras de reflexão crítica. Talvez<br />

me perguntem se e até onde estou convencido <strong>das</strong> hipóteses aqui apresenta<strong>das</strong>.<br />

A resposta seria que eu próprio não estou convencido nem peço que outros<br />

nelas acreditem. Ou, mais precisamente: não sei até onde creio nelas. Pareceme<br />

que o fator afetivo da convicção não precisa, de forma alguma, ser considerado<br />

aqui. Podemos nos entregar a um curso de pensamento, acompanhá-lo<br />

até onde ele for, somente por curiosidade ou, se quiserem, como advocatus diaboli<br />

[advogado do diabo] que não se vendeu ao diabo por isso. Não discuto<br />

que o terceiro passo na teoria dos instintos, que aqui empreendo, não pode<br />

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