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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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desaparecerá com o tempo. Uma piada ouvida pela segunda vez quase não terá<br />

efeito, uma representação teatral nunca obterá, na segunda vez, a impressão<br />

que deixou na primeira; e dificilmente um adulto será persuadido a reler de<br />

imediato um livro que o agradou bastante. A novidade sempre será a condição<br />

para se fruir algo. Mas a criança não se cansará de exigir do adulto a repetição<br />

de uma brincadeira que este lhe mostrou ou realizou com ela, até que ele se recuse<br />

a fazê-lo, exausto; e, ao lhe contarem uma bela história, quer sempre<br />

ouvir de novo aquela mesma, em vez de outra, insiste em que a repetição seja<br />

idêntica e corrige qualquer alteração perpetrada pelo narrador, com a qual ele<br />

talvez esperasse algum êxito. Nisso não é contrariado o princípio do prazer;<br />

obviamente a repetição, o reencontro do idêntico, é em si mesma fonte de<br />

prazer. Já no analisando se torna claro que a compulsão de repetir na transferência<br />

episódios de sua infância desconsidera de todo modo o princípio do<br />

prazer. O doente se comporta infantilmente, mostrando-nos que os traços de<br />

lembrança reprimidos de suas experiências primevas não se acham nele<br />

presentes em estado ligado, e mesmo não são capazes, em certa medida, de<br />

obedecer ao processo secundário. A esse não ligamento devem eles também<br />

sua capacidade de formar, apegando-se aos vestígios diurnos, uma fantasiadesejo<br />

que se apresenta no sonho. * A mesma compulsão à repetição nos<br />

aparece frequentemente como obstáculo terapêutico, quando queremos promover<br />

a completa separação do médico por parte do paciente, no final do<br />

tratamento, e é de supor que o obscuro medo que sentem os não familiarizados<br />

com a psicanálise, de despertar algo que em sua opinião deveria ficar dormindo,<br />

representa, no fundo, o receio de que surja tal compulsão demoníaca.<br />

Mas de que modo se relacionam o caráter impulsivo e a compulsão à repetição?<br />

Aqui se nos impõe a ideia de que viemos a deparar com uma característica<br />

geral dos instintos, talvez de toda a vida orgânica, que até agora não foi<br />

claramente reconhecida ou, pelo menos, explicitamente enfatizada. Um instinto<br />

seria um impulso, presente em todo organismo vivo, tendente à restauração de um<br />

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