FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14
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afinal, confiamos o domínio sobre o curso dos processos de excitação na vida mental. IV O que se segue é especulação, às vezes especulação extremada, que cada um pode apreciar ou dispensar, conforme a atitude que lhe for própria. É, além do mais, uma tentativa de explorar consequentemente uma ideia, por curiosidade de ver aonde levará. A especulação psicanalítica parte da impressão, recebida na investigação dos processos inconscientes, de que a consciência pode não ser a característica geral dos processos psíquicos, mas apenas uma função particular deles. Em termos metapsicológicos, ela afirma que a consciência é realização de um sistema especial, que denomina Cs. Dado que a consciência fornece, essencialmente, percepções de excitações vindas do mundo externo e sensações de prazer e desprazer que podem se originar apenas do interior do aparelho psíquico, podese atribuir ao sistema P-Cs uma localização espacial. Ele deve estar na fronteira entre exterior e interior, voltado para o mundo externo e envolvendo os outros sistemas psíquicos. Notamos que com essas hipóteses não arriscamos algo novo, mas acompanhamos a anatomia cerebral, que situa a “sede” da consciência no córtex, a camada mais exterior do cérebro, que envolve as demais. A anatomia cerebral não precisa ocupar-se da razão pela qual — anatomicamente falando — a consciência está alojada justamente na superfície do cérebro, em vez de bem abrigada em algum íntimo recôndito seu. Talvez consigamos ir mais longe, na busca de explicação para esse local em nosso sistema P-Cs. A consciência não é a única peculiaridade que nós conferimos aos processos que têm lugar nesse sistema. Apoiados nas impressões de nossa experiência psicanalítica, supomos que todas as ocorrências excitatórias dos outros sistemas deixam neles, como fundamento da memória, traços duradouros, vestígios 136/311
de lembranças, portanto, que nada têm a ver com o processo de tornar-se consciente. Eles são, com frequência, mais fortes e mais permanentes quando o evento que os deixa nunca atinge a consciência. Mas achamos difícil crer que tais marcas duradouras de excitação também se produzam no sistema P-Cs. Logo elas restringiriam a aptidão do sistema para acolher novas excitações, 10 caso sempre permanecessem conscientes; de outro modo, tornando-se inconscientes nos poriam diante da tarefa de explicar a existência de processos inconscientes num sistema cujo funcionamento é, em todo o resto, acompanhado do fenômeno da consciência. Não teríamos modificado nem ganhado nada, por assim dizer, com a hipótese de relegar o tornar-se consciente para um sistema especial. Embora esta não seja absolutamente uma consideração decisiva, pode nos levar à conjectura de que tornar-se consciente e deixar traço de lembrança são incompatíveis dentro do mesmo sistema. Assim poderíamos dizer que no sistema Cs o evento excitatório torna-se consciente, mas não deixa marca duradoura; todas as suas marcas, nas quais se apoia a recordação, seriam produzidas nos sistemas adjacentes internos, ao transmitir-se para eles a excitação. Nesse sentido foi esboçado o esquema que inseri na parte especulativa de minha Interpretação dos sonhos, em 1900. Ao considerar quão pouco sabemos por outras fontes sobre a origem da consciência, terá de ser concedida, à tese de que a consciência surge no lugar do traço de lembrança, pelo menos a importância de uma afirmação que de algum modo é precisa. O que distinguiria o sistema Cs, portanto, seria a peculiaridade de que nele, diferentemente de todos os demais sistemas psíquicos, o processo de excitação não deixa uma permanente mudança dos elementos, mas como que se exaure no fenômeno do tornar-se consciente. Um tal desvio da norma geral pede explicação mediante um fator que entra em consideração apenas para esse sistema, e esse fator, que faltaria nos demais sistemas, bem poderia ser a localização exposta do sistema Cs, sua imediata vizinhança com o mundo exterior. 137/311
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O que se segue é especulação, às vezes especulação extremada, que cada um<br />
pode apreciar ou dispensar, conforme a atitude que lhe for própria. É, além do<br />
mais, uma tentativa de explorar consequentemente uma ideia, por curiosidade<br />
de ver aonde levará.<br />
A especulação psicanalítica parte da impressão, recebida na investigação<br />
dos processos inconscientes, de que a consciência pode não ser a característica<br />
geral dos processos psíquicos, mas apenas uma função particular deles. Em termos<br />
metapsicológicos, ela afirma que a consciência é realização de um sistema<br />
especial, que denomina Cs. Dado que a consciência fornece, essencialmente,<br />
percepções de excitações vin<strong>das</strong> do mundo externo e sensações de prazer e desprazer<br />
que podem se originar apenas do interior do aparelho psíquico, podese<br />
atribuir ao sistema P-Cs uma localização espacial. Ele deve estar na fronteira<br />
entre exterior e interior, voltado para o mundo externo e envolvendo os outros<br />
sistemas psíquicos. Notamos que com essas hipóteses não arriscamos algo<br />
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no córtex, a camada mais exterior do cérebro, que envolve as demais. A<br />
anatomia cerebral não precisa ocupar-se da razão pela qual — anatomicamente<br />
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mais longe, na busca de explicação para esse local em nosso sistema P-Cs.<br />
A consciência não é a única peculiaridade que nós conferimos aos processos<br />
que têm lugar nesse sistema. Apoiados nas impressões de nossa experiência<br />
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deixam neles, como fundamento da memória, traços duradouros, vestígios<br />
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