FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14
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esistência aos esforços da terapia, ele mesmo não procura senão, apesar da pressão que sobre ele pesa, abrir caminho rumo à consciência ou à descarga através da ação real. A resistência no tratamento procede dos mesmos elevados sistemas e camadas da psique que anteriormente efetuaram a repressão. Mas como os motivos das resistências e estas mesmas, segundo a experiência, são, no início, inconscientes na terapia, somos instados a corrigir uma inadequação de nossa maneira de expressão. Evitaremos a falta de clareza se colocarmos em oposição não o consciente e o inconsciente, mas sim o Eu coerente e aquilo que é reprimido. Não há dúvida de que muito do Eu é em si mesmo inconsciente, justamente o que se pode chamar de âmago do Eu; apenas uma pequena parte dele é coberta pelo termo “pré-consciente”. Após substituir uma forma de expressão puramente descritiva por uma sistemática ou dinâmica, podemos dizer que a resistência do analisando vem de seu Eu, e logo percebemos que a compulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido inconsciente. Ela provavelmente não podia manifestar-se até que o trabalho terapêutico, vindolhe ao encontro, afrouxou a repressão. 7 Sem dúvida, a resistência do Eu consciente e pré-consciente está a serviço do princípio do prazer, pois ele quer evitar o desprazer que seria gerado pela liberação do reprimido, e nós nos esforçamos, apelando ao princípio da realidade, para conseguir a admissão desse desprazer. Mas em que relação com o princípio do prazer se acha a compulsão de repetição, a manifestação de força do reprimido? É claro que a maior parte do que a compulsão de repetição faz reviver causa necessariamente desprazer ao Eu, pois traz à luz atividades de impulsos instintuais reprimidos, mas é um desprazer que já consideramos, que não contraria o princípio do prazer, é desprazer para um sistema e, ao mesmo tempo, satisfação para o outro. Mas o fato novo e digno de nota, que agora temos que descrever, é que a compulsão à repetição também traz de volta experiências do passado que não possibilitam prazer, que também naquele tempo não podem ter sido satisfações. 132/311
O primeiro florescimento da vida sexual infantil estava fadado ao declínio graças à incompatibilidade entre os seus desejos e a realidade e à insuficiência do estágio infantil de desenvolvimento. Ele terminou em circunstâncias penosas e com sensações profundamente dolorosas. A perda do amor e o fracasso deixaram atrás de si um dano permanente na autoestima, em forma de ferida narcísica, que é, segundo minha experiência e também os estudos de Marcinowski, 8 a mais forte contribuição ao “sentimento de inferioridade”, frequente nos neuróticos. A pesquisa sexual, à qual o desenvolvimento físico da criança impõe limites, não levou a uma conclusão satisfatória; daí o lamento posterior: “Não consigo realizar nada, nada dá certo para mim”. O laço amoroso, geralmente com o genitor do sexo oposto, sucumbiu à desilusão, à inútil espera por satisfação, ao ciúme quando nasceu mais uma criança, algo que demonstrou inequivocamente a infidelidade do(a) amado(a); sua própria tentativa de fazer um filho, empreendida com trágica seriedade, fracassou vergonhosamente; a diminuição do afeto que lhe mostravam, a maior exigência da educação, palavras sérias e um eventual castigo lhe revelaram enfim todo o desdém de que era alvo. Eis umas poucas formas, sempre recorrentes, de como chega ao fim o típico amor desse período da infância. Todas essas situações não desejadas e emoções dolorosas são repetidas pelo neurótico na transferência e revividas com grande habilidade. Eles procuram interromper o tratamento incompleto, sabem criar de novo a impressão de desdém, forçar o médico a dizer-lhes palavras duras e conduzir-se friamente com eles, encontram objetos adequados para o seu ciúme, substituem o filho ardentemente desejado dos primeiros tempos pela intenção ou a promessa de um enorme presente, que geralmente é tão pouco real como aquele. Nenhuma dessas coisas podia proporcionar prazer naquele tempo; seria de crer que hoje produziriam menor desprazer se emergissem como lembranças ou em sonhos, em vez de se configurarem como novas experiências. Trata-se, naturalmente, da ação de instintos que deveriam levar à satisfação, mas não trouxe frutos a 133/311
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sistemas e cama<strong>das</strong> da psique que anteriormente efetuaram a repressão. Mas<br />
como os motivos <strong>das</strong> resistências e estas mesmas, segundo a experiência, são,<br />
no início, inconscientes na terapia, somos instados a corrigir uma inadequação<br />
de nossa maneira de expressão. Evitaremos a falta de clareza se colocarmos em<br />
oposição não o consciente e o inconsciente, mas sim o Eu coerente e aquilo<br />
que é reprimido. Não há dúvida de que muito do Eu é em si mesmo inconsciente,<br />
justamente o que se pode chamar de âmago do Eu; apenas uma<br />
pequena parte dele é coberta pelo termo “pré-consciente”. Após substituir uma<br />
forma de expressão puramente descritiva por uma sistemática ou dinâmica, podemos<br />
dizer que a resistência do analisando vem de seu Eu, e logo percebemos<br />
que a compulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido inconsciente. Ela<br />
provavelmente não podia manifestar-se até que o trabalho terapêutico, vindolhe<br />
ao encontro, afrouxou a repressão. 7<br />
Sem dúvida, a resistência do Eu consciente e pré-consciente está a serviço<br />
do princípio do prazer, pois ele quer evitar o desprazer que seria gerado pela<br />
liberação do reprimido, e nós nos esforçamos, apelando ao princípio da realidade,<br />
para conseguir a admissão desse desprazer. Mas em que relação com o<br />
princípio do prazer se acha a compulsão de repetição, a manifestação de força<br />
do reprimido? É claro que a maior parte do que a compulsão de repetição faz<br />
reviver causa necessariamente desprazer ao Eu, pois traz à luz atividades de<br />
impulsos instintuais reprimidos, mas é um desprazer que já consideramos, que<br />
não contraria o princípio do prazer, é desprazer para um sistema e, ao mesmo<br />
tempo, satisfação para o outro. Mas o fato novo e digno de nota, que agora<br />
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do passado que não possibilitam prazer, que também naquele tempo<br />
não podem ter sido satisfações.<br />
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