FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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ealização desse desejo na cena primária conjurada até a recusa agora inevitável do desejo e a repressão. A amplitude e a minúcia desta exposição, a que fui obrigado pelo empenho de oferecer ao leitor um equivalente para a força demonstrativa de uma análise conduzida pessoalmente, talvez o desencorajem também de exigir a publicação de análises que se estenderam por vários anos. 18 Talvez a melhor maneira de levar em conta a declaração do paciente seja supor que o objeto de sua observação foi primeiramente um coito em posição normal, que desperta a impressão de um ato sádico. Somente depois a posição teria sido trocada, de modo que ele teve oportunidade para outras observações e julgamentos. Porém essa suposição não foi confirmada, e tampouco me parece imprescindível. Não devemos perder de vista, mercê da abreviada exposição do texto, a situação real de que 25 anos depois o analisando empresta, às impressões e impulsos dos seus quatro anos, palavras que naquele tempo não teria encontrado. Negligenciando-se tal advertência, pode facilmente parecer cômico e inverossímil que um garoto de quatro anos fosse capaz de tais juízos objetivos e pensamentos cultivados. Este é simplesmente um segundo caso de efeito a posteriori. Com um ano e meio a criança recebe uma impressão a que não pode reagir o bastante, só a compreende, só é comovido por ela na sua revivescência aos quatro anos, e somente na análise, duas décadas depois, pode apreender, com sua atividade mental consciente, o que ocorreu então dentro de si. O analisando ignora justificadamente as três fases temporais e coloca seu Eu atual na situação há muito acontecida. Nós o acompanhamos nisso, pois na auto-observação e interpretação correta o efeito há de ser como seria caso fosse possível negligenciar a distância entre a segunda e a terceira fase. E tampouco dispomos de outro meio para descrever os eventos da segunda fase. 19 Mais adiante, ao lidar com seu erotismo anal, saberemos como ele continuou a se ocupar dessa parte do problema. * "Recusa": Ablehnung — nas versões consultadas: repulsa, desautorización, ripudio, récusation, repudiation. ** Cotejando este trecho com o da p. 53, nota-se que, embora use aspas, Freud faz algumas pequenas alterações. 20 Uma passagem da primeira edição da minha Interpretação dos sonhos (1900) pode mostrar como me ocupei bem cedo deste problema. Ali se encontra, à p. 126, sobre a análise da fala que 112/311

aparece num sonho: Isso não se pode ter de novo; esta fala vem de mim mesmo; alguns dias antes eu havia explicado à paciente que "as mais antigas vivências infantis não podem ser tidas de novo como tais, mas que são substituídas por 'transferências' e sonhos na análise" [Gesammelte Werke ii/iii, p. 190; capítulo v, seção A, o primeiro dos sonhos "inofensivos"]. 21 O mecanismo do sonho não pode ser influenciado, mas o material do sonho pode ser parcialmente dirigido. * No original, essa oração diz: "[…] für die immer noch eine Rolle im Kräftespiel der analytischen Behandlung gesucht wird". Na edição Standard inglesa, Strachey a entende de modo um pouco diferente: "[…] which is always having new parts assigned to it in the play of forces involved in analytic treatment"; os demais tradutores concordam com a nossa leitura. 22 Por bons motivos prefiro dizer: "O fato de a libido afastar dos conflitos atuais". 23 Cf. p. 29. * Estes colchetes são do próprio autor, para indicar as passagens que acrescentou em 1918, quatro anos após a redação do texto (cf. o final de sua nota à p. 14). São apenas duas passagens: esta, que vai até o final deste capítulo, e outra no capítulo viii, entre as pp. 127 e 130. * Non liquet: "Não está claro" — sentença que se emite num julgamento, quando as provas não são concludentes. 24 Várias vezes tentei atrasar em ao menos um ano a história do paciente, isto é, situar a sedução aos quatro anos e meio, o sonho no quinto aniversário etc. No tocante aos intervalos não foi possível obter nada, o paciente ficou inflexível também nisso, sem poder eliminar minha dúvida. Quanto à impressão que produz a sua história, e todas as discussões e conclusões dela derivadas, um tal adiamento de um ano seria por certo indiferente. * Como se sabe, este foi um episódio ocorrido no monte das Oliveiras, segundo a mitologia cristã. Freud informou aos tradutores da edição Standard inglesa que o engano era do próprio paciente. 25 Especialmente que lhe batiam no pênis. Ver p. 37. 26 Este sintoma, como ainda veremos, tinha se desenvolvido aos seis anos, quando ele já era capaz de ler. 113/311

aparece num sonho: Isso não se pode ter de novo; esta fala vem de mim mesmo; alguns dias antes<br />

eu havia explicado à paciente que "as mais antigas vivências infantis não podem ser ti<strong>das</strong> de novo<br />

como tais, mas que são substituí<strong>das</strong> por 'transferências' e sonhos na análise" [Gesammelte<br />

Werke ii/iii, p. 190; capítulo v, seção A, o primeiro dos sonhos "inofensivos"].<br />

21 O mecanismo do sonho não pode ser influenciado, mas o material do sonho pode ser parcialmente<br />

dirigido.<br />

* No original, essa oração diz: "[…] für die immer noch eine Rolle im Kräftespiel der analytischen<br />

Behandlung gesucht wird". Na edição Standard inglesa, Strachey a entende de modo um pouco<br />

diferente: "[…] which is always having new parts assigned to it in the play of forces involved in<br />

analytic treatment"; os demais tradutores concordam com a nossa leitura.<br />

22 Por bons motivos prefiro dizer: "O fato de a libido afastar dos conflitos atuais".<br />

23 Cf. p. 29.<br />

* Estes colchetes são do próprio autor, para indicar as passagens que acrescentou em 1918,<br />

quatro anos após a redação do texto (cf. o final de sua nota à p. <strong>14</strong>). São apenas duas passagens:<br />

esta, que vai até o final deste capítulo, e outra no capítulo viii, entre as pp. 127 e 130.<br />

* Non liquet: "Não está claro" — sentença que se emite num julgamento, quando as provas não<br />

são concludentes.<br />

24 Várias vezes tentei atrasar em ao menos um ano a história do paciente, isto é, situar a sedução<br />

aos quatro anos e meio, o sonho no quinto aniversário etc. No tocante aos intervalos<br />

não foi possível obter nada, o paciente ficou inflexível também nisso, sem poder eliminar<br />

minha dúvida. Quanto à impressão que produz a sua história, e to<strong>das</strong> as discussões e conclusões<br />

dela deriva<strong>das</strong>, um tal adiamento de um ano seria por certo indiferente.<br />

* Como se sabe, este foi um episódio ocorrido no monte <strong>das</strong> Oliveiras, segundo a mitologia<br />

cristã. Freud informou aos tradutores da edição Standard inglesa que o engano era do próprio<br />

paciente.<br />

25 Especialmente que lhe batiam no pênis. Ver p. 37.<br />

26 Este sintoma, como ainda veremos, tinha se desenvolvido aos seis anos, quando ele já era<br />

capaz de ler.<br />

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