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FACULDADE SETE DE SETEMBRO– FASETE
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
HABILITAÇÃO EM PORTUGUÊS E INGLÊS
ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS
PRECONCEITO E HIPOCRISIA EM O MULATO DE
ALUÍSIO DE AZEVEDO
PAULO AFONSO
DEZEMBRO / 2009

ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS
PRECONCEITO E HIPOCRISIA EM O MULATO DE
ALUÍSIO DE AZEVEDO
PAULO AFONSO
DEZEMBRO /2009.2
Monografia apresentada como prérequisito
para a conclusão do curso
de Licenciatura em Letras com
Habilitação em Português e Inglês,
da Faculdade Sete de Setembro -
FASETE. Sob a orientação da
profª. Ms. Maria do Socorro Pereira
de Almeida.

FASETE - FACULDADE SETE DE SETEMBRO
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
HABILITAÇÃO – PORTUGUÊS / INGLÊS
PARECE DA COMISSÃO EXAMINADORA
DE DEFESA DE MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO DE
ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS
“PRECONCEITO E HIPOCRISIA EM O MULATO DE
ALUÍSIO DE AZEVEDO”
A comissão examinadora, composta pelos professores abaixo, sob a presidência da
primeira, considera a discente ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS
APROVADA.
Paulo Afonso, 02 de dezembro de 2009.
______________________________________________________
Profa. Maria do Socorro Pereira de Almeida, Mestre (Orientadora).
_______________________________________________________
Profa. Isa Ursole Bezerra de Brito, Especialista.
_______________________________________________________
Prof. Sávio Roberto Fonseca de Freitas, Mestre.

DEDICATÓRIA
Dedico este estudo à minha mãe Carmelita; ao meu pai Raimundo; ao meu padrasto
Henrique; aos meus irmãos; Reginaldo e Amilton; às minhas irmãs, Aires, Rosineide
Rosileide e Rosilene; aos meus sobrinhos; sobrinhas e afilhadas; ao meu esposo,
Adriano; à minha cunhada Renata; aos meus amigos, Gilvan e Raquel pelo carinho
e incentivo; às minhas amigas, Luciana e Maria Lúcia pelo companheirismo, parceria
e amizade ao longo desses quatro anos; as minhas amigas, Adriana Nóia e
Alexandra Márcia; aos meus amigos e colegas de classe; aos meus amigos de
trabalho; à minha orientadora Socorro Almeida; aos professores da FASETE; à
minha professora do colegial, Gorete e a todos que contribuíram direta e
indiretamente para a concretização desse objetivo.

AGRADECIMENTO
Agradeço a realização deste trabalho monográfico primeiramente a Deus, nosso
divino criador, que me permitiu, me iluminou e me deu forças para conclusão de
mais uma etapa em minha vida;
Aos meus pais Carmelita e Henrique pelo amor, carinho, dedicação, incentivo que
sempre me deram;
Aos meus irmãos, Aires, Amilton, Reginaldo, Rosineide, Rosileide e Rosilene, bem
como toda a minha família que me amparou com amor e carinho. Destacando minha
irmã, Rosineide e o seu esposo, Claudionor pela hospitalidade em me receberem
em sua residência nos momentos delicados dessa jornada;
Aos meus sobrinhos, Tiago, Cecília e Ayslan, Arthur, Hebert e Daniela que, de certa
forma, me auxiliaram na construção desse trabalho;
Ao meu esposo, Adriano por sua colaboração, compreensão e paciência durante
esses quatro anos em que, de certa forma, estive um pouco ausente.
À minha sogra, Geruzia e a minha cunhada, Renata pela disponibilidade e por me
concederem seus equipamentos eletrônicos nos momentos difíceis em que os meus
não corresponderam..
Aos meus amigos, o casal Gilvan e Raquel pelo incentivo, apoio e carinho;
Às minhas amigas de faculdade Carmilândia, Cleide, Ezilva, Fabrícia, Josimário,
Luana, Luciana, Maria Lúcia, Marivania, Maurício, Valdirene e a todos meus colegas
de classe pela colaboração e pelos bons momentos;

Às minhas amigas Nivaneide, Fábia, Mara, Normélia e Adriana dos Santos e a todos
meus colegas de trabalho; aos Srs. Sebastião e Ronnie Leandro de Morais pela
oportunidade e compreensão.
A todos os professores do curso de letras desde início ao término contribuíram para
o meu crescimento acadêmico, pessoal e profissional.
À professora Sandra Silva, responsável por despertar -me o interesse e gosto pela
literatura; aos professores Kárpio Siqueira e Sandra Marcula pelas palavras de
confiança e estímulo.
Em especial à professora Socorro Almeida, peça fundamental para a conclusão
deste trabalho monográfico, que mesmo assoberbada de compromissos se dispôs a
me orientar, me encorajando e incentivando a alcançar este objetivo;
A todos os colaboradores desta instituição, Senhor Adelmo, Gilson, Virgínia, Camila
e Senhor Domingos por sempre me receberem com carinho e respeito.
À FASETE pelo curso de Letras, que me proporcionou um leque de conhecimentos.
A todos, os meus sinceros agradecimentos!

“Através da concepção artística, a
verdade real deforma-se para se tornar
verdade artística”
(Fidelino de Figueiredo)

RESUMO
O presente trabalho monográfico evidenciará a representação do preconceito e da
hipocrisia social, especialmente a condição do negro no século XIX, no romance “O
mulato”, de Aluísio Azevedo, o autor nos traz a realidade do negro perante a
sociedade maranhense de seu tempo e que se reflete na contemporaneidade. Para
melhor compreensão e realização desta pesquisa fez-se necessário desmembrá-la
em três capítulos: O Romance Realista do Século XIX; A Biografia do Autor; e a
análise do romance O Mulato. Percebemos que o autor denuncia uma cidade
repleta de preconceitos, uma religião corrompida e uma sociedade gananciosa,
assim o romance passa a ser um objeto de combate a esses aspectos repugnantes
da nossa realidade.
Palavra-chave: Preconceito Racial, O Mulato, Hipocrisia, Narrativa, Aluísio
Azevedo.

ABSTRACT
The present monographic work will evidence the representation of the prejudice and
the social hypocrisy, especially the condition of the black people in the XIX century,
in the romance “O Mulato”, written by Aluísio Azevedo, the author shows the reality
of the black people before the maranhense society of that time and that it is reflected
in the contemporaneity. For a better understanding and accomplishment of this
research it was necessary to disband it in three chapters: The Realistic Romance of
the XIX Century; The Biography of the Author; and the analysis of the romance “O
Mulato”. We perceive that the author denounces a city which is replete of prejudice, a
corrupted religion and a greedy society, thus the romance starts to be an object of
combat to these disgusting aspects of our reality.
Keywords: Racial prejudice, “O Mulato”, hypocrisy, Narrative, Aluísio Azevedo.

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10
1 - ROMANCE REALISTA DO SÉCULO XIX
1.1 - CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................... 13
1.2 - AS FORÇAS FILOSÓFICAS QUE EMBASARAM O PERÍODO...................... 15
1.3 - O ROMANCE REALISTA BRASILEIRO ......................................................... 19
1.4 - O COMPROMISSO COM A REALIDADE .........................................................23
1.5 - A TRAMA REALISTA........................................................................................ 24
1.6- A REPRESENTAÇÃO DO HOMEM E DA MULHER NO REALISMO DE
SÉCULO XIX ...........................................................................................................27
2 - ALUÍSIO AZEVEDO: ESTILO E ESTÉTICA
2.1 - VIDA ................................................................................................................ 33
2.2 - OBRAS ............................................................................................................. 36
2.3 - ESTILO E ESTÉTICA ....................................................................................... 38
3 - DESVENDANDO O ROMANCE O MULATO
3.1- PRECONCEITO E HIPOCRISIA SOCIAL EM O MULATO ................................. 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 51
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 53
ANEXOS .................................................................................................................. 54

INTRODUÇÃO
Pretende-se através da leitura do romance O Mulato, de Aluísio de Azevedo, revelar
como era a sociedade no final do século XIX. Azevedo retrata através da literatura,
uma cidade tradicionalista, hipócrita e preconceituosa. Com base nessa tese
despertou–se o interesse de aliar-se a obra Azevediana para desvendar as
mazelas sociais da época, que trazem o mestiço como figura central. Trata-se de
uma pesquisa bibliográfica feita a partir de livros e sites da internet.
À título de melhor compreensão do tema em questão, esse trabalho monográfico foi
divido em três capítulos. No primeiro, abordaremos como era o romance
realista/naturalista da época, abrangendo vários aspectos como o contexto histórico,
as forças filosóficas que embasaram o período naturalista, o romance Realista
Brasileiro, o compromisso com a realidade, a trama realista e a representação do
homem e da mulher no realismo/naturalismo de século XIX.
No segundo capítulo trataremos da biografia de Aluísio de Azevedo, analisando um
pouco de sua trajetória de vida, conhecendo suas obras, como também o seu estilo,
ou seja, sua estética, seu comportamento enquanto escritor, confrontando suas
experiências de vida com suas obras literárias. Ele introduziu o naturalismo no Brasil
com a publicação do romance O Mulato, que chocou a sociedade Maranhense pela
crítica feita ao Clero e pela denúncia do preconceito racial.
Aluísio de Azevedo faz uso do método da descrição que é muito marcante em
suas obras, a descrição é uma das características do período realista/naturalista
brasileiro, as caricaturas também estão muito presente em seus trabalhos, através
delas Azevedo mostra a verdadeira face das pessoas sem fantasiar.
No terceiro e último capítulo, analisaremos a obra O Mulato, com o intuito de
compreender a crítica social que o escritor maranhense faz através das sátiras ao
inspirar-se nos personagens típicos da sua cidade natal. Desse modo o escritor
despertou a ira dos seus conterrâneos, essa insatisfação ocasionou a sua saída de
São Luís, e com isso o autor chega ao Rio de Janeiro onde atinge o ápice da sua
carreira de escritor, sendo consagrado pelo público e pela crítica carioca.
10

Tais referências serão interessantes para nosso enriquecimento acadêmico e
compreensão de mundo. Nota-se que o objetivo de Aluísio de Azevedo é
desmascarar uma sociedade injusta, mostrando o sistema burguês e clerical,
contrapondo com a miséria e o descaso de uma classe escrava menos favorecida. O
romance é muito rico, ele traz à tona um povo submisso ao Clero e um sistema
capitalista poderoso em que o dinheiro e o preconceito racial contam mais do que a
razão. Pessoas capazes de passar por cima de tudo e de todos, para cumprir com
seu papel social, abrindo mão da felicidade para não ser execrado socialmente.
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12
Capítulo I
O Romance realista do século XIX
“ O Realismo se tingira de naturalismo, no romance e no conto, sempre que
fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das “lei naturais”
que a ciência da época julgava ter codificado”. (BOSI. 1994; P.168).

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO
Este trabalho de pesquisa tem como foco principal investigar, através da literatura,
os aspectos sociais do final do século XIX. Para tal intento analisa - se aqui a obra O
Mulato, de Aluisio de Azevedo, no intuito de evidenciar a hipocrisia e o preconceito
dessa sociedade. Dentro desta perspectiva é necessário que saibamos o que
acontecia com a sociedade nessa época.
Durante a segunda metade do século XIX, houve varias mudanças fundamentais
nos campos políticos, sociais e consequentemente na forma de ser e entender a
nova realidade vivida. Essas mudanças ocorreram de forma lenta e não atingiram
nem todas as regiões do país. Conforme Martins, (2004; p. 226).
A economia açucareira encontra-se em decadência e esta situação
agrava-se ainda mais com a extinção do tráfico negreiro em 1850.
Com isso, o eixo econômico desloca-se para o sul e há um ambiente
favorável ao pensamento liberal, abolicionista e republicano [...]
A citação acima deixa claro que muitas mudanças ocorreram, a forma de governo foi
mudada, foi feita a constituição, através do partido republicano, iniciou-se a
substituição do trabalho escravo pelo trabalhão assalariado, as fazendas de café e
outras lavouras brasileiras modernizaram-se, as cidades cresceram e nelas as
primeiras indústrias instalaram-se.
Nesse período houve, tanto no Brasil quanto em outros paises, descobertas,
invenções e inauguração de varias fabricas que produziam chapéus, sabão, tecidos
de algodão e cerveja, artigos que até então vinham do exterior. Surgiram também as
primeiras greves, pois as condições de trabalho do proletariado eram muito
precárias, a jornada de trabalho era muito extensa, podendo chegar às 16 horas, a
mão de obra infantil e feminina era usada de forma deplorável, não havendo
regulamentação salarial. Coelho explana alguns das invenções e descoberta que
hoje fica difícil de viver sem algumas delas, pois usufruirmos e desfrutamos sem
nem mesmo conhecer suas origens, são elas:
13

[...] 1851 – Giffard inventa a aeronave; 1852 – G. Ottis, o elevador;
1855 – H. Bessemer descobre o aço; ; 1859 – Os primeiros poços de
petróleo começaram a jorrar na Pensilvânia; 1863 – Tellier cria o
motor-frigorífico; 1867 – Mounier, o concreto armado, Sholes, a
máquina de escrever; 1876 - Graham Bell inventa o telefone, surge o
primeiro automóvel e o helicóptero; 1877 – Thomas Edison cria o
telegráfo, os Irmãos Lumière, o cinema; 1878 – E.D. Hughes, o
microfone; 1879 – Edison descobre a lâmpada elétrica; 1885 –
Pasteur dá a público a vacina contra a raiva, Karl Benz inventa o
veículo com motor a explosão; 1895 – Roentgen cria o Raio X;
Marconi, o telégrafo sem fio; 1898 – Pierre e Marie Curie descobrem
o “radium”, John Holland, o submarino.[...] (COELHO. 1994;P.2).
Vale salientar que o desenvolvimento da imprensa, a fundação de cursos jurídicos
de nível superior e a divulgação dos ideais do liberalismo pela Maçonaria
contribuíram muito no aprimoramento da produção literária nacional. Para
Cademartori (2002; p. 44) “[...] A burguesia desfrutava plenamente seu poder. O
triunfo desta classe torna-se indiscutível, assim como sua evolução dentro de
capitalismo e para a visão conservadora do mundo [...]". Fica, pois, claro que a
sociedade brasileira sofreu franca e radical transformação. Nessa perspectiva
Coutinho (2001; p. 195) comenta que:
De uma sociedade agrária, latifundiária, escravocrata, aristocrática
passava-se para uma civilização burguesa e urbana, fase
preparatória para industrialização, mas já formadora de um
marginalismo populacional, senão de um pequeno proletariado
urbano[...]
Nesse período, as idéias deterministas de Taine, o positivismo de Augusto Comte e
o evolucionismo de Charles Darwin, conquistaram os intelectuais em todo mundo
inclusive os brasileiros, que incorporaram o espírito científico à literatura todos se
voltam para explicar o universo através da Ciência. Essas teorias serão vistas mais
detalhadamente no próximo tópico.
Na segunda metade do século XIX três grandes questões de caráter político-social-
religioso agitaram o país, a questão servil, a questão religiosa e a questão militar.
Em todas nota-se a influencia do materialismo, racionalismo e anticlericalismo
idéias que constituíam o espírito do tempo, daquela agitação intelectual que
apaixonava os homens de pensamento científico literário. A busca da objetividade,
a fé na razão, preocupação com o social, concepção naturalista do mundo são
14

marcas decisivas que fazem parte da segunda metade do século XIX do período
naturalista e que serão foco na literatura.
“A revolução nas idéias e na vida que levou os homens para o
interesse e a devoção pelas coisas matérias. Essa revolução ocorreu
primeiro no espírito e no pensamento dos homens daí passou à vida,
ao seu mundo e aos seus valores. Intelectualmente, a elite
apaixonou –se do darwinismo e da idéia da evolução, herança do
romantismo e, de filosofia”. (COUTINHO, 2001; p. 181).
O darwinismo tornou-se quase uma religião; o liberalismo cresceu e deu os seus
frutos, nos planos político e econômico. O mundo e o pensamento mecanizaram-se,
a religião tradicional vem a ter pensamento livre. Essas tendências realistas vindas
da Europa, chegando ao Brasil sofreram algumas alterações, inserindo o tempero
brasileiro, nossas tradições e sobretudo pela força das contradições da sociedade. A
curiosidade pela descoberta da origem dos seres humanos cresce, com o avanço da
Ciência e os estudos da Psicologia e da Sociologia demonstrando cientificamente o
comportamento do homem, quando vivem em sociedade.
Todos essas mudanças e acontecimentos entre homem, máquina e mundo firmou-se
a partir da segunda metade do século XIX, desencadeando para novos e novos
estilos até chegar a contemporaneidade, cada período literário com suas expressões
e características próprias ou até mesmo na reutilização de recursos vigentes em
outras épocas .
1.2 AS FORÇAS FILOSÓFICAS QUE EMBASARAM O PERÍODO
Como mencionamos no item anterior, três correntes filosóficas, serviram de alicerce
para ampliar as idéias dos nossos escritores dessa época são elas: O Positivismo, o
Determinismo e Evolucionismo. Dessa forma a literatura como em todas as épocas
vai captar esses aspectos e tematizar as obras. São inúmeros pensadores e
cientista, porém Comte,Taime e Darwin serão os pensadores que abordaremos
nesse capitulo, que influenciaram diretamente no realismo/naturalismo.
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[...] Augusto Comte, fundador do Positivismo Filosófico, pensamento
que se torna um dos pilares da concepção e do mundo realista/
naturalista, e que procurou reorganizar a moral e a sociedade
segundo os princípios cientificistas, substituindo a religião e a
metafísica pelas respostas obtidas com a experimentação nacional e
científica . (COELHO. 1994; P. 5).
Essa tendência defende que só a ciência pode satisfazer a nossa necessidade de
conhecimento, visto que só ela parte dos fatos e aos fatos se submetem para
confirmar as suas verdades. Ela representa a vida apenas pelo lado prático, ou seja,
apóia-se unicamente nos fatos e que através deles a confirmação das suas
verdades.
O Positivismo teve impulso, graças ao desenvolvimento dos problemas econômicos
e sociais, que dominaram o século, sendo grandemente valorizada a atividade
econômica, produtora de bens matérias. Assim é natural que se procure uma base
filosófica positiva, naturalista, materialista, para as ideologias econômico-sociais.
Para Coutinho, (2001; 182), “Os estudos sociológicos, dirigidos pelo positivismo,
orientaram-se para a coleta de fatos, sintetizando-os e formulando leis e tendências
para explicar a conduta e evolução da sociedade humana” [...].
A filosofia Comtista explica que o espírito humano, em seu esforço, passa
sucessivamente por três estados o teológico, metafísico e o científico que servirá
para explicar o universo humano. Como coloca Coelho (1994; p. 6), o estado
teológico ou fictício corresponderia ao estágio do homem primitivo que vive no
mundo mágico, para quem tudo que ultrapassa a percepção imediata e sensorial é
atribuído a um deus ou poder sobrenatural inexplicável. O metafísico ou abstrato ao
momento de interpretação filosófico-racional transcendente do mistério ou das forças
abstratas que se incorporam à vida do homem vistas como manifestação terrenas de
um mundo ideal extraterreno. O Cientifico ou positivo é aquele momento específico
em que à ciência, através da observação e experimentação, daria a explicação de
todos os aparentes mistérios da vida humana.
Essas características desencadearam o espírito dos grupos literário da época,
formando em torno desse pensamento positivista utilizavam jornais e revistas para
divulgar suas idéias em suas obras literárias.
16

A segunda corrente filosófica é a do filósofo Hipólito Taine, que teve como principio
as idéias positivista de Comte para apresentar a sua teoria determinista que constitui
um princípio da ciência experimental que se fundamenta pela possibilidade da busca
das relações constante entre os fenômenos, isto é, o princípio da causalidade que
une cada acontecimento, essa doutrina garante que todos os acontecimentos
incorporam vontades e escolhas humanas causadas por acontecimentos passados,
ou melhor, o homem é fruto direto do meio.
[...] a raça, variedade humana condicionada por uma série de causas
físicas, filosóficas e psíquicas. As raças são as disposições inatas e
hereditárias que o homem traz consigo a luz. O meio o ambiente
onde o individuo vive; meio geográfico ou paisagismo; meio
amplamente social ou o restrito meio familiar. O momento, época
histórica, o momento resultado da interferência do estágio histórico
[...] Coelho (1994; p. 6).
Esses três fatores, descritos por Coelho, a raça, o meio e o momento são
articulações de normas da crítica sociológica que foi muito importante para o
desenvolvimento da literatura da época, cujo objetivo era descobrir as causas e as
leis da criação literária. O Determinismo é o principio segundo o qual os fenômenos
naturais e as decisões da vontade humana sucederam de certas condições
anteriores, então, o homem é privado de liberdade total de decidir e de influir nos
fenômenos em que toma parte, existe sim liberdade, mas essa liberdade está
condicionada à natureza do evento em um determinado instante. Seguindo a
mesma linha de raciocínio, percebe-se que o meio define o caráter de cada
indivíduo. Nessa perspectiva Martins afirma que:
[...] A determinação é a base principal do conhecimento cientifico da
natureza, por que afirma a existência de relações fixas e necessárias
entre os seres e fenômenos naturais. Os mundos físicos e biológicos
são conduzidos pelo determinismo, no nível mental também fortalece
o mesmo principio, pois os pensamentos têm uma causa, assim
como decorrem as ações do mesmo. Pensamentos atos estão
relacionados aos impulsos, ao os traços de caráter e experiências
que caracterizam a personalidade de cada individuo. [...] Martins
(2004; p. 226).
Entre os defensores do determinismo, alguns aplicam a teoria apenas a uma parte
da realidade e outros que a estendem a todos os acontecimentos, incluindo as
17

ações humanas, os acontecimentos do universo que estão submetidos a um sistema
de causas e efeitos necessários até mesmo aqueles fatos que parecem, de algum
modo ilusório, serem resultado da liberdade e da vontade.
A terceira corrente é o evolucionismo teoria fruto de um conjunto de pesquisas,
ainda em desenvolvimento, iniciadas pelo legado deixado pelo cientista inglês
Charles Robert Darwin.
[...] O evolucionismo é uma teoria fundamentada na idéias de
evolução dos seres vivos. O primeiro a enunciar a noção de evolução
foi Lamarck. Porém foi Charles Darwin quem expôs os processos
pelo quais a evolução das linhagens determina a das populações.
(MARTINS, 2004; p. 226).
Darwin partiu de uma observação segundo a qual, dentro de uma espécie, os
indivíduos diferem uns dos outros, por isso, na luta da existência, uma competição
entre indivíduos de capacidades diversas então os mais bem adaptados são os que
deixam maior número de descendentes.
A revolução biológica efetuado por Darwin, colocou a biologia num
posto de direção do pensamento, mudando as concepções e os
métodos científicos, no sentido naturalista: o homem foi integrado no
ambiente natural com origens e história natural [...]. (COUTINHO;
2001; P.183).
Darwim conclui que as características biológicas dos seres vivos passam por um
processo dinâmico no qual fatores de ordem natural serão responsáveis por
modificar os organismos vivos. Para Cademartori, (2002, p.44) [...] O evolucionismo
postula ser a seleção natural o veículo da transformação das espécies [...].
No entanto, nota-se que a teoria do evolucionismo está relacionada com o meio em
que vivemos, ou seja com a nossa sociedade. A ciência mostra que os organismos
podem se desenvolver e se transformar com o passar do tempo, os pensadores
entendem que a sociedade também pode formalizar e mudar o pensamento social
com linhas científicas no decorrer do tempo.
18

Conforme Coutinho, (2001; p. 183) [...] A sociedade foi encarada, sob o influxo da
biologia, como um organismo composto de células em funcionamento harmônico e
obedecendo as leis biológicas de crescimento e morte [...].
O escritor naturalista examina detalhadamente o real com a postura de pesquisador
ele não se limita a observar a realidade, mas de explicá-la de acordo com as normas
da ciência positivista e determinista da época.
1.3 O ROMANCE REALISTA BRASILEIRO
Convém, no entanto, já que sabemos como era sociedade no século XIX, por
necessidade, adentrarmos no período Literário Realista/Naturalista com suas
características brasileiras para compreendermos melhor o pensamento e as
denúncias, existentes na obra supra citada, de Aluisio de Azevedo.
A segunda metade do século XIX é marcada por uma vasta encruzilhada de
correntes literárias. Nem mesmo termina o movimento Romântico já se percebe
traços do Realismo, que no Brasil, principiou em 1881, com a publicação da obra
Memórias Póstuma de Brás Cubas, de Machado de Assis, um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras, considerado o maior escritor da literatura brasileira,
sua obra estuda a condição humana com muita profundidade. Raul Pompéia autor
crítico, que denunciou as instituições superadas do Império. Sua obra mais
importante é o romance “Ateneu”, de 1888, baseado em sua experiência em colégio
interno, e não poderia ficar de fora Aluísio Azevedo, introdutor, um dos principais
nomes do Naturalismo no Brasil, com a obra “O Mulato”, que é o objetivo dessa
pesquisa, entre outros escritores que fizeram parte desse período.
Os escritores desse período procuravam descrever os costumes e as relações entre
os seres humanos com maior realidade dentro das perspectivas filosóficas citadas
anteriormente. De acordo com COUTINHO (2001; p. 189).
19

[...] O Realismo é a tendência literária que procura representar, acima
de tudo, a verdade, isto é, a vida tal como é, utilizando-se para isso
da técnica da documentação e da observação contrariamente à
invenção romântica interessando na analise de caracteres, encara o
homem e o mundo objetivamente, para interpretar a vida [...].
O próprio nome do período se confessa, o Realismo vem para evidenciar o homem
diante da sociedade, os autores Realistas queriam mostrar através de suas obras
alguns aspectos que o Romantismo fantasiava, escondendo assim as verdades.
Para os realistas a miséria, a crise de produção e a má condição de vida são
aspectos que mereciam ser divulgados e não omitidos.
Novas mudanças no comportamento humano determinam o novo estilo de época, o
homem realista passa a observar e a externar a realidade os realistas eram anti-
românticos e objetivos, exigiam a prioridade da razão sobre o sentimento e uma arte
compromissada. Enxergava a ciência como a solução para todos os problemas do
homem. Faziam de seus romances um laboratório em que objetivam provar a teoria
de que determinados personagens, vivendo num certo meio e em dadas
circunstâncias e com determinada carga genética obrigatoriamente agiriam de uma
determinada forma assim eles reafirmavam a filosofia positivista e determinista sobre
esse contexto Proença Filho afirma:
[...] Predomina uma concepção materialista do mundo, e dissemos
“predomina”, pois é necessário lembrar que na época entrecruzamse
varias ideologias e tendências no panorama da cultura ocidental.
A realidade é interpretada como um todo orgânico em que o
universo, a natureza e o homem estão intimamente associados e
sujeitos, em igualdade de condições. “[...] Para compreender e
explicar a realidade, o homem só pode valer-se do conhecimento
cientifico, através de fatos, é preciso, portanto, observar e analisar a
realidade, para poder conhecê-la com precisão. A verdade o bem e o
belo existem nas coisas, independentemente das razões subjetivas.
Predomina uma visão determinista, antimetafísica e antiespiritualista
da vida [...]” (2001; P. 239).
O próprio Proença, fala que nessa época da história da arte não existe espaço para a
metafísica, pois o conhecimento só poderia ser adquirido através da ciência, ou seja,
a ciência era o único meio de conhecimento. Tais observações nos fazem perceber
que as características do Realismo são o objetivísmo, racionalismo, texto cuidadoso
e objetivo, engajamento, crítica aos valores religiosos e burgueses e ao
20

monarquismo. A abordagem do homem e da sociedade pode ser chamada biológica,
mostrando o ser humano condicionado por patologias e impulsos biológicos, além de
conduzido pelo papel que a sociedade lhe dá. Neste contexto abordaremos um
fragmento da obra O Crime do Padre Amaro, do escrito Português Eça de Queiroz,
como no Brasil, os escritores Naturalista de Portugal também seguem a mesma linha
de pensamento dos nossos escritores brasileiros.
[...] Ah, não tornaria a olhar de lado, com azedume, os cavalheiros
que passeavam na Alameda com as suas mulheres pelo
braço!Também ele agora tinha uma toda sua, alma e carne, linda,
que o adorava, que usava boas roupas brancas, e trazia no peito um
cheirinho de água-de-colônia! Era padre, é verdade... Mas para isso
tinha o eu argumento: é que o comportamento do padre, logo que
não dê escândalo entre os fiéis, em nada prejudicaria a eficácia, a
utilidade da grandeza da religião [...]. Enfim a sua Amélia, a Amélia
dos primeiros dias, o delicioso corpo, que lhe tremia todo nos braços,
em espasmos de paixão. A cada dia a desejava mais, de um desejo
contínuo e tirânico, que àquelas horas escassas não satisfaziam. Ah!
Possivelmente, como mulher não havia outra!... Desafiava a que
houvesse outra, mesmo em Lisboa [...]. O crime do padre Amaro.
(2002; p. 270 e 305).
Esse fragmento representa perfeitamente uma das características do período
realista/naturalista que é a critica aos valores religiosos, o trecho narra o
relacionamento entre um padre e uma jovem solteira, deixando explicitamente
depravação dos costumes, religiosos de uma cidade influenciada pelo clero, não
somente o Padre Amaro cometia esses atos, porém dentro desta mesma obra há
mais exemplos como o Cônego Dias, mestre do Padre Amaro que praticava também
atos sexuais com a mãe da Amélia. Percebemos assim que há muito tempo
mantinham- se relacionamentos entre os representantes religiosos e suas fieis .
Concomitantemente ao Realismo, caminha o Naturalismo que, no Brasil principia por
volta de 1881, com a publicação de “O Mulato”, de Aluisio Azevedo, obra esta que
iremos abordar nos capítulos posteriores, por enquanto falaremos de uma tendência
radicalizada do Realismo, que condiciona o homem ao ambiente que o cerca. Para
um escritor naturalista, o homem submete-se às forças biológicas ou sociais, e age
de acordo com elas. Esse período é considerado com o Realismo levado até as
ultimas conseqüências. Para Coutinho (2001, p. 190).
21

[...] O Naturalismo acentua as qualidades do Realismo, acrescentado
uma concepção da vida que se vê como o intercurso de forças
mecânicas sobre os indivíduos, resultando os atos, o caráter e o
destino destes, da atuação da hereditariedade e do ambiente. O
espírito de objetividade e imparcialidade científica faz com que o
naturalista introduza na literatura todos os assuntos e atividades do
homem, inclusive os aspectos bestiais e repulsivos da vida, dando
preferência às camadas mais baixa da sociedade. [...]
Note-se que para Coutinho na citação acima, o naturalista procura representar toda
a natureza, a vida que está próxima da natureza, ou seja, o homem natural com
todos os atributos de “ser” humano que ele esconde através da racionalidade, mas
as vezes o instinto fala mais alto. É a teoria de que a arte deve conformar-se com a
natureza, utilizando dos métodos científicos de observação e experimentação dos
fatos e das personagens, ratificando assim as tendências evolucionistas positivistas
e deterministas. No trecho abaixo, o autor mostra o poder de transformação que o
meio causa nos indivíduos ele mostra a imagem de bom homem através da
personagem João Romão, que usa essa máscara com o único objetivo, que é
expandir financeiramente sem se importar com os sentimentos dos outros.
[...] Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o
conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava
conta de tudo que ela produzia, e era também quem punha e
dispunha dos seus pecúlios. Abriu-lhe logo uma conta corrente e a
quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava
um pulo na venda e recebia-o das mãos do vendeiro. Quando deram
fé estavam amigados [...] João Romão comprou então, com as
economias da amiga, alguns palmos de terreno ao lado esquerdo da
venda, e levantou uma casinha de duas portas [...] O Cortiço ( 2006;
pg. 16).
Os realistas naturalistas procuram a verdade, desdenham do sentimentalismo,
preocupam-se com a época contemporânea, contrário ao Romantismo que sempre
idealizava os fatos, mostrando sempre um final feliz para todas as coisas que
parecessem ameaçadoras.
Diante do que foi dito observa-se que no Naturalismo as palavras traduzem uma
predileção pela miséria, pelo desequilíbrio social. É também análise das condições
da cidade, até mesmo da província. O retrato da sociedade na visão naturalista
pretende ser fiel, e se faz através de impressões sensoriais. Foi de grande
22

intensidade a influência francesa na nossa literatura brasileira do século XIX, que
marcou a vida do país.
O escritor francês Émile Zola, considerado o maior representante da literatura
naturalista mundial, mostra em suas obras os vícios, os instinto e as desigualdades
como se pode ver na obra Germinal. Zola para escrever suas obras vivenciava todo
o momento, para sentir na pele todas as verdadeiras emoções e sensações de cada
personagem. Elaborou uma aplicação de suas teorias á realidade, levantou um
paralelo de ideais, com sua teoria do romance naturalista, assegurando que o
método do cientista deveria torna-se o do escritor. Vejamos a seguir um fragmento
da obra Germinal, em que o autor descreve minuciosamente cada detalhe de um
cansativo e pesado dia dos operários da mina de carvão:
[...] Se não quisesse perder o trem das oito horas devia se apressar,
pois ainda tinha seis quilômetros pela frente. Debaixo de seus pés,
prosseguiam os golpes profundos das picaretas. O mineiros estavam
todos lá, embaixo da terra, ele como se o estivessem seguido. O sol
De abril brilhava em toda a sua glória, aquecendo a terra. Em que
germinavam sementes. A vida desabrochava com toda a força, os
brotos apareciam em folhas verdes, a relva nascia. Em toda parte as
sementes cresciam e brotavam para fora da terra, em busca de luz e
calor. E ainda, cada vez mais distintamente, como se estivessem se
aproximando do sol, os operários cavavam. Aos raios inflamados do
sol, naquela manhã de juventude, o campo estava tomando por
aquele rumor. Os homens brotavam, eram um exercito coberto de
carvão, vingador, que germinava lentamente da terra, para crescer
nas colheitas do século seguinte. A germinação daquele exército
logo faria explodir a terra. [...] Germinal. (2000; p. 237-238).
O trecho acima extraído do romance naturalista Frances, descreve com veracidade
as precárias condições de trabalho da classe operária, o desgaste físico, pois seu
salário depende da produtividade. Ou seja, só recebiam pela quantidade de carvão
que produzissem, má condição de trabalho a miséria a exploração era imensa.
1.4 O COMPROMISSO COM A REALIDADE
O escritor realista busca fazer a descrição minuciosa da realidade que ele observa,
pretendendo modificar a que ele considera injusta essa é atravessada pela
23

preocupação moral de revelar as mazelas da sociedade apontando seus vícios e
hipocrisia minuciosamente como um verdadeiro cientista.
Os autores naturalistas levam os princípios realistas ao extremo. Sua abordagem do
homem e da sociedade pode ser chamada de biológica, mostram o ser humano
condicionado por patologias, taras e impulso biológicos, além de conduzido pelo
papel que a sociedade lhe dá. Conforme Proença Filho, (2001; p.240).
[...] Preocupação com uma verdade não apenas verossímil, mas
exata. A verdade é procurada através da observação e na análise da
realidade, no que esta tem de perene e universal. Não a realidade
idealizada através da razão, ou imaginada através dos sentimentos,
mas a realidade materialmente verdadeira. Preocupação com a
observação e análise da realidade. Trata-se de uma análise em
profundidade, a fim de evitar uma visão grosseira e deformada pela
observação comum; é necessário assinalar os valores morais e
estéticos do real. Busca no perene humano o drama da existência.
No seu exame da realidade, o escritor procura mostra – lá em seus
elementos essências e universais, buscando verdades eternas, mas
sem preocupação de ordem transcendente.[ ...].
No que foi citado acima percebe - se a constituição de uma ação moralizadora
através do veiculo literário meio pelo qual os escritores realista/naturalista tinha por
função revelar as regras, os problemas, os comportamentos e o funcionamento
inadequado da sociedade combatendo as injustiça e as indiferenças sociais da
época.
1.5 A TRAMA REALISTA
Os escritores realistas eram anti-românticos, objetivos e racionalistas, fazem uso da
razão sobre o sentimento, mostrando através de seus personagens, o verdadeiro
retrato da sociedade, representando o ser humano condicionado por patologias
“eu” existente em cada um de nós, e que nos transformamos de acordo com meio
em que somos inseridos, isto é somos frutos do meio em vivemos.
O romance realista era divulgado em folhetins, do mesmo modo que eram
divulgados na época romântica, os autores também podiam contar com as revistas e
24

os jornais para publicarem suas obras. Para Coelho, “a forma literária preocupa-se
em ser o verdadeiro retrato da sociedade, dos segredos de seus bastidores, dos
seus vícios e defeitos”. O preconceito racial é um dos problemas mais polêmicos no
Brasil, e os nossos escritores usavam a literatura com um instrumento de combate e
de denúncias, evidenciando os desequilíbrios sociais da época. Nesse contexto, a
forma escolhida pelos autores realistas propõe em observar e revelar, de forma
verossímil, as mazelas sociais entre essas estaria o adultério. Nessa perspectiva
Coelho observa que a trama realista apresenta:
[...] O esquema narrativo mais vulgarizado pelo romance realista foi o
que se estrutura com o chamado triangulo amoroso, totalmente
inexistente no que o procedera. O enredo envolve sempre questões
de dinheiro e o conflito passional entre três personagens: dois
homens e uma mulher, esta esposa de um e amante de outro. O
triangulo pode ainda ser representado por um padre, uma mulher e a
Igreja. A ação narrativa decorre em ambiente social refinado e se
desenvolve lentamente, revelando o processo do adultério e o
terminando sempre em tragédia, ou seja, a morte da mulher. Notese
que a via de regra a heroína realista acaba morrendo ou destruído
interiormente pelo remorso se eu de seu „erro” . O herói provocador
de sua paixão, queda e destruição, não é atingido pela tragédia, pois
viveu apenas mais uma aventura, sem qualquer conseqüência para
sua consciência ou reputação social . Via de regra não existe “amor”
no romance realista, mas apenas “paixão dos sentidos”. A sua
intenção básica era denunciar a decomposição moral (família e
sociedade) que minava ocultamente uma sociedade alicerçada
numa idealização da vida, que não correspondia a verdade humana,
idealização que acaba forjando um comportamento hipócrita ou
inconsciente, no qual o que contava eram as aparências e não a
verdade do ser [...]. Coelho (1994; p. 03).
Facilmente se presume que na trama realista a rede de intrigas geralmente
predominada pelo triangulo amoroso, que é composto por uma mulher e dois
homens. Porém, o conceito de triangulo amoroso naturalista sofreu alterações, nos
dias atuais já se percebe outras formas de conceituá-lo, não apenas a forma acima
citada. O fragmento abaixo extraído do romance O Cortiço de Aluisio Azevedo,
exemplifica o que Coelho conceitua como triangulo amoroso:
[...] O Botelho, com a sua encanecida experiência do mundo, nunca
transmitia a nenhum dos dois, o que cada qual lhe dizia contra o
outro; tanto assim que, certa ocasião, recolhendo-se à casa
incomodado, em hora que não era do seu costume, ouviu, ao passar
25

pelo quintal, sussurros de vozes abafadas que pareciam vir de um
canto afogado de verduras, onde em geral não ia ninguém .
Encaminhou-se para lá em bicos de pés e, sem ser percebido,
descobriu Estela entalada entre o muro e o Henrique. Deixou-se ficar
espiando, sem tugir, e, só quando os dois se separaram foi que ele
se mostrou. [...]
O exemplo acima narra à descoberta de adultério em que Estela e flagrada pelo
Botelho amigo da família, traindo seu esposo Miranda com seu hospede Henrique.
Nessa perspectiva as intenções básicas dos escritores Realista/Naturalista eram
representar com veracidade o jogo das relações humanas e do mesmo modo atacar
a família burguesa e hipócrita estabelecido por uma a sociedade alienada pelo
poder do dinheiro e da religiosidade como instrumento de ascensão ou depreciação
do ser humano.
Assim também, o romance naturalista apresenta características diferentes das
citadas no Romantismo como o amor verdadeiro idealizado tendo o homem como
herói que enfrenta tudo e todos para união a concretização do seu amor.
[...] não há nele um caso amoroso (ou este não é o verdadeiro
núcleo temático do romance). O interesse da narrativa centra-se em
um anti-herói, um indivíduo cujo comportamento é determinado por
forças incontroláveis: taras, defeitos de educação, ambiente de baixo
nível, miséria etc. Anti-herói, porque sua vontade jamais sai
vencedora na luta contra os impulsos negativos do próprio ser ou
contra as influencias nefasta do meio. A narrativa mostra a tragédia
do cotidiano desencadeado por influencias de um meio social
degradante [...]. Coelho ( 1994; p. 03).
A citação abaixo retirada do romance Azevediano representa e fortalece o que a
autora evidenciou na citação acima. Não existia amor entre as personagens João
Romão português dono do cortiço e Bertoleza escrava fugida, ele ambicioso apenas
a usou, pois queria mesmo era ampliar seus negócios, usa de todos os meios para
ficar rico. Seu interesse pela escava era simplesmente comercial e por ser um
homem ganancioso, queria ao seu lado uma mulher branca pertencente ao seu meio
social no qual ele receberia o dote e aumentaria mais sua fortuna e atingiria um
degrau a mais na escala social, pois diante da sociedade não ficaria bem ter uma
negra como sua companheira e Bertoleza era uma escrava pertencente aos
senhores da fazenda, no exemplo abaixo Bertoleza representa peça financeira , pois
26

João Romão não a amava, apenas serviu –se de sua mão – de - obra e de seus
préstimos sexual até o momento em que era interessante para ele. (AZEVEDO. O
CORTIÇO, 2006; P.224 - 225).
[...] Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava
de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem,
quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.Reconheceu
logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio
percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a
situação; adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de
alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo coragem
para matá-la, restituía ao cativeiro. Seu primeiro impulso foi de fugir.
[...] A negra imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma
das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de
cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. [...] Bertoleza
então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto
e, antes que alguém conseguisse alcançá – la, já de um só golpe
certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois emborcou
para frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de
sangue [...].
Em suma percebe-se que os romancista mostra minuciosamente os aspectos mais
repugnantes da vida cotidiana, indivíduos que enganam-se uns com os outros, e que
para sua ascensão social são capazes de tanta crueldade, usando meios sujos e
desonestos para eliminar os obstáculos que atravessam seus caminhos, ao ponto
de trair, mentir, fingir e de matar. Isto não é fato, mas sim realidade e o autor
naturalista traz para a literatura a vida como ela é, sem idealizações, mas
literalmente verdadeira, para que possamos entender- mos o funcionamento da vida
e o comportamento humano.
1.6 A REPRESENTAÇÃO DO HOMEM E DA MULHER NO REALISMO DO
SÉCULO XIX
A segunda metade do século XIX é marcada pelo processo de transição, momento
em que toda os pensamentos de subjetividade que eram voltado para o romantismo
adormecem e novos pensamentos abrem passagem para um novo ideário,
surgindo assim os temas opostos aquele do Romantismo, ou seja, o avesso da tela
romântica, que vem a ser o período Naturalista, período em que os escritores
acordam e vêem o mundo com um novo olhar como realmente é ao contrário ao
27

que via antes. Dentro desse novo olhar fixaremos o nosso olhar na representação
do homem e da mulher no contexto literário realista/naturalista.
O inicio do século XIX traz a figura do homem idealizado, o homem é considerado o
herói, belo e perfeito, a mulher também aparece nesse contexto com as mesmas
características, vem sempre bela, branca com traços puros, angelical, virgem,
fragilizada e perfeita tendo o homem como seu herói protetor. Esses aspectos são
do Romantismo no período em que os escritores mostram seus sentimentos,
desejos e a vontade de realização do amor. Observemos a descrição romântica que
José Alencar faz do homem.
[...] Encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio
na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, que os indígenas
chamavam aimará, apertada á cintura por uma faixa de penas
escarlates, caía-lhe dos ombros até o meio da perna, e desenhava o
talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. Sobre a alvura
diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos
dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos
grandes com cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra,
móbil, cintilante; a boca forte, mas bem modelada e guarnecida de
dentes alvos, davam ao rosto pouco oval e beleza inculta da graça,
da força e da inteligência [...]. O Guarani. (2006. p. 29).
No trecho acima, extraído do romance O Guarani, percebemos o grau de perfeição
que o autor utiliza na descrição do homem e vejamos que é um índio que aos olhos
do escritor torna-se um galã de novela, a mulher da mesma forma é representada,
usaremos outro exemplo da mesma obra Alencariana .
[...] Os grandes olhos azuis, os lábios vermelhos e úmidos pareciam
uma flor da gardênia dos nossos o campos, orvalhada pelo sereno
da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso. Sua
tez alva e pura como um froco de algodão tingia-se nas faces de uns
longes cor-de-rosa. O seu trajo era do gosto o mais mimoso e o mais
original que é possível conceber: mistura de luxo e de simplicidade.
Tinha sobre o vestido branco de cassa um ligeiro saiote de riço azul
apanhado à cintura por um broche: Os longos cabelos louros,
enrolados negligente em ricas tranças, descobrindo a fronte alva e
caíam em volta do pescoço, presos por uma rendinha finíssima de
fios de palha cor de ouro, a mãozinha afilada brincava com um ramo
de acácias [...]. O Guarani. (2006. p. 34-35)
28

Essa descrição é da personagem Cecília, como vimos, Alencar nos apresenta a
mulher com muita delicadeza, e muita beleza, ele descreve detalhadamente suas
vestimentas e adereços que usavam, seus minuciosos movimentos e gestos que só
os escritores sabem mostrar através dos seus romances. A forma de comportamento
todas as qualidades que possam elevar a auto estima de uma pessoa, com tantos
qualidade, caprichos e com a capacidade de exercer o poder de domínio sobre o
homem.
[...] As mulheres têm isso de particular; reconhecendo-se fracas, a
sua maior ambição é reinar pelo ímã dessa mesma fraqueza, sobre
tudo o que é forte, grande e superior a elas: não ama a inteligência, a
coragem, o gênio, o poder, senão para vencê-los e subjugá-los.
Entretanto a mulher deixa-se bastante vezes dominar, mas é
sempre pelo homem que não lhe excitando a admiração, não irrita a
sua vaidade e não provoca por conseguinte essa luta da fraqueza
contra a força. Cecília era uma menina ingênua e inocente, que nem
sequer tinha consciência do seu poder e do encanto de sua casta
beleza: [...] O Guarani. (2006; p. 116)
O homem romântico preocupava-se com o bem estar da sua amada, Peri
demonstrava muito isso com a sua senhora a Cecília a protegia de tudo e de todos,
era um vassalo, a idolatrava como a uma santa e o seu objetivo maior salva lá, e ele
sempre no papel de herói, oposto do anti-herói, que sua preocupação maior era
consigo mesmo.
Mas com o surgimento do Naturalismo na segunda metade do século XIX como já
citamos, a mascara do homem herói cai e ele deixa de ser idealizado como
homem perfeito e passa a mostrar como realmente ele é , com defeitos e virtudes
que todo ser humano tem, ele passa a ser um homem comum como qualquer
pessoa da sociedade. A mulher também deixa de ser vista como angelical perfeita e
passa a ser uma mulher comum também com virtudes e defeitos.
As idéias realistas e naturalistas já têm tomado todo o espaço de fato, retratando o
que realmente acontecia no contexto social, Para Bosi (1994 p. 169) O escritor
realista tomará a sério as suas personagens e se sentirá no dever de descobrir-lhes
a verdade, no sentido positivista de separar os móveis do seu comportamento. A
literatura realista tem como objetivo expressar fielmente o cotidiano da sociedade,
então o homem não pode ter somente virtudes, ele também tem que ter defeitos.
29

Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à
labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de
enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia
sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo
travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida
arranjava-lha mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira
sua vizinha a Bertoleza, crioula trintona. O Cortiço. (2006; p. 15)
O homem do naturalismo não prioriza o amor, em primeiro lugar a ascensão social, o
capitalismo fala mais alto, Aluisio Azevedo mostra sempre em suas obras o poder do
capitalismo, O personagem Miranda é um dos seus representantes “Que ficou
furioso e o seu primeiro impulso foi manda - lá ir embora por causa do adultério, mas
o dote que ela trouxe uma casa comercial ele não queria abrir mão e continuou com
o casamento de aparências”. O João Romão também do Cortiço pratica essa
mesma ação. Vejamos:
[...] Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha
fina e aristocrática, um largo quadro de vitórias rasgava-se defronte
da desensofrida avidez da sua vaidade. Em primeiro lugar fazia-se
membro de uma família tradicionalmente orgulhosa, como era dito
por todos, à D. Estela, em segundo lugar aumentaria
consideravelmente os seus bens com o dote da noiva, que era rica;
em terceiro, afinal, caber-lhe-ia mais tarde tudo o que o Miranda
possuía, realizando-se deste modo um velho sonho que o vendeiro
afagava desde o nascimento da sua rivalidade com o vizinho [...] O
Cortiço. (2006; p. 205).
Eis aí como aconteciam os casamentos por conveniência, a mulher não tinha o
direito de escolher o seu esposo, o casamento era arranjado pelas famílias, dessa
forma a mulher busca através do adultério expressar suas necessidades e vai à
busca do homem que ela ama e deseja.
[...] Você quer saber? Perguntava ela! Bem percebo quanto aquele
traste do senhor meu marido me detesta, mas isso tanto me dá como
a primeira camisa que vesti! Desgraçadamente para nós mulheres de
sociedade, não podemos viver sem o esposo, quando somos
casadas; de forma que tenho de aturar o que me caiu em sorte, quer
goste dele quer não goste! Juro-lhe, porem, que, se consinto que o
Miranda se chegue as vezes para mim, é porque entendo que paga
mais à pena ceder do que puxar discussão com aquele besta
daquela ordem![...] O Cortiço. (2006; p. 34).
30

Aluisio Azevedo mostra claramente a discriminação social com a figura feminina, a
mulher é obrigada a conviver com um homem mesmo que não o ame só para
cumprir com seu papel social, caso contrário ela será execrada da sociedade. Por
conta disso surgi assim às traições tanto da mulher quanto do homem, antes no
romantismo o homem não traia era fiel a sua amada até o fim, mas ele pode trair,
pois não será punido, por pertencermos a um regime patriarcal onde o homem é o
detentor do poder, só ele pode só ele faz, e como ele é um é um homem comum
logo é comum trair, e ele está no seu papel o oposto da posição feminina.
As mulheres são representadas de diversas formas de acordo com o estilo do autor.
Dentro do realismo a figura feminina é sempre aquela que trai o marido, vem na
maioria das vezes como escrava, prostituas, com algumas patologias e sempre
pagam pelo seu mal comportamento até mesmo com a própria vida , a mulher nesse
momento literário não tem voz e nem espaço par pensamento, possui somente o
corpo objeto de uso do homem. O homem por outro também vive a mercê da
sociedade, vivendo um casamento de aparências, para não ser mal visto e desligado
do seu meio social.
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32
Capítulo II
Aluisio Azevedo: Perfil e Estética
“A palavra escrita, que antigamente era um instrumento de poetas lamuriosos e
de novelistas piegas e imorais, serve hoje para demonstrar um fato,
desenvolver uma tese, discutir um fenômeno”.
Aluísio Azevedo.

2. ALUISIO AZEVEDO: ESTILO E ESTÉTICA
2.1 VIDA:
De acordo com os dados bibliográficos constantes no livro O Cortiço (2006; p. 228)
vê-se que Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, importante romancista brasileiro
foi escritor, diplomata, caricaturista e jornalista. Nascido em São Luiz do Maranhão
em 14 de Abril de 1857 e foi batizado na igreja e freguesia de São João Batista, em
São Luiz pelo pároco Joaquim José do Prado em 30 de Maio do mesmo ano, tendo
como padrinhos de batismo Luís Paulino Homem de Loureiro Siqueira e sua esposa
que serviram os Santos Óleos ao recém-nascido.
Seu registro de nascimento, porém só foi assinado quando Aluísio estava com sete
anos de idade, pois seu pai, o Vice-cônsul e viúvo, David Gonçalves de Azevedo
ficou impossibilitado de assiná-lo antes porque a mãe de Azevedo, Emília Amália
Pinto de Magalhães já tinha sido casada antes e separado, mas na época ainda não
tinha legalizado a separação, por isso os filhos advindos do segundo casamento
ficavam sem registro, ou sem o nome do pai, uma vez que só podiam ser registrados
pelo marido legítimo da mãe.
A mãe de Azevedo era mulher de um homem rico e ríspido, comerciante portugês de
temepramento brutal que nem brandou com a gravidez da jovem esposa e o
nascimento da primeira filha, casamento por conveniência obviamente arranjado
pelo seu pai, como vimos nos capítulos anteriores que os casamentos eram por
questão social e não por amor.
Todo esse impencílio foi porque ela era uma mulher separada do marido, coisa que
a sociedade não aceitava, mas com toda essa burocracia anos depois como
citamos é que o pai de Aluísio consegue assinar perante o tabelião José Nunes de
Sousa, a declaração reconhecendo-o como seu filho legítimo. Maria Emília
confessará mais tarde: “O meu gesto foi tido e havido como o maior escândalo até
então rebentado na sociedade maranhnse!”. Faraco in O Mulato (2005; p. 01).
Como era de prache, esse casal logo foi marginalizado, insultado, execrado da
sociedade, mas isso não os impediu de constituirem a sua família, nascendo 03
33

filhos e 02 filhas. Depois de Aluízio vem Arthur Azevedo, que ficará conhecido como
teatrólogo. É claro que a vida de Aluísio não parou, com todas dificuldades e
preconceito ele segui em frente, desde seu nascimento ele já ia de encontro com as
regras sociais, pois ele próprio nascera de uma união fora do padrão exigido pela
sociedade e até sua maturidade foi assim, criticando, denunciando e combatendo a
sociedade provinciana em que nascera. Vejamos o seu roteiro de vida:
Aluísio aos sete anos começa a freqeuntar as aulas do professor
Raimundo Joaquim Cesar, sendo transferido depois para o colégio do
professor Antônio Pires. Aluísio desde muito novo dedicou-se ao
desenho e pela pintura que certamente auxiliou na aquisição da
técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de
seus romances, aos treze ano começa a trabalho como caixeiro no
armazém do despachante David Freire, na praia Grande e como
guarda-livros. Ainda adolescente , já ganhava algum dinheiro pintando
retratos de pessoas até especializar-se na pintura de retratos de
defuntos. Era muito pouco realmente para sonhava com um curso de
Belas-Artes na Itália. Larga o emprego para estudar no Liceu
Maranhense , dirigido pelo professor Francisco Sotero do Reais e
estuda pintura com o artista italiano já idoso o sr. Domingos Tribuzzi.
A chamado do irmão, o teatrologo Arthur Azevedo, Aluísio viaja para o
Rio de Janeiro, já com 17 anos de idade, matriculou-se na Academia
Imperial de Belas- Artes e para manter-se fazia caricaturas
principalmente de políticos, muito usadas na ilustração de jornais da
época. Trabalhou em pelo menos quatro: O Fígaro, O Mequetrefe,
Zig-zag e A Semana Ilustrada, obtendo desde então sua sobrevevia
atraves de seus desenhos. Aluisio fica conhecedo como caricaturista
por causa da charge intitulada “ Os Trinta Botões “ , em que
ridiculariza Bordalo Pinheiro. O Cortiço.( 2006; p. 228).
Com o falecimento de seu pai, David Gonçalves de Azevedo, aos 62 anos de idade,
Aluísio volta para o Maranhão, a fim de resolver os negocios do pai. Começa
escrever com o pseudônimo de Pitibri. Começa a redigir com alguns amigos o jornal
o Pensador que sai três vezes por mês cujo objetivo era justamente atacar o clero.
“O presente joranal tem um fim: Combater esse espírito sacerdotal que tanto sangue
tem custado à humanidade.(...) Pensar é o contrário de crer”. Faraco in O Mulato
(2005; p. 6).
Aluísio funda com Libânio Vale e Vitor Lobato, seus futuros cunhados, A Pacotilha,
o primeiro jornal diario de São Luís. E em 1881, publica O Mulato, que choca a
sociedade pela forma crua do romance, desnudando a questão racial . Nesse
período Aluísio já tinha se filiado aos abolicionistas.
34

Um dia após a abolição da escratura Aluíso escreve: Ontem, assisti, pela primeira
vez, a uma legitima expansão popular; via a multidão rir e chorar de prazer; vi uma
raça, até então amaldiçoada, cantar em plena rua a Marselhesa da alegria(...); em
cada olhar havia um raio de vitória... Faraco in (O Mulato; p. 15). Com o sucesso de
O Mulato Aluísio consegue um bom dinheiro e volta para a Capital do Império, onde
escreve sem parar novos romances, contos, crônicas e até peças teatrais como Flor
de Lis, escrita em parceria com seu irmão teatrólogo Arthur Azevedo. Aluísio
alcançou o prestígio com suas obras O Mulato, Casa e Pensão e O Cortiço,
considerado pela crítica sua melhor obra, mas o prestígio não significava dinheiro,
enquanto ele escrevia se preocupava com as contas a pagar, pois continuava
lutando para viver melhor com o que produzia.
Nesses tumulto da vida Azevedo também perde sua mãe Emília Amália, que falece
em São Luis, do Maranhão. E assim segue sua vida com ganhos e perdas. Aluísio
continua seguindo em frente e tenta de mudar de ofício pois a carreira de escritor
não está lhe correpsondendo como desejava. Nesse contexto, Coelho Neto apud
Faraco p. 20, revela que numa conversa com Azevedo o escritor dissera: “ O meu
ideal é um emprego público (...), com vencimentos certos”. Aluísio continuava a
procura de um a vida melhor , e tenta carreira diplomática. Conforme Faraco:
Azevedo é nomeado oficial da Secretaria de Negócios do Governo
do Estado do Rio um ano depois é exonerado do cargo, Lança seu
último romance o livro de uma Sogra. Faz concurso na Secretaria de
Exterior para Cônsul de carreira obtendo distinção, é nomeado vicecônsul
em Vigor, é eleito para a Academia Brasileira de Letras
ocupando a cadeira número quatro. Depois é removido para o viceconsulado
de Iokoama, desistindo das Letras vende sua propriedade
literária a por dez contos de réis a H. Garnier, recebe ordem do
Ministerios de Relaçoes Exteriores para voltar ao Brasil nem mesmo
chega em São Francisco recebe um novo telegrama ordenado que
volte ao Japão para reassumir o posto há pouco deixado. No japão
se apaixona por Satô, uma delicada oriental. Mas o romance acaba
quando Aluísio é transferido para La Plata. Ela não pode ir por conta
dos pais que são idosos. Após dois anos é tranferido para Nápoles
na Argetina. Num desses trasnfere para lá transfere para cá
Azevedo quase morre afogado no Coptic travessia de São Francisco
e Iokoama. Perde seu irmão Américo que morre aos trinta e sete
anos também em São Luís. Aluísio é promovido a consul de 2ª
classe, sendo designado para servir em Salto, no Uruguai. Em o
Cortiço. (2006; p. 230).
35

Aluísio é removido para Cardiff, na Inglaterra, é nomeado cônsul na cidade de
Nápoles e lá passa a viver com Da. Pastora Luquez de nacionalidade Argentina,
que o acompanhava há dez anos, junto com seus filhos Pastor e Zulema que
Azevedo adotara deixando os três como beneficiário em seu testamento.
Azevedo passou pelo Rio de janeiro , de onde tinha estado afastado por muito
tempo, e encontrou uma cidade muito mudada graças às obras de saneamento e
urbanização. Os amigos o estranharam muito, o escrito ruma para o Uruguai e logo
depois para Buenos Aires seu último posto e cinco anos após a morte do seu irmão
o dramaturgo Arthur de Azevedo que estava com 53 anos. Aluíso encerra sua vida
do romancista , caricatirista e diplomata , falecendo as 11 horas da manhã de 20
de janeiro de 1913, de miocardite.
Foi homenageado com o nome de uma importante rua no bairro de Santana, da
cidade de São Paulo. Seis anos após sua morte por iniciativa dos membros da
academia Brasileira de Letras fazem cerimonia em sua homenagem. Na biografia
constante no livro observa-se esse momento no fragmento a seguir:
Coelho Neto e outros acadêmicos propõem à mesa da Academia, que
oficie ao Ministério das Relações Exteriores, solicitando que sejam
translado para o Brasil os restos mortais do romancista.Chega a 9 de
Setembro ao Rio de Janeiro, vindo do Rio da Prata, o esquife do
Cônsul brasileiro. Em 25 de Outubro desembarca em São Luís, de
bordo do “Bahia”, o corpo. Sessão solene da Academia Maranhense.
Missa pelo Bispo diocesano é enterramento no dia 28. O Cortiço.
(2006; P. 231).
Em suma, a vida de Aluísio de Azevedo, foi um leque de acontecimentos, desde
muito jovem lutava por sua sobrevivência, através de suas pinturas e romances,
transgredindo de um período romântico cheios de subjetividade e ilusões para outro
em que a objetividade era essencial, mostrando através de suas obras o verdadeiro
retrato da vida de uma cidade movida pelo preconceito e desigualdade social.
2. 2 OBRAS:
Aluísio Azevedo é autor de obras românticas e realistas-naturalistas. Escreveu
romances de grande interesse social: O Mulato, obra que lhe provocou escândalo
na época do seu lançamento em 1881, Casa de Pensão, que o consagrou e O
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Cortiço, conhecido com sua obra mais importante. Nessa perspectiva o fragmento
a seguir escalrece alguns dados sobre o assunto:
Além de O Mulato, os romances que o consagraram perante a
crítica foram Casa de Pensão, e o Cortiço, sonsiderado sua obraprima.
No primeiro inspirado num caso da crônica policial do Rio,
descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se
ospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital.
Numa daquelas inúmeras casas de penão espalhadas pelo Rio de
Janeiro, tinha acontecido um fato que acabou sendo conhecida pelo
povo como “Questão Capistrano”. O fato não iria escapara ao atento
observador naturalista que inspirou-lhe o romance. Em O Cortiço um
quadro da miséria a que eram submetidos o negro e o mulato
explorados pelo branco português. Ele retrata agrupamentos
humanos, denuciando a miséria, a marginalização, a fome, a
prostituição e a exploraçã. O Cortiço.(2006; p. 228).
O Romance Casa de Pensão foi de grande sucesso de publico, esgotando três
edições no ano do seu lançamento em livro, o autor afirmava no prefácio do folhetim “
Estudar uma das faces mais característica e mais antipática da nossa sociedade – a
vida em casa de pensão”. Faraco in O Mulato. (2005; p. 14) no romance O Cortiço,
obra que é sempre indicada para vestibulares, Aluísio critica ainda os poderosos
proprietários de cubículos, que os alugavam aos menos favorecidos, ela é que
melhor resume os ideais naturalistas, tendo como personagens; lavadeiras,
operários, prostitutas, indivíduos marginalizados que vivem em um ambiente pobre e
promíscuo. Deixou uma obra extensa, de qualidade irregular. Listamos abaixo títulos
e como para o interesse do leitor que queira conhecer melhor as obras de Aluísio de
Azevedo. São elas:
Uma Lágrima de Mulher, novela, 1880 – Seu primeiro romance
publicado , O Mulato, novela, 1881 - que provocou escândalo na
época de seu lançamento, Mistério da Tijuca ou Girândola de
amores, novela, 1882 – Publicado primeiro em folhetim na Folha
Nova; Memórias de Um Condenado ou Condessa Vesper, novela,
1882 – publicado primeiro em rodapé da Gazetinha ;Casa de pensão,
novela, 1884 ; Filomena Borges, novela, 1884 ; O homem, novela;
1887 – Publicado primeiro em rodapé de O País; O cortiço, novela,
1890 ; O coruja, novela, 1890 - Publicado primeiro em rodapé de O
País; A Mortalha de Alzira, novela, 1894 ; Demônios, conto, 1895 ; O
livro de uma sogra, novela, 1895 ; O Bom Negro, crônica ; O
Esqueleto, publicado sob pseudônimo de Victor Leal ; (em
contribuição com Olavo Bilac).; As peças Flor de Lis, em parceria
com seu irmão Arthur Azevedo; As peças : Os Doidos ; Casa de
Orates ; Em Flagrante; Caboclo; Um Caso de Adultério; Venenos que
Curam e República.
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2.3 ESTILO E ESTÉTICA
Aluísio Azevedo foi o responsável por inaugurar o estilo naturalista no Brasil com o
romance O mulato, obra objeto dessa pesquisa. Seu trabalho é visto como irregular
por diversos críticos, uma vez que oscilava entre obras românticas açucaradas, com
cunho comercial e direcionado ao grande público e outras mais elaboradas em que
deixa sua marca de grande escritor naturalista e de crítico social brasileiro. Azevedo
não escondia seu inconformismo com a sociedade brasileira e com suas regras.
Crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições, o romancista Aluisio
de Azevedo abandonou não totalmente as tendências românticas em que se formara
para torna-se, influenciado por Eça de Queiroz, escritor português que, segundo
Massuad Moisés, (1972, p.235). “Eça adere à teoria realista quando passa a
escrever obras de combate às instituições vigentes, ou seja, a monarquia, o clero e
a burguesia”.
Azevedo foi uma espécie de discipulo dos escritores naturalistas europeus, dentre
eles, o mais importante foi Émile Zola, idealizador e principal expoente do
naturalismo na literatura francesa. Através dos seus mestres acima citados. Azevedo
introduziu o naturalismo no Brasil, devido às mazelas sócias que ele presenciava
com a realidade cotidiana, seus temas prediletos foram o anticlericalismo, a luta
contra o preconceito de cor, adultério, os vícios, o povo humilde. Preocupado com as
injustiças, passa a trabalhar com a Literatura em forma de denúncia, mostrando
todos esses aspectos através de suas obras. Para Bosi (1994; p.187 -189).
[...] Em Aluísio Azevedo a influência de Zola e de Eça é palpável; e ,
quando não se sente, é mau sinal: o romancista virou produtor de
folhetins. Aliás, Se a óptica naturalista, capta a mediocridade da
rotina, os sestros e mesmo as taras do indivíduo, ela não será por
isso menos verossímil que a opção contraria dos românticos ; e, o
que mais importa, é tão siginificativa quanto ela, pois uma e outra
são sitomas dos impasses criados no espírito do ficcinista quando se
abeira da condição humana enleada na vida social. [...]
Aluísio faz análise dos tipos socias maranhenses, através de seus romances,
essa caracterísca o valoriza por sua facilidade de retratar agrupamentos humanos .
e nas linhas desse retrato muito nítido denunciando os aspectos problemáticos da
realidade brasileira. Faraco in O Mulato. (2005; p. 16). Essas características está
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em visível em o Cortiço, em que ele usa uma diversidade de personagens cada
uma com sua caractestica própria, que habitam em ambiente promiscuo, revelando
as dificuldades enfretadas pelas classes sociais menos privilegiadas que não tem
condição social para viver em um ambiente de nível mais elevado. Vejamos
Magalhães apud Bosi (1994; p. 188) “ Desistindo de montar um enredo em função
de pessoas, ateve-se à sequencia de descrições muito precisas onde cenas
coletivas e tipos psicologicamente primários atuam trata-se de um caso raro e
precoce de profissionalização literária”.
Durante grande parte de sua vida, Aluísio de Azevedo viveu daquilo que ganhava
como escritor, nessa perspectiva Magalhães, afirma que “Aluísio Azevedo é no
Brasil talves o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa da sua pena,
mas note-se que apenas o pão : as letras no Brasil ainda não dão para a manteiga”.
Aluísio de Azevedo dedicou grande parte de sua vida à literatura, sobreviendo do
que produzia como escritor, mas ao entrar para a vida diplomática deixa de atuar na
produção literária. Nesse contexto José Veríssimo apud Bosi (1994;p. 188) fala
sobre as obras Condessa Vespér, Girândola de Amores, A Mortalha de Alzira...” é
talvez a mesma causa se possa atribuir o estranho abandono das letras que se lhe
nota a partir dos quarenta anos, quando entra para a carreira diplomática e se elege
membro da academia recem-fundada. Essa luta com a pena pelo pão certamente
explica o desnível entre seus romances sérios. Ainda nessa perspectiva sobre a
obra Azevediana Bosi realta que:
Em A Normalista, o resentimento do autor, apoucado pela vida de
amanuense no meio hostil de Fortaleza, leva-o a nivelar todas as
personagens no sentido das pequenas vilezas que a hipocrisia do
meio se esforça em vão pot encobri. O nivelamento, borrando os
limites das figuras humanas, acaba compondo o quadro naturalista e
pessimista da vida citadina” esse acervo de mentiras galantes e
torpezas dissimuladas,
sociedade” . E o andamento moroso da narração, os interiores
mornos e a baixa temperatura moral das criaturas traduzem bem a
intuição geral do romancista.(BOSI, 1994;p. 194).
Azevedo como escritor naturalista não hesita em em trazer os aspectos mais
repulsivos da vida, fixando na camada mais baixa da sociedade, para a literatura.
Ele traz o homem apenas como peça da engrenagem do mundo, ou seja, um animal
ou vegetal como outro qualquer, o autor capta os conflitos do homem da época, os
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seus problemas concretos e os dramas cotidianos de gente simples. Como diria
Cademartori “ No Brasil, Aluísio de Azevedo partilha a maior representatividade da
ficção da segunda metade do século XIX, pois o autor não apenas conhece a
realidade, mas contribui para modificá-la”. Aluísio trabalha focando a vida
preferencialmente dentro da contemporaneidade da época, sua preocupação em
observar e analisar, o autor realista/naturalista retrata distintamente seu tempo. Para
Proença Filha, (2001; p. 242),
Denuncias das desigualdades sociais. Representado, de certa forma
uma rebeldia contra o idealismo romântico, relacionado com a classe
alta, o Realismo logrou impor a pintura verdadeira da vida dos
humildes e obscuros, os homens e mulheres comuns que estão
habitualmente vivendo em tornos de nós [...]
Facilmente se presume que a missão de Aluísio de Azevedo era a um um defensor
dos fracos e oprimidos, como vimos sua intenção era pintar o verdadeiro retrato da
sociedade brasileira, com suas virtudes e defeitos, ou melhor, ele fazia copia fiel dos
fatos politicos, sociais e coriqueiros do dia-a-dia da cidade maranhense,
representado através dos seus personagens.
Diante das pesquisas feitas para este trabalho, encontramos o desejo de Aluísio de
Azevedo desistir de sua carreira literária, devido a má condição de vida, pois
ganhava-se muito pouco, com seu trablho, como todos os outros escritores, mas
Azevedo desiste da literatura e torna-se um diplomata, torna-se também em uma
pessoa desaminada, pessimista e melancólico, percebe-se então que a literatura
não lhe rendia dinheiro, mas era o eixo que movimentava sua vida e a vida
daquelas pessoas das classes menos afavorecida pertencente a uma sociedade
mesquinha e preconceituosa, que ele tanto defendia. Esse sim é o estilo do
romancista Aluísio de Azevedo.
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41
Capítulo III
Desvendando o romance O Mulato
“Se me disessem : É porque é pobre!” que eu trabalharia! Se me dissessem porque
não tem uma condição social !”, juro-te que a conquistaria, fosse como fosse! “ É
porque é um infame! Um ladrão! Um miserável, eu me comprometeria a fazer de
mim o melhor modelo dos homens de bem! Mas um escravo, um filho de negra, um
mulato! E como hei de transformar todo meu sangue, gota por gota?O Mulato.(2005;
p. 234).

3. PRECONCEITO E HIPOCRISIA SOCIAL EM O MULATO
Aluísio Azevedo publica em 1881, O Mulato obra que o nomeia pioneiro do
Naturalismo no Brasil, O autor para divulgar sua obra faz campanha através de
cartazes de rua e anúncios no jornal A Pacotilha que ele fundará com seus
cunhados, e pouco antes da obra vir a público, ele publica uma notícia no jornal O
Pensador da seguinte forma: “Dr. Raimundo José da Silva, distinto advogado que
partilha de nossas idéias e propõe-se a bater os abusos da Igreja. Consta-nos que
há certo mistério na vida deste cavalheiro”. Faraco in O Mulato. (2005; p. 8).
O autor anunciando a chegada de Raimundo em São Luis e usa essa estratégia
para despertar a curiosidade e confundir dos maranhenses se a nota era um
personagem ou uma pessoa real de carne e osso. A obra foi lançada em uma
época em que todo o país se encontrava em oposição à Igreja, pois os padres
mostravam-se em desacordo com as idéias de abolir a escravatura. Vários Estados
brasileiros lutava-se a favor da abolição, menos a Bahia e o Maranhão.
Focaremos no estado do Maranhão, pois a obra em questão é fruto deste contexto,
dá-se então através da ótica do autor Aluísio de Azevedo uma visão do meio
maranhense da época precisamente no final do século XIX , da cidade provinciana
de São Luís , a narrativa acontece de forma linear, começo, meio e fim . Na citação
a seguir Azevedo nos descreve a cidade Maranhense:
“Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do
Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia
sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões
faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham
reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se
mexiam; as carroças de água passavam ruidosamente a todo o
instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de
camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas
para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se
encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido;
só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.
A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. De um casebre
miserável. De porta e janela, ouviam-se gemer os armadores
enferrujados de uma rede e uma voz tísica e aflautada, de mulher,
canta em falsete a “gentil Carolina era bela”; doutro lado da praça,
uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo,
seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas,
42

apregoava em tom muito arrastado e melancólico: “Fígado, rins e
coração!.”Era um vendedeira de fatos de boi. As crianças nuas com
as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhargas maternal,
as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventrezinhos
amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando
papagaios de papel”. O Mulato. (2005;p. 19).
A citação acima representa uma das características do naturalismo, no qual o autor
descreve minuciosamente o cotidiano dos moradores de São Luís. Observamos a
nitidez com que ele nos mostra o ambiente da cidade e seus habitantes , deixando
claro que diante do imenso calor só os pretos faziam suas tarefas, e que única
função deles era a de servir.
“Em todas as direções cruzavam-se homens esbofados e rubros;
cruzavam-se negros no carreto e os caixeiros que estavam em
serviço na rua; avultavam os paletós-sacos, de brim pardo
mosqueados nas espáduas e nos sovacos por grande mancha de
suor . Os corretores de escravos examinavam, à plena luz do sol, os
negros e moleques que ali estavam para ser vendidos ; revistavamlhe
os dentes, os pés e as virilhas; faziam-lhes perguntas sobre
perguntas; batiam-lhes com a biqueira do chapéu nos ombros e nas
coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se
estivessem a comprar cavalos.” O Mulato .(2005;p. 20).
Notamos que os negros eram tratados como animais e mercadorias, os brancos e
português, faziam todo essa análise com negros como foi descrito acima, para
aquisição de sua mão-de-obra. Através das descrições de ambiente como também
das apresentações de situação, o autor faz uma avaliação da sociedade
maranhense da época. Veremos na figura da dona Maria Bárbara, senhora de seus
cinqüenta e tantos anos, que aceitou o convite do genro Manoel Pescada de morar
em sua casa junto com ele e sua neta a Ana Rosa protagonista do romance:
[...] O rosto enrugado e macilento, apesar do seu grande fervor pela
Igreja e apresar das missas que papava por dia, dona Maria Bárbara,
apesar de tudo isso, saíra-lhe “má dona de casa”. Era uma fúria!
Uma víbora! Dava nos escravos por hábito e por gosto só falava a
gritar e, quando se punha a ralhar, Deus nos acuda, incomodava
toda a vizinhança! Insuportável! Maria Bárbara tinha o verdadeiro tipo
das velhas maranhenses criadas na fazenda. Tratava muito dos
avós, quase todos portugueses; muito orgulhosa; muito cheia de
escrúpulos de sangue. Quando falava dos pretos, dizia “os sujos” e,
quando se referia a um mulato, dizia “o cabra”. Sempre fora assim e,
como devota, não havia outra. [...] O Mulato. (2005; p. 23).
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A personagem é o retrato fiel do preconceito racial e da religiosidade maranhense da
época, notamos que o seu próprio nome Bárbara, representa sua personalidade,
uma pessoa rude, cruel e desumana, que sempre menospreza a classe negra,
temos assim uma das características da sociedade provinciana do Maranhão.
Nessa mesma cidade conservadora, nasce a historia de amor entre Ana Rosa e
Raimundo, Ana Rosa uma jovem bonita de olhos pretos e cabelos castanhos, que
puxara da mãe, e rijezas dos dentes e do corpo que herdará do pai, Manoel Pedro da
Silva, mais conhecido como Manoel Pescada, um português, de cinqüenta anos,
forte, vermelho e trabalhador. Ela sonhava com um casamento romântico, sonhava
com seus filhos. Lembrava sempre o que sua mãe lhe disse no leito de morte.
[...] Minha filha não consinta nunca que te casem, sem que mãe
deveras o homem a ti destinado para marido. Não te cases no ar!
Lembra-te que o casamento deve ser sempre a conseqüência de duas
inclinações irresistíveis. A gente deve casar porque ama, e não ter de
amar porque casou. Se fizeres o que digo serás feliz! [...]. O Mulato;
2005, p. 25).
Assim Ana Rosa ao se tornara completamente mulher, sonhava com um herói
romântico que virá salva–lá da vida melancólica na cidade do Maranhão. E nesse
período é que chega a cidade de São Luis, depois de anos na Europa, Raimundo
um jovem bonito, rico e virtuoso, advogado, tinha os gestos bem educados, sóbrios,
despido de pretensão, falava em voz baixa, vestia-se com serenidade e bom gosto;
amava as artes, as ciências e a literatura. Era sobrinho do Sr. Manoel Pescada, pai
da jovem Ana Rosa. Raimundo é portador de todas as características de herói, pelo
qual a Ana Rosa tanto sonhava.
A família do Manoel Pescada recebe bem o Dr. Raimundo, com exceção da avó de
Ana Rosa, um senhora beata e preconceituosa a dona Maria Bárbara, Raimundo
percebe que as pessoas da cidade o olham com estranhezas , mas imagina que seja
por ser novo na cidade e por ele vir da Europa. Ana Rosa se apaixona pelo primo e
declara seu amor, Raimundo corresponde a paixão da prima, mas o casal terá que
enfrentar três obstáculos: avó Maria Bárbara, mulher racista; o Cônego Diogo,
comensal da casa e adversário natural de Raimundo ele era o mais empenhado em
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impedir a união do casal, uma vez que fora responsável pela morte do pai do
jovem, e o Manoel Pescada seu tio o pai de Ana Rosa, que queria a filha casada
com Luis Dias, um dos caixeiros da loja. Todos três conheciam as origens negróides
de Raimundo sendo ele filho da escrava Domingas e José Pedro, irmão do Manoel
Pescada.
A dona Maria Bárbara seu primeiro obstáculo como se sabe é o preconceito racial
em pessoa, o segundo obstáculo é o cônego Diogo:
Era um velho bonito, tinha menos de sessenta anos, mas ainda
estava forte e bem conservado; olhar vivo, o corpo teso, mas ungido
de brandura santarrona. Calçava-se com esmero, de polimento;
mandava buscar da Europa, para seu uso, meias e colarinhos
especiais, e , quando ria, mostrava dentes limpos, todos chumbados
de ouro. Tinha movimentos distintos; mãos brancas e cabelos alvos
que fazia gosto. O Mulato. (2005; p.32 e 33).
O Cônego era melhor representante da Igreja, com poder de persuasão sobre seus
fiéis, Mas por trás dessa figura santificada escondia um homem maquiavélico,
manipulador, preconceituoso e assassino, ele era o mais que se empenhava em
impedir essa união, uma vez que fora o responsável pela morte do jovem Raimundo,
motivo que descobriremos na citação a seguir:
[...] Ao chegar lá, sabendo que não o esperavam essa noite e como
visse luz no quarto da esposa, apeou-se em distancia e, para não se
encontrar com ela, guardou o cavalo e entrou silenciosamente na
fazenda [...] Ouviu aí sussurros de vozes que conversavam.
Aproximou-se levado pela curiosidade e encostou o ouvido à porta.
Reconheceu a voz da mulher. [...] Sem esperar mais nada, meteu
ombros à porta e precipitou-se dentro do quarto, atirando-se com
fúria sobre a esposa, que perdera logo os sentidos. O padre Diogo,
pois era dele a outra voz, não tivera tempo de fugir e caíra, tremulo,
aos pés de José. Quando esta largou das mãos a traidora, para se
apossar do outro, reparou que tinha estrangulado. E dando à voz um
exijo em troca o seu para a minha culpa...Aceita? O padre cumpriu a
promessa [...]. O Mulato (2005; p. 53).
Ele um missionário religioso que prega os dogmas da Igreja, sempre tido por homem
de muita santidade e de grande virtudes teologias, flagrado em adultério, não
ficando satisfeito com o pacto de cumplicidade que fizera com José Pedro, então o
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cônego Diogo planeja friamente matar o pai de Raimundo, e assim acabaria com a
única prova de adultério contra ele, saindo ileso dessa situação.
O terceiro obstáculo é o pai da Ana Rosa, o Manoel Pedro, como ele pertence de
uma cidade tradicionalista, e havia prometido a sua sogra a Maria Bárbara que só
consentia o casamento da filha a um branco de lei, um português ou um
descendente direto de portugueses, e também para dar continuidade ao negócios
do comércio, era costume o patrão casar a filha com o primeiro empregado, assim
prolongaria os negócios comerciais, com sucesso e o felizardo era o caixeiro Luis
Dias, que o patrão o via uma criatura trabalhadora e passiva, homem que faria sua
filha feliz. Queria-o como genro e para sócio. Veremos como Azevedo o descreve
esse rapaz promissor no comércio:
O Dias era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal
denunciava na casaca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas
do rosto, no desprezo do próprio corpo, um rapaz magro e macilento,
um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos
fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés
monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os
desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes
nadando. O Mulato (2005; p.45 e 46).
O autor usa de seus dons de caricaturista e descreve realmente como eram os
moradores da época, diferente do romantismo que não existia o feio, mas somente o
belo. Azevedo traz o contraste entre o Dias e o Raimundo, personagens que
representam verdadeiramente as pessoas como são. O caixeiro não era tão bom
quanto o Manoel Pescada pensava, ele tinha um único objetivo que era enriquecer
e para isso seria capaz de tudo sem examinar, qualquer caminho desde que lhe
parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais
rapidamente ao ponto desejado e Ana Rosa seria o caminho certo. Mas os
sentimentos de Ana Rosa já estava comprometido pelo primo Raimundo:
[...] Aquele rosto quente, de olhos sombrios, olhos feitos do azul do
mar em dias de tempestade, aqueles lábios vermelhos e fortes,
aqueles dentes mais brancos que as presas de uma fera
impressionavam-na profundamente. “Que espécie de homem estaria
ali...” ainda mais interessante o tornavam aos olhos dela. “Mas,
afinal, quem seria certo aquele belo moço?...” E Ana Rosa deixava-
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se invadir lentamente por aquela embriaguês, esquecendo-se,
alheando-se a tudo, sem querer pensar em outra coisa que não fosse
Raimundo. De repente surpreendeu-se a dizer: “Como deve ser bom
o seu amor...” Estremece, porém, vieram-lhe desejos de os apalpar
com os lábios. Como devia ser bom ouvir dizer Eu te amo! Por
aquela boca e por aquela voz!...O Mulato. (2005;p.92 - 93).
Raimundo não se recorda da infância com Ana Rosa, pois foi Mariana mãe da jovem
quem cuidara dele quando criança e Ana Rosa não havia nascido e pouco depois
do seu nascimento Raimundo ainda pequeno já fora estudar fora do Maranhão. Ele
não tem esse ligamento fraterno com a moça, no qual foram criados separados.
Raimundo começa a observar Ana Rosa não mais como irmã , mas com interesse,
contemplando-a e vendo em seu semblante uma moça simples e bem-disposta:
[...]Deve ser, com certeza, uma excelente moça... calcula de si para
sim.” Pelo seu todo está a dizer que é boa de coração e honesta por
natureza. Além do quê é bonita”. Notou-lhe então a frescura da pele,
a pureza da boca, a abundância dos cabelos. Achou-a bem tratada;
as mãos claras, os dentes asseados, a tez muito limpa, fina e
lustrosa, na sua palidez simpática de flor do Norte. O Mulato.
(2005;p.95-96).
Raimundo era filho do José Pedro irmão do Manoel pescado e da escrava
Domingos, até então ele não sabia de sua origem, e só descobriu quando seu tio
recusou a mão de sua filha Ana Rosa em casamento:
É a mão de minha filha que desejas pedir? É ...
Então ... tenha a bondade de desistir do pedido...
Por quê? Para poupar-me o desgosto de uma recusa...
Como?!... Conte-me tudo! Juro-lhe que lhe ficarei reconhecido por
isso! Ou, quem sabe? Serei tão desprezível a seus olhos que nem
sequer lhe mereça tão miserável prova de confiança?...
Não! Não! Ao contrário, meu amigo! Eu até levaria muito em gosto
o seu casamento com a minha filha, no caso de que isso tivesse
lugar!...E só peço a Deus que lhe depare a ela um marido possuidor
das duas boas qualidade e do seu saber; creia, porém, que eu, como
bom pai, não devo, de forma alguma, consentir em semelhante
união. Cometeria um crime de assim procedesse!...
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-lhe a mão de minha filha, porque o senhor é... é filho de
uma escrava.
sa, mas é
por tudo! A família da minha mulher foi sempre muito escrupulosa a
esse respeito, e com ela é toda a sociedade do Maranhão! O Mulato.
(2005;p.194).
Facilmente se presume que ser um mulato para a sociedade Maranhense era um
crime, com base no que citamos anteriormente vemos que o Manoel Pescada é
influenciado pelo cônego Diogo seu conselheiro, pela família da esposa e pela
sociedade a ser preconceituoso, mas sua razão diz o contrário, mas como nessa
província o preconceito pesa mais que a razão, então ele tem que obedecer as
regras que o meio determina. Mas Ana Rosa ao descobrir o motivo pelo qual
Raimundo a abandonara, o encoraja a não partir do Maranhão;
Não partirás... Que tenho eu com o preconceito dos outros? Que
culpa tenho eu de te amar? Tenho culpa de que minha felicidade só
depende de ti? Ana Rosa caiu de joelho , sem desgarrar do corpo
que precisa de tua compaixão!Sou tua!Aqui me tens, meu senhor,
ama-me! Não me abandones! O Mulato. (2005;p.232).
Notamos os traços românticos, nesse caso percebemos que Aluísio de Azevedo
está indo em direção do naturalismo, mas que não se desligou definitivamente do
romantismo. Mas todos esses acontecimentos fizeram com que o amor dos dois se
fortalecesse cada vez mais e, contra tudo e contra todos, os amantes armam um
plano de fuga, mas o terrível Cônego Diogo usa da sua autoridade religiosa e
através das confissões de Ana Rosa descobre todo o plano e com a colaboração do
caixeiro Dias, que intercepta as cartas do casal. E no exato momento da fuga o
casal foi surpreendido, o Cônego armou um maior escândalo com direito até de
soldados, ao mesmo tempo fingia-se protetor do casal, com isso impediu a fuga do
casal.
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Raimundo foi obrigado a sair da casa de Ana Rosa, mas prometeu para ela que
seria seu esposo, ela também jurou ser dele. Ao voltar para casa atordoado, e, ao
abrir a porta de casa, é atingido nas costa por tiro. E quem comete esse ato cruel é o
Luis Dias, por incentivo do Cônego Diogo:
[...] Você conquistou a sua posição naquela casa com uma longa
dedicação, com um esforço de todos os dias e de todos os instantes;
você enterrou ali a sua mocidade e empenhou o seu futuro: você deu
tudo, tudo que dispunha, para receber agora o capital e os juros
acumulados! E o outro? Um negro forro à pia não pode aspirar à
mão de uma senhora branca e rica! É um crime! É um crime, que o
facínora quer, a todo transe, perpetrar contra nossa sociedade e
especialemte contra a família dão homem a quem você dedicou,
uma família que, por bem dizer, já é sua, porque o Manoel Pedro tem
sido para você um verdadeiro pai, um amigo sincero, um protetor
que devia merecer –lhe, ao menos, o sacrifício que você agora
duvida fazer por ele! É um a ingratidão! Nada mais nada menos! Mas
a justiça divina. [...]. O Mulato. (2005;p.270).
E o cônego com seu poder de persuasão e por ser um homem religioso, convence o
caixeiro fazendo com que ele elimine o Raimundo, usando uma pistola emprestada
pelo Cônego Diogo, o mesmo que assassinara o pai de Raimundo, também foi
responsável direto pela sua morte. Como segue abaixo:
[...] Raimundo levantou-se e segui pela Rua Grande. “Agora talvez
dormisse um pouco... Estava tão fatigado!...” Quando atravessou o
campo de Ourique, pensou sentir alguém acompanhado-o, olhou
para os lados e não descobriu viva alma. “enganara-se com
certeza...Era talvez o eco dos seus próprios passos...” Continuou a
andar, até chegar a casa. Mas, do vão escuro, em que se formava o
limite da parede, rebentou um tiro, no momento em que ele dava
volta à chave. Este tiro partira de um revolver fornecido ao Dias pelo
Cônego Diogo. Todavia, no instante supremo, faltara ao pobre diabo
coragem [...] Dias fechou os olhos e concentrou toda a energia no
dedo que devia puxar o gatilho. A bala partiu, e Raimundo, com um
gemido, prostrou-se contra a parede [...].O Mulato. (2005;p.274-275).
Com o extermínio de Raimundo, Dias teria o caminho livre para casar-se com Ana
Rosa, pois dessa forma obteria uma posição melhor e tornaria rico. Ana Rosa sofre
muito por ter perdido seu filho e seu único amor, Após seis anos do acontecido Ana
Rosa, para não ser execrada da sociedade, resolve fazer a vontade do seu pai e a
do Cônego Diogo e casa-se com Luís Dias, por quem tinha a repugnância, mas é
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preciso alinhar-se as regras da sociedade. Em síntese a pressão social revela-se
mais forte que os sentimentos, e assim desfaz o mito do amor romântico; “E foram
felizes para sempre”.
Aluísio Azevedo mostra como esses personagens vivem em função do meio, mas
também podem sofrer alteraçãoes pelo mesmo. No caso de Luis Dias , foi através
do padre, uma figura religiosa que o incentivou a cometer atos cruéis, e assim ele
conseguiria alcançar seu objetivo, casar com Ana Rosa se tornando um menbro da
elite Maranhense. Assim Aluísio de Azevedo retratava com veracidade a
sociedade da época destacando a ambição, o desejo de poder, o indinheiro acima
de tudo e de todos e o preconceito racial que vem dos séculos passados se
perpertuando até os dias de hoje.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra O Mulato, de Aluísio de Azevedo, como tantas de suas obras, o escritor faz
uma mistura do real com a ficção, revelando fatos e acontecimento da vida
cotidiano das pessoas maranhenses que ele conhecera e observara. Azevedo se
insere em um contexto bastante complexo, abrangendo duas tendências literárias de
um mesmo século, o Romantismo na primeira metade do século XIX e o
Realismo/Naturalismo na segunda metade do mesmo século.
Nesse período o Brasil passava por várias mudanças o campo industrial, com o
surgimento de várias fábricas; de chapéus, sabão, tecidos e outras mais, a
substituição da mão - de - obra escrava pelo trabalho assalariado, a decadência
açucareira, a extinção do tráfico negreiro e o fim da escravidão em 1888, que deu
início a vinda dos imigrantes para o Brasil, como também a época das descobertas
e invenções, todos esses aspectos são reflexos da revolução francesa.
Observou-se no decorrer da pesquisa que o Positivismo de Comte, Determinismo de
Taine e o Evolucionismo de Darwin, são as correntes filosóficas que influenciaram e
serviram de bases para ampliar as idéias dos escritores naturalistas. Os escritores
desse período procuravam representar acima de tudo a verdade, a miséria, a fome e
a má condição de vida de um meio pouco sensível. Para tais denúncias Azevedo
fazia uso de seu dom de caricaturista mostrando os costumes e a cultura
maranhense na forma de seus personagens, em uma época em que se têm uma
sociedade dominada e manipulada pelo clero, focada na personagem do cônego
Diogo , que esconde toda sua crueldade por trás da batina, como podemos vê o
cônego está mais para representante do diabo que para santo, como toda a
população o considerava.
Seja como for, nos seus altos e baixos, Aluísio foi o expoente de nossa ficção
urbana, um transgressor, saiu de um período Romântico idealizado para um período
Naturalista, expondo as mazelas de uma sociedade insensível. O romance O
Mulato veio como arma de combate contra essa elite maranhense, e todas as que se
enquadram nesse mesmo sistema preconceituoso.
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Tudo que foi dito e exposto tem como úncio vilão, os preconceitos racial e social
capazes de destruir a vida de um indivíduo como consta na obra Azevediana em
questão. Um mulato, filho de uma escrava, mesmo com todos adjetivos que o autor
descreve, Raimundo com o esteriótipo totalmente diferente dos mulatos da época,
ou seja, Advogado, rico, educado e bonito, atraente e elegante, com todas essas
virtudes ainda assim ele não se enquadrava nas normas sociais Maranhense .
Este romance proporcionou um vasto conhecimento contextual desse século, que
não está muito longe, com tanta crueldade e injustiça. O romance O Mulato vem
para externar as mazelas sociais sofridas pelas classes menos favorecidas, é uma
amostra do que era a sociedade de São Luis do Maranhão. Aluísio Azevedo que
também fora vítima de preconceito por ser filho de uma mulher “separada do
marido”, época dos casamentos por conveniência, não cruzou os braços diante de
tantas pervecidade, fazendo da literatura um instrumento de combate social,
questionando e se opondo aos fundamentos da sociedade, contestando a
escravidão e denunciando as condições preconceituosa em que se vivam no seculo
XIX, e que se perdura até os dias de hoje.
Percebemos que a sociedade, indiretamente, continua ainda com essas ações, e o
negro ainda não conseguiu se libertar totalmente da escravidão, ele vem sempre
como representante da classe inferior, são poucos que circulam pelas ruas das
cidades, escolas, faculdades, comércio trabalhista e na televisão e quando
aparacem em anúncios e propaganda é muito raro um papel principal, e quando é
o protagonista, tem como fundo o interesse político e capitalista, até mesmo no
meio literário o negro é apresentado como escravo, como servo, marginal, sem
destaque nenhum, raramente quando consegue ascensão social, já passou por
muitos preconceitos e humilhações, e Azevdo foi uma espécie de defendo dos
injustiçados e traz o personagem Raimundo para quebrar essa ideologia
escravista, mostrando que o mundo é de todos, o respeito deve ser mútuo não se
deve avaliar as pessoas pela sua etenia , mas sim, pela seu caráter e conduta .
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5. REFERENCIAS
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AZEVEDO, Aluisio. O Mulato. São Paulo: Martin Claret, 2005.
_______________. O Mulato. Rio de Janeiro: Àtica , 2005.
_______________. O Cortiço. São Paulo: Martin Claret, 2006
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Cultrix, 1994.
CADERMATORI, Ligia. Períodos Literários, São Paulo, Ática, 2002.
CANDIDO, Antônio. A Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Itatiaia, 8º
edição, 2º volume, 1997.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura e Linguagem, Petrópolis, Vozes, 1994.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil, 17º Edição. Rio de Janeiro:
berttand Brasil, 2001.
FARACO, Carlos. O povo como personagem in O Mulato,São Paulo: Ática, 2005.
GUILERMINO, César. O Mulato, São Paulo: Ática, 2005.
MARTINS, Patrícia. Manual de Literatura, São Paulo: 2004.
PROENÇA FILHO, Domício, Estilos de Época na Literatura, São Paulo: Àtica,
2001.
QUEIROZ, Eça. O Crime do Padre Amaro, São Paulo: Martin Claret, 2002.
RECANTODASLETRAS. Literatura 08 de setembro de 2009, disponível em
.Acesso em: 15 de
set de 2009, às 17:00 h.
WIKIPÉDIA. Biografia Aluísio de Azevedo 01 de out 2009, disponível em:
.Aacesso em: 15 de out de 2009, às
9:00 hs.
___________. Vida e obra de Aluísio Azevedo 11 de out 2009, disponível em:
. Acesso em: 23 de out. 2009, às
16:40m.
ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Ática, 2000.
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ANEXOS
“Aluísio Azevedo é no Brasil talvez o único escritor que ganha o pão exclusivamente
à custa da sua pena, mas note-se que apenas o pão : as letras no Brasil ainda não
dão para a manteiga”. Magalhães apud Bosi (1994; p. 188).

Família Azevedo
Aluísio, Emília Amália e Arthur Azevedo
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Aluísio
Aluísio e Arthur
Caricatura: Revista Frotzmac
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Capa do Jornal O Fígaro
Apresentando Aluísio Azevedo como novo ilustrador
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Escola Nacional de Belas Artes
Rio de Janeiro – 1858
Litografia :Victor Frond
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Damas e Cavalheiros- sc. XIX
Foto: Charles Gibson
Família de operários -1891
Foto: Hubert yon Herkomer
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Mulato – Fotografado em 1965
O Mulato
Mulato –ótica Azevediana, imagem de 2005.
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