1 PAULO E ESTEVÃO FRANCISCO CÂNDIDO ... - O Consolador
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cegueira da ignorância. Vamos até lá dentro, prendamos os chefes. Os<br />
sequazes do carpinteiro hão de ser perseguidos até ao fim.<br />
Resoluto, tomou a dianteira, penetrando ousadamente em busca dos<br />
apartamentos mais íntimos. De porta a porta, encontrava mendigos que o<br />
fitavam tomados de espanto e amargura. O quadro vivo de tanta miséria<br />
abrigada enchia-o de admiração; mas, esforça va-se por não perder a<br />
enfibratura implacável, de maneira a executar seus projetos nos menores<br />
detalhes. Ao lado da enfermaria de mais vastas proporções, en controu o filho<br />
de Zebedeu, que lhe ouviu a voz de prisão sem alterar a serenidade<br />
fisionômica.<br />
Sentindo as mãos grosseiras do soldado que lhe aplicava as algemas,<br />
João ergueu os olhos ao Alto e murmurou simplesmente:<br />
— Encomendo-me ao Cristo.<br />
O chefe da caravana olhou-o com profundo desprezo e exclamou<br />
altivamente para os companheiros:<br />
— Faltam dois dos mais suspeitos. Procuremo -los Referia-se a Filipe e<br />
Tiago, na qualidade de discípulos diretos do Messias Nazareno.<br />
Mais alguns passos e o primeiro foi encontrado facilmente. Filipe deixou -se<br />
algemar sem um protesto. Suas filhas o rodearam aflitas e chorosas.<br />
— Coragem, filhas — disse ele sem temor —, acaso seríamos superiores<br />
a Jesus, que foi perseguido e cru cificado pelos homens?<br />
— Ouves, Clemente? — perguntou SauLo, irritado, a um dos amigos mais<br />
cotados. — Não se percebe outra coisa a não ser referências ao estranho<br />
Nazareno! O primeiro falou em jugo do Cristo, o segundo encomen dou-se ao<br />
Cristo, este alude à superioridade do Cristo... Aonde iremos?<br />
Após desabafar a cólera, em termos ásperos, rema tava com o estribilho<br />
constante:<br />
— Havemos de ir até ao fim.<br />
Seguros os três prisioneiros, faltav a o filho de Alfeu. Alguém se lembrou de<br />
procurá-lo no tosco biombo que ocupava. Com efeito, lá o acharam ajoelhado,<br />
tendo diante dos olhos um rolo de pergaminhos em que se en contrava a Lei de<br />
Moisés. Via-se-Lhe a palidez marmórea do rosto, quando Saulo s e aproximou<br />
ríspido:<br />
— Que é isso? Há aqui alguém que cuide da Lei?<br />
O irmão de Levi levantou os olhos transbordantes de sincero receio e<br />
explicou humilde:<br />
— Senhor, jamais esqueci a Lei de nossos pais. Meus avós ensinaram -me<br />
a receber de joelhos as luzes d o profeta santo.<br />
A atitude de Tiago não traduzia fingimento. Con sagrando o máximo<br />
respeito ao libertador de Israel, sem pre ouvira dizer que seus livros sagrados<br />
estavam tocados de virtude santa. Na expectativa do cárcere, atemoriza ra-se<br />
com o perigo iminente. Não pudera compreender, maiormente, como outros<br />
companheiros, o sentido divino e oculto das lições do Evangelho. O sacrifício<br />
inspirava-lhe indisfarçáveis temores. Afinal, pensava ele na compreensão<br />
parcial do Cristo: — quem ficaria para superintender as obras começadas? O<br />
Mestre expirara na cruz e, naquele instante, os Apóstolos de Jerusalém esta -<br />
vam presos.<br />
Precisava defender-se com os meios possíveis, ao seu alcance. Imaginou<br />
recorrer às virtudes sobrenaturais da Lei de Moisés, de acordo com as velhas<br />
crenças. Genuflexo, esperara os verdugos que se apro ximavam.<br />
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