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Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

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Com sua trama motivada por uma relação de investimento em sociedade, por<br />

uma negociação validada por todos os meios jurídicos, legais que garantam os direitos e<br />

os deveres das partes envolvidas, A Especulação evidencia a existência de aspectos<br />

concernentes aos padrões burgueses que alteram no período romântico as relações da<br />

sociedade com o dinheiro – no que diz respeito ao dote. Além disso, para os grandes de<br />

fraque e cartola “o dinheiro é a única medida de qualquer talento ou reputação” 159 .<br />

Assim, uma vez que o casamento passa a ser visto como um negócio e forma de<br />

ascensão social para a sociedade burguesa emergente, vejamos como se organiza o ardil<br />

financeiro do nosso caça-dotes, protagonista de A Especulação:<br />

“Em hum dos sitios mais pittorescos dos arredores de Pariz, possue o<br />

Sr. L..... rico capitalista, huma mui linda casa de campo onde passa os<br />

melhores mezes da bella estação. Ha pouco tempo, parou hum<br />

cabriolet no portão do parque, e delle se apeiou um moço que, pelo<br />

traje casquilho, physionomia ingenua e porte airoso, denotava ser<br />

frequentador da bolsa e de Tortoni. O recem-chegado tocou a<br />

campainha, fez-se annunciar e foi introduzido. O dono da casa estava<br />

acidiosamente estirado sobre hum sofá, de chambre e chinelas, em<br />

huma sala ornada com todo o luxo da capital, porque o Sr. L.., que não<br />

tem mui particular affeição á doce moral do Homem dos campos,gosta<br />

de transportar Pariz para a aldêa, e julga que no campo mais ainda que<br />

na cidade, se carece desses prazeres e desses commodos que,<br />

multiplicando as sensações engrandecem a esphera da existencia.” 160<br />

Aqui percebemos a caracterização das personagens: o investidor e o capitalista.<br />

O primeiro, ornado de todos os dotes burgueses que lhe atribuem seu status; o segundo,<br />

segundo nada afeiçoado à moral do homem dos campos e rodeado, literalmente<br />

159 MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 262<br />

160 A Especulação.In: O <strong>Recreador</strong> <strong>Mineiro</strong>. Tomo IV. Nº 37, 01/07/1846. p. 587<br />

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