Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

“A história com todos os fumos da antiga aristocracia, apenas demora
suas vistas soberanas sobre altos casos, os reis, suas victorias,
desastres e politica: o romance, menos altivo, democrata moderno,
compraz-se com poucas cousas, abraça a multidão, identifica-se com o
povo, e modes o segue a indole e caracter nacional.” 140
Denunciam o fato de que, por várias vezes, o historiador traça a seu modo os
fatos, ornando-os de outras molduras e dando-lhes outra aparência. Consideram que o
romancista, por sua vez, parecendo entregue de todo à imaginação é mais inclinado à
verdade do que à História, descreve fielmente os costumes da época, apresentando em
seus quadros as virtudes e vícios do seu tempo e povo. O historiógrafo, segundo os
redatores todo ocupado com reis, mortos, incêndios e batalhas, teria apenas tempo de
marcar-nos algumas datas para certos acontecimentos políticos; enquanto que o
romancista, lidando sempre com o súdito, tomaria para si a tarefa de traçar melhor a
fisionomia da nação, aprofundando-se mais em suas querelas, lançando melhor luz
sobre a matéria e mostrando claramente o que se passa no tempo:
“Assim suas pinturas são mais vivas, esmiuçadas e verdadeiras, seus
traços mais animados, e suas producções respirão actividade, força e
vida; este estudo alcança o homem em sua fisiologia, e o garboso no-
lo mostra em acção: aquelle porem enfadonho e monotono, sob
honorifico nome de historia, apresenta-nos sem graça hum esqueleto,
cujos ossos truncados, ligados á vontade, offerecem as saliencias que
o autor quiz, e não as marcas da inserção dos musculos, trajecto de
vasos, e outras que verdadeiras saõ e realmente existem.” 141
Consideravam que o romance era ainda de interesse do filósofo, quando este, em
sua imaginação ardente, borbulhando de idéias de amor do seu país, traça um plano de
140 O Romance. In: O Recreador Mineiro. Tomo I. nº 02. p.19.
141 Idem.
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