Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

estrangeiros que suportariam o sentimento de lusofobia. Portanto, a tradução funcionou,
neste caso, como o veículo dessa incorporação de ideologias: promovendo não só a
divulgação das idéias dos cronistas que por aqui passaram e o conhecimento dos estudos
sistemáticos por eles feitos acerca do Brasil, como também a aceitação de tais idéias,
passando assim os intelectuais brasileiros a apropriar-se delas na constituição do
discurso nacionalista brasileiro.
Contudo, percebe-se que, de certa maneira, os redatores do Recreador tinham
consciência da receptividade e da valorização do “estrangeiro”, caracterizadas pela
visão eurocêntrica do mundo nos séculos XVIII e XIX. Este aspecto pode ser observado
com maior clareza no artigo O Estrangeirismo, publicado à página 365 do 2º tomo do
Recreador Mineiro. Devemos destacar o fato de que o referido artigo é de autoria de um
dos assinantes do periódico. O anônimo assinante inicia seu texto comentando que:
“Ordinariamente e em toda parte gostâmos mais do que é estrangeiro,
do que o que é nacional. Ainda que hum juizo solido e amigo das
realidades, nos mostre huma boa cousa que é nossa, lá vem a
imaginação frivola do homem, e por circunstancias que nada influem
essencialmente na cousa , faz-nos achar melhor o que não é nosso!” 137
Comenta que, se, por exemplo, fosse composta na cidade de Ouro Preto uma
moda de viola, enquanto não se soubesse que o autor era ouropretano esta passaria pela
do melhor gosto possível, mas desde que se apontasse com o dedo para seu verdadeiro
autor cessaria todo o prestígio. Logo seria fria, não casaria bem a música com a letra,
seria muito extensa, ou muito breve. Em seguida, o ilustre assinante anônimo aborda a
temática dos romances, declarando que se fosse escrito, por exemplo, um romance cujo
assunto fosse um fato contemporâneo e acontecido na província, ler-se-iam esse
137 O Estrangeirismo. In: O Recreador Mineiro. Tomo II. p.365.
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