Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

da relação linguagem/ ideologia aparece em duplicidade na tradução, apresentando um
complicador a mais: o confronto que se situa na relação tradutor X obra original. Outra
instância desse conflito é aquela em que a ideologia/ cultura de uma comunidade
lingüística diverge parcial ou totalmente da de outra comunidade para a qual a obra é
traduzida.
Assim, considerando o processo de tradução como o confronto entre duas
línguas (sendo as estruturas lingüísticas de cada idioma condicionadas por normas
sociais sujeitas a grandes variações interculturais), podemos crer que o momento
histórico em que são realizadas as traduções publicadas em O Recreador Mineiro
influenciou, tanto na aceitação da ideologia presente nos textos originais, quanto na
absorção dessa ideologia em detrimento daquela anteriormente vigente com o propósito
de construção de uma nova realidade através da materialização da ideologia da língua
de partida na língua de chegada (neste caso, a Língua Portuguesa falada no Brasil):
(...) Os artigos traduzidos (menciona-se sómente os de traducção dos
R R.) apresentão-se como outras tantas peças originaes dos mesmos R
R., debaixo das relações de sua versão. (...) ora invocando as
circumlocuções, ora apropriando-nos de um só termo, mais, ou menos
intenso na accepção, adultera-se o pensamento original (...) Mas
quando sobrevenha ou deixe de sobrevir esta dolorosa alternativa, o
traductor, feliz na copia do seu verdadeiro prototypo, qual o
pensamento que transfere para o patrio idioma, fructo nunca sazonado
sem a luz dos principios, e o laborioso das fadigas, é sempre digno dos
attibutos honrosos da originalidade. 136
Com isso, percebemos que os redatores de O Recreador Mineiro, além de terem
se valido da tradução de textos de estrangeiros para resgatar e documentar a História de
Minas Gerais, incorporaram ao discurso nacionalista os traços ideológicos desses
136 Schollio aos seis volumes do recreador mineiro. In: O Recreador Mineiro. Tomo VII.
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