Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

elaçOes’que muito menos me desvelei em corrigir o meu estilo, do
que pintar com fidelidade o que havia observado.”
Taes sào os caracteres do Archivo, que possuimos; e a interpretação
dos signaes, que o representão, escondido á língua vulgar, contrahe de
certo huma divida, que a necessidade da illustração geral tem direito a
reclamar. Entretanto continuaremos a offerecer aos nossos assignantes
os trabalhos das nossas versões sobre as referidas viagens; aspirando a
que de alguma maneira se amortize aquella divida, cuja existencia
conserva huma lacuna, que desejariamos ver preechida.” 129
Percebemos que a opinião dos R.R. acerca da obra de Saint-Hilaire revela
grande identificação com as idéias do cientista naturalista. Os R.R. procuram amortizar
uma dívida “que a necessidade de illustração geral tem o direito de reclamar”. Assim,
objetivando ilustração geral, as descrições e os comentários imparciais do sábio e
ilustrado viajante naturalista francês teriam grande utilidade. Contudo, o ponto de vista
de Saint-Hilaire não é tão imparcial. Observemos o fragmento abaixo, que é parte do
prefácio escrito por Auguste de Saint-Hilaire para seu livro Viagem pelas províncias do
Rio de Janeiro e Minas Gerais:
“Permitir-me-ei a poucas reflexões; direi o que tiver visto, procurando
apresentar os fatos sob o seu aspecto real, deixando, na maioria das
vezes, ao leitor, tirar por si as consequências.” 130
Percebe-se nele, de forma ambígua: a tentativa de isenção do autor com relação
aos fatos que relata; e o fato de que o autor orienta a narrativa através do foco
determinado pelo próprio olhar. Portanto, as conseqüências possíveis ao leitor são
previamente filtradas pela ótica do autor. Ótica essa que se dá sob o prisma do
129 In: O Recreador Mineiro. Tomo II. nº 15, 01/08/1845. p.225
130 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais; tradução
de Vivaldi Moreira. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1975.
P.04.
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