Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

fama e na glória, e não na necessidade de crédito (a qual vem em primeiro lugar para os
povos protestantes). Assim, outros povos percebiam ser de maior conveniência o
estabelecimento de vínculos imediatos com os povos ibéricos do que as relações formais
que constituem norma ordinária nos tratos e contratos. Isso evidencia que a política de
concessão de favores existente no sistema de relações característico dos povos de estirpe
ibérica sobrepõe-se para estes à racionalização dos negócios: “O freguês ou cliente há
de assumir de preferência a condição do amigo”. 111 O que vem a ser um obstáculo para
a racionalização econômica, uma vez que o sistema de relações é contrário à rígida
aplicação de normas de justiça e de quaisquer prescrições legais que visem normatizar
as relações de negócios.
Assim, verificamos que a tentativa de adequação da nação brasileira aos moldes
liberais vigentes no século XIX configurou-se como um rompimento com a tradição
ibérica, com o modus vivendi dessas nações e, principalmente, com a mentalidade
retrógrada e dogmática oriunda da colonização. A necessidade de se estabelecer como
nação desenvolvida e culta fez com que os brasileiros tomassem a França e a Inglaterra
como exemplos, através dos escritos de autores destes países – e a presença de
estrangeiros radicados na região de Minas Gerais fez com que essa influência ocorresse
de maneira direta. Torna-se, contudo, importante ressaltar que houve um interesse
político claramente expresso para que tais rompimentos e mudanças pudessem ocorrer.
Esse interesse, aliado às novas tendências da literatura e ao novo posicionamento do
escritor (profissional, mentor do pensamento, formulador dos problemas do país e
propositor de soluções), estabeleceu o momento propício para a eclosão do ideário
romântico em Minas Gerais.
111 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Op.Cit. p.134.
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