Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

detenção de meios de produção; tratando, assim, a economia como deficiente pelo fato
de seus mecanismos advirem do sistema português, que priorizava a expansão territorial
e a exploração direta em lugar da acumulação primitiva de capital.
2 - “Por uma ignorância fácil de se compreender, quando se conhecem as
relações do Governo Português com suas colônias” 107 , o autor condena o defeituoso
sistema agrícola adotado na província organizado a partir de técnicas rudimentares
herdadas de Portugal. Comenta ainda que não se poderia esperar algo mais avançado,
uma vez que Portugal nunca demonstrou tanto interesse pela cultura agrícola quanto
outros povos da Europa. Faz freqüentes comentários acerca das grandes extensões
estéreis de terra e chama atenção para o fato de comumente encontrarem-se, em frente
ou atrás das casas, jardins nos quais eram sempre cultivadas bananeiras, serralha e
couve. E, na maioria das vezes, era apenas o que havia. 108
3 - Os créditos a longo prazo concedidos aos arrematadores de bens confiscados,
evidenciando a permanência do sistema de relações , característico dos povos de estirpe
ibérica.
4 - “E as perseguições que atraiu sobre os habitantes mais ilustres da província a
pretensa conspiração conhecida sob o nome de Inconfidência Mineira.” 109
Na nota Aversão às Virtudes Econômicas, dada ao capítulo O Semeador e O
Ladrilhador do livro Raízes do Brasil 110 , Sérgio Buarque de Holanda caracteriza os
traços das populações de estirpe ibérica quanto à economia, mostrando que as
qualidades morais adotadas por essas populações nas relações comerciais baseiam-se na
107 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Op.Cit. p.91.
108 Note-se que a couve e a serralha são considerados elementos básicos da culinária “típica” mineira; e a
banana é hoje um símbolo que veicula pelo mundo como elemento tipicamente brasileiro ao lado de
outras frutas “exóticas”.
109 SAINT-HILAIRE, Auguste de.Op.Cit. P.89
110 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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