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Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

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não apenas a influência da ideologia liberal em seus escritos, mas também o fato de que<br />

estrangeiros residentes 97 na província de Minas Gerais eram colaboradores do periódico:<br />

“Os R R. tem o nobre orgulho de declarar , que entre os artigos<br />

communicados ao <strong>Recreador</strong> apresentão-se peças de poesia, e prosa,<br />

padrões duradouros não só do merito de alguns litteratos de paizes<br />

extrangeiros, residentes nesta Provincia , mas sobre tudo do genio , e<br />

illustração Mineira. Os R R. tem a singular ufania de haver<br />

transmittido á luz publicas tão eminentes producções do<br />

espirito(...)” 98<br />

97 A oito quilômetros de Barão de Cocais, passando por um antigo trecho da Estrada Real no sentido de Caeté,<br />

encontra-se a região onde houvera, nos séculos XVIII e XIX, um vilarejo denominado Gongo Soco. Assim como a<br />

quase totalidade dos distritos mineiros do período colonial, a Vila de Gongo Soco teve suas origens relacionadas à<br />

atividade mineradora. Porém, a exploração do ouro nessa vila teve início quando os outros veios estavam se<br />

esgotando. Desde 1745, quando o ouro foi encontrado por Manuel da Câmara de Bittencourt, ela se afirmou como<br />

uma das mais ricas localidades de Minas e figurou com destaque em livros e narrações de viajantes e estudiosos<br />

estrangeiros do século XIX como W.V.Eschewegue, Saint-Hilaire e John Mawe.<br />

A posse das datas de Gongo Soco passou das mãos do primeiro explorador para as de seu sobrinho, Manuel da<br />

Câmara de Noronha de Bittencout. Posteriormente, para as de João Batista – o Barão de Catas Altas. Este último,<br />

no ano de 1825, vendeu as datas para os ingleses da Imperial Brazilian Mining Association, dando início à<br />

instalação da primeira empresa britânica em Minas Gerais (o que ocorreu com a concessão de vários benefícios<br />

fiscais por parte do governo brasileiro).<br />

Os ingleses que então se instalaram em Gongo Soco eram oriundos da Cornualha (Velha Albion – região<br />

primitivamente habitada pelos Celtas). Logo que chegaram ao vilarejo mineiro o transformaram numa autêntica vila<br />

inglesa: do casario aos instrumentos de trabalho e jeito de viver. Para abrigar os trabalhadores foram construídos<br />

dentro de um modelo urbanístico britânico, ruas e casas, uma ponte, um hospital, uma igreja anglicana para os<br />

ingleses, outra católica para os brasileiros, e até um arco sob o qual passaram D. Pedro I (em 1831) e D. Pedro II<br />

(em 1881). Foi também construído um cemitério cujas lápides sintetizam a vida daqueles que ali foram sepultados,<br />

trazendo dados como local e paróquia de nascimento, idade, nome do cônjuge (no caso das mulheres) e data de<br />

falecimento. Algumas lápides apresentam também versos em Cornish – Inglês arcaico da região da Cornualha.<br />

A Imperial Brazilian Mining permaneceu em Gongo Soco de 1824 a 1856, quando a mina foi vendida ao Sr. Paula<br />

Santos. Porém, já apresentava sinais de decadência desde 1853, data a partir da qual a região começou a cair no<br />

abandono e esquecimento. Ao deixar a vila de Gongo Soco, os ingleses da Imperial Brazilian Mining Association<br />

se fixaram em Passagem de Mariana, onde arremataram do governo brasileiro as datas reunidas pelo Barão de<br />

Eschewege (geólogo alemão erradicado em Minas desde a abertura dos portos, fundador da primeira empresa<br />

siderúrgica mineira, a Fábrica Patriótica, em Ouro Preto). Os ingleses permaneceram em Passagem durante a<br />

segunda metade do século XIX, e também lá influenciaram o modus vivendi através da alteração da infra-estrutura<br />

local e da introdução de novas técnicas de mineração.<br />

Pode talvez ser atribuída ao convívio com esses e a outros ingleses que residiram na província a utilização por parte<br />

dos mineiros da interjeição “Uai” (que exprime surpresa e/ou espanto), a qual possui semelhanças fonéticas e<br />

semânticas com o vocábulo Why utilizado na Língua Inglesa com o mesmo sentido do nosso “por quê?”, ou como<br />

interjeição, assumindo, neste caso, o mesmo sentido do “Uai” mineiro. Notemos que o “Uai” mineiro e o “Why”<br />

britânico (cuja pronúncia se difere da americana por não apresentar aspiração inicial) possuem a mesma<br />

representação fonética; e, notemos ainda, que o “Uai” é a expressão da língua portuguesa falada no Brasil que mais<br />

se relaciona com a identidade mineira. Assim, talvez os trains ingleses que, já no século XIX transportavam o<br />

material extraído das minas de Gongo Soco, aquelas grandes máquinas tão esquisitas aos olhos dos mineiros,<br />

tenham originado a expressão “trem”, comumente utilizada no Brasil – particularmente em Minas Gerais – para<br />

designar qualquer ‘objeto’, ‘coisa’, ‘troço’ ou ‘negócio’.<br />

98 Schollio aos 6 vollumes do Recredor <strong>Mineiro</strong>. In: O <strong>Recreador</strong> <strong>Mineiro</strong>. p. 1155<br />

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