Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

jamais extintas, se inclinasse mesmo a decisões extremadas: a adoção
da República, por exemplo.” 33
Temendo uma tomada de poder pela assembléia (o poder popular), a direita
rapidamente toma medidas para o cerceamento da liberdade de imprensa, levando-a à
quase anulação. Sodré menciona então a perseguição à imprensa nesse momento de
estruturação do Estado e a tentativa, por parte da monarquia, de evitar alterações,
mantendo a estrutura colonial, robustecendo o poder do executivo e detendo as
possibilidades de reforma. Assim, “a violência de linguagem, própria da época, não era
peculiar à imprensa de oposição. Isto sem considerar – o que é lícito – que a linguagem
áulica é uma violência feita à liberdade e ao pensamento.” 34
Tal fato é abordado por Isabel Lustosa na obra Insultos Impressos, na qual a
autora procura demonstrar como a imprensa foi um laboratório para embrionárias e
imprevisíveis formas de competição política. Lustosa considera que, da partida do Rei
(abril de 1821) até o fechamento da Assembléia (novembro de 1823), a imprensa
abrigou um debate de características democráticas, porém sem regras definidas. “cada
um escrevia e assinava o que bem entendia.” 35 Segundo a autora, esses dois anos se
constituíram como um momento extremamente vibrante, que proporcionou espaço para
“um processo de liberalização política sem precedentes na nossa história.” 36 Entretanto,
Lustosa considera que:
“ Três circunstâncias daquele momento histórico fizeram com que o
debate alcançasse níveis de violência que incluíam o insulto, o
palavrão, os ataques pessoais, as descrições deturpadas de aspectos
33
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4ª ed. [atualizada] Rio de Janeiro: Mauad,
1999. p. 60
34
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4ª ed. [atualizada] Rio de Janeiro: Mauad,
1999. p. 46-7.
35 LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823) São
Paulo: Companhia das Letras. 2000. p. 16
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