Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP
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“- Frantz, Frantz, clamão os companheiros com grandes risadas, estàs<br />
com medo; não te aventures; confessa-te vencido e volta: perdeste os<br />
20 florins. - Ao ouvir as mofas dos companheiros, Frantz recobra<br />
alento, dà-lhe forças o desejo de evitar o oppobrio, elle dobra o passo,<br />
chega á porta do templo, empurra-a sem hesitar e entra.” 212<br />
Como o templo é o espaço do qual provém as sensações de horror em Terror<br />
Pânico, notemos que Vítor Manuel de Aguiar e Silva se refere à mística estranha,<br />
terrificante e sobrenatural associando-a a um locus horrendus 213 , uma sensibilidade ao<br />
desespero e à angústia, à agitação sombria das visões lúgubres e noturnas. Assim, no<br />
momento seguinte, o clímax, à entrada de Frantz no templo ocorre o assalto ao público<br />
pelo horrível, o fantasmagórico e o demoníaco:<br />
“Dahi a alguns minutos um ai horrisono retumbou nas opacas,<br />
silenciosas trevas da noite. Os mancebos espavoridos prestão de novo<br />
attenção, para ver si se repete o gemido; não, o silencio da noite<br />
continuou medonho, e esse silencio e a demora do amigo ainda mais<br />
os espantão: - Volta, Frantz, exclamão angustiados, volta: - e ninguem<br />
responde a seus clamores: - Volta, dizem, e só os echos repetem -<br />
volta -volta. Emfim, não sabendo o que pensem, nem o que resolvão,<br />
não podendo fluctuar nesse pelago de incertezas: - Vamos ao templo,<br />
dizem, procuremos o nosso amigo. - E accendem archotes, e cheios de<br />
santo horror, encaminhão-se para o templo. Em meio delle avistão<br />
hum caixão, ao pé do caixão hum cadaver: era Frantz.” 214<br />
Assim, observemos que as situações de conflito impulsionam a sinuosa trama de<br />
Terror Pânico em direção a um ousado e inesperado desfecho que evidencia o último<br />
conflito presente na narrativa – o desesperador e angustiante conflito entre o temor de<br />
Frantz e o locus horrendus:<br />
212 Terror Pânico. In: O <strong>Recreador</strong> <strong>Mineiro</strong>. 01/09/1846. nº 41. TomoIV. p.649-650<br />
213 SILVA, Vítor Manuel de Aguiar e. Teoria da Literatura. 3ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1973.<br />
p.465.<br />
214 Terror Pânico. In: O <strong>Recreador</strong> <strong>Mineiro</strong>. 01/09/1846. nº 41. TomoIV. p.649-650<br />
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