Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

nas grandes sociedades (...) Não poderieis ser feliz comigo, não he
assim? ... Pois bem! Nada de feito ... Thiago não quizera causar-vos
huma lagrima, hum pezar... partirei.” 180
No trecho acima ainda percebemos a evidência ao fato de que o preconceito e o
orgulho por parte da nobreza impossibilitariam a felicidade de uma castelã e de um
vilão. Logo em seguida, demonstrando sua consciência com relação a tal infelicidade
gerada pela diferença de classes sociais, e já tendo-se resignado à renúncia que fazia aos
direitos adquiridos pelo casamento, Thiago sublima seu amor em função de algo mais
amplo que a felicidade de um homem e de uma mulher: o amor à pátria.
“-Bem vêdes, senhora, para nos guiarmos na vida, nós, os homens do
povo, temos nosso coração e nossa consciencia; isso nos basta. A
minha felicidade he pouca cousa; a vossa; eis tudo quanto quero ... a
França tem necessidade de cada hum de seus filhos; vou servi-la ...
ella não me hade perguntar se sou nobre, para me amar, sou hum de
seus filhos. Vós, senhora, pesai algumas vezes em mim, pensai no
sacrificio que vos faço ... e lastimai-me ... se ouvir-des fallar de
alguma bella acção que eu tiver feito, dizei então comvosco que foi a
vossa lembrança que me engrandeceu, que me deu coragem, e que
depois do meu paiz, seria por vós que eu quizera dar minha vida.
-Senhor, respondeu Elisa, cada vez mais perturbada, e cujo rubor
patenteava talvez mais do que resignação, este sacrifio que me quereis
fazer... eu não o exigia... estes bens que me haveis restituido vos
pertencem ... e o direito que vos dá nossa união...
Meus direitos! ... não os tenho, a menos que me ordeneis que d’elles
me sirva...” 181
180 Muito Tarde. In: O Recreador Mineiro. nº 01, Tomo I, 01/01/1845. p. 22-3
181 Muito Tarde. In: O Recreador Mineiro. nº 01, Tomo I, 01/01/1845. p.23
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