Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

como bom burguês ascendente, não se destitui de todos os bens adquiridos de seu
senhor ao devolvê-los a ele. Pelo contrário, conserva-os sob o jugo de seu descendente
através dos direitos garantidos a Thiago pelo casamento. E em contrapartida à
decadência financeira do senhor, o rendeiro permite-lhe a condição de viver com a
fortuna em que se encontrara antes de sua decadência em troca do título de nobreza
atribuído ao filho e toda a sua descendência através da união das famílias. A proposta é
aceita pelo senhor, uma vez que é a única possibilidade que este vê em manter-se rico,
ainda que se abstraindo do orgulho e do aviltamento de sua raça. Contudo, Elisa de
Coetvagen não comungava dos mesmos interesses que o pai, uma vez que era sobre ela
que recaíam a penosa tarefa de salvar sua estirpe da falência e, ao mesmo tempo,
manchar seu nome com a vil união.
Após a cerimônia Thiago vai ao quarto de Elisa, que desoladamente chora pelo
triste destino que os interesses de seu pai a impuseram. Declara seu amor, mas percebe
que a diferença social entre eles impossibilitaria a felicidade de um casamento e a
concretização de um amor que já existia platonicamente por parte de Thiago.
Constrangido por tal realidade e pela resignação da esposa que se pronunciava submissa
e subservientemente frente ao padecimento imposto pelo destino, pelo orgulho e pelo
preconceito, Thiago decide partir, renunciando aos direitos de lhe eram instituídos pelo
casamento. Os direitos sobre a mulher, sobre o título e a ascensão social provenientes da
união matrimonial. Abdica de tais direitos em função da relação infeliz que vê pela
frente e, num ato nobre e honroso, procura evitar o padecimento de sua amada pela
infelicidade, pela vergonha e pelo pesar:
“-Perdão, perdão, senhora, estou vos entretendo de cousas que pouco
vos interessão. Vós não levareis em conta o meu amor tão verdadeiro,
tão profundo, mas que não saberia adaptar as fórmas que empregão
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