Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

sobre a sociedade de seu tempo. Diz que ao estudar direito, lera o código de Napoleão e
ficara apavorado com o termo adultério, “na sua imaginação, esta palavra sempre
arrastava atrás de si um cortejo lúgubre, as Lágrimas, a Vergonha , o Ódio, os Crimes
Secretos, Famílias sem Chefe, enfim, a desgraça se personifica diante dele quando lia a
palavra sacramental: ADULTÉRIO.” 173 Mas percebeu posteriormente que as bem-
educadas praias da sociedade burguesa utilizavam-se do adultério para temperar a
severidade das leis conjugais. Faz-se então importante esclarecer que nessa obra de tom
sarcástico, “ao empreeder a crônica de seu tempo, ele vai interrogar a sociedade
burguesa fundada sobre o casamento. No universo ficcional da comédia humana, o
casamento reflete e coloca em causa as leis e os costumes, uma ordem econômica e toda
política, crenças e exigências, um sistema de valores.” 174 O caminho inverso é
percorrido pelo folhetim aqui estudado. Em Envergonhei-me de mim mesma e tive
medo, evidencia-se a função pedagógica do folhetim ao tentar instruir os leitores com
relação ao caráter vexatório e ilegal do adultério, à temeridade frente à culpa, ao crime e
ao castigo; traçando então normas de conduta a serem seguidas dentro de um
comportamento ético frente à sociedade, a Deus e a si mesmo. Além disso, os eventos
que nos são apresentados e a maneira (entenda-se aqui ‘ponto de vista’) como são
enunciados na narrativa evidenciam a extrema valorização da segurança e da
importância da família como elemento nuclear da sociedade burguesa.
173 MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 250
174 MICHEL, Arlete. “Introdução” , pp.865-901. In: BALZAC, Honoré de. Oeuvres complètes. Vol. Xi,
p. 1030 (Apud MEYER. P. 250)
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