Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

ficou mais branco que o filó de seu lenço”. O desespero do pai – que com “ duas
lagrimas paternaes (...) abraçava sua mulher, beijava sua filha, e exclamava: -Há huma
hora que eu era tão feliz! (...) Sou o homem mais feliz do mundo! moço, rico, amado de
minha mulher, e dentro de alguns annos também de minha filha ! (...) Desgraçado! de
repente (...) Amélia! salvai-a, salvai-a!” – evidencia a exposição dos valores familiares.
Valores que são considerados pela sociedade burguesa como o centro e a base das
relações sociais. Tais valores, associados ao instinto materno, são então suficientes para
dissuadi-la do crime que estava por cometer.
“(...) Porem, por mais violento que fosse o seu amor materno, também
pensava na testemunha acusadora que o mais pequeno movimento ou
ruído podia fazer erguer contra ella. Essa mão do Conde que apertava
a sua, queimava-a. E assim esse homem, que chorava em seu seio, que
havia huma hora se julgava tão feliz, era ferido ao mesmo tempo com
dous golpes mortaes, e só sabia ainda de metade de suas desgraças. E
ella também não era ferida? não ia perder sua filha? E huma mãi não
da por hum filho, sem que a cupem, amante, marido, pais, e mundo
inteiro?” 169
E se tomarmos o comportamento anterior da condessa como uma predisposição
ao adultério, antecedendo o ato carnal mas já envolvido de laços de afeição e desejo por
um homem que não era o seu marido, ela já era, então, uma pecadora. Pecara através de
intenções e pensamentos, também pecara pela cobiça do pretendente da amiga e pela
traição à confiança que era nela depositada pelo marido. Temia a Deus, e devemos aqui
crer que tal temor se relaciona com a idéia de punição, de castigo que precede a culpa
atribuída pelos preceitos religiosos através da consciência do indivíduo frente à
169 Envergonhei-me de mim mesma e tive medo. In: O Recreador Mineiro. Tomo I. nº 01, 01/01/1845.
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