Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

3.3 – Adultério, Crime e Pecado: a valorização da família na sociedade burguesa e
a função pedagógica do romance-folhetim
Uma vez que as leis garantem os direitos e deveres de um indivíduo junto à
sociedade, cada indivíduo deve se comportar de acordo com as normas estabelecidas
pelo contrato que rege sua convivência harmônica no centro da sociabilidade. O direito,
como mantenedor da sociedade e das organizações jurídicas, garante a liberdade; os
preceitos morais balizam as normas de conduta. Logo, o adultério é uma infração às leis
e aos preceitos morais; além do que diz respeito à religião: o pecado. Marlyse Meyer
considera, ao tratar dos romances de vítima, que “o adultério é sempre do gênero
feminino. O homem comete suas leviandades, mas adúltera é a mulher. (...) É um crime
que a sociedade não perdoa.” 168 Contudo, todo indivíduo é considerado inocente até que
possa a ele ser atribuída a culpa por um crime. Mas com relação ao pecado, a culpa
atribuída pelos preceitos religiosos vem juntamente com a consciência do ato de
infração; assim o castigo precede a culpa.
Envergonhei-me de mim mesma e tive medo , folhetim publicado em o
Recreador Mineiro, trata do adultério cometido por uma mulher. O título evidencia a
vergonha, frente aos preceitos morais e religiosos, e o medo da descoberta do crime.
A personagem que comete o adultério, a bela Condessa de C. recusou deixar a
capital e “fazer respirar a sua tenra filhinha o saudável ar da sua quinta da Normandia.”
Procurando persuadir a esposa a acompanhá-los à quinta, o Mr. De C., apresenta então
argumentos de ordens diversas; os quais evidenciam um comportamento burguês
associado à economia: “se ergueu Mr. de C... contra esta singularidade; debalde
168 MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 253
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