Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

no coração de Euphemia um amor tão grande em tão curto espaço de tempo? Ou seria o
milagroso efeito do seguro, afinal, era realmente uma especulação certa, sem riscos e
com lucros garantidos para ambas as partes. Convinha crer no investimento, e o
capitalista, concordando com o jovem e fazendo uma pergunta à filha, tenta matar sua
curiosidade diante de tão súbito amor:
“- Tendes razão! Mas, Euphemia, diz-me: onde he que fizeste o
conhecimento deste cavalheiro?
- Vi-o a primeira vez no campo, porêm de passagem; depois veio
todos os dias; ajudava-me a regar as minhas flores; passeavamos
juntos no parque; fazia-me versos, desenhava no meu album emfim,
como me pareceu que as suas visitas eram curtas, julguei que em Paris
poderia vê-lo mais amiudo...” 167
E desvelando o ardil do empreendedor, responde a este o capitalista: “Meu
amigo director, sois hum homem habil”. O jovem, mais uma vez apoiando-se no
contrato da sociedade que mantinha com o capitalista responde: “Eu vos protesto,
senhor, que não fiz mais que o meu dever.”. E o capitalista conclui: “Nem eu me
queixo de vós... Minha filha ama-vos, eu vo-la dou. Já tendes em vosso poder os
quinhentos mil francos de dote.”
Assim, através da análise feita a partir do folhetim publicado em O Recreador
Mineiro, percebemos como a especulação financeira e o casamento burguês estavam
ligados à idéia de negócio, lucro e ascensão social. Isso se torna perceptível ao passo
que A Especulação evidencia a relação da sociedade burguesa com o dinheiro através de
negociatas e investimentos. O folhetim também nos traz um capitalista e um investidor
(caça-dotes) que estabelecem uma relação de investimento em sociedade, uma relação
entre segurador e segurado.
167 A Especulação.In: O Recreador Mineiro. Tomo IV. Nº 37, 01/07/1846. p. 587
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