Livro - O Recreador Mineiro - ICHS/UFOP

Empolgado pela lucratividade da engenhosa idéia apresentada, o capitalista
demonstra interesse pela proposta e decide fechar o negócio, estabelecendo a sociedade
com o moço da cidade. Vejamos como isso ocorre, como os aspectos legais são
evidenciados na narrativa e como o ardil do investidor começa a ser usado pelo
capitalista:
- Pois bem! eis-me às vossas ordens; desejo que este negocio entre nós
dous: nada de bulha, nada de charlatanismo, nada de acções. Esse
methodo he já sediço. ninguém se serve delle Mysterio, meu amigo,
discripção e actividade.
- Nada recieis. tenho o mesmo interesse que vós tendes....
- Bem trazei-me quanto antes a escriptura da sociedade. Entrarei com
quinhentos mil francos, somente sufficente para dar principio à
empreza. Vós entrareis com a vossa agencia, e os lucros serão
divididos.(...)
O moço sahia de casa do Sr. L... em extremo satisfeito de sua visita;
entrou de hum salto no cabriolet, e voltou a Paris. No dia seguinte
levou ao capitalista a escritura da sociedade, redigida segundo as
bazes comcertadas. Depois de a ter lido e assignado, entregou-a o Sr.
L... ao industrioso, dizendo-lhe:
- Eis vos feito director da companhia (...); desejo-vos as maiores
venturas. Para provar-vos quanto me interesso no successo da nossa
empreza, seguro minha filha; quero que seja ella a primeira que figure
na lista das vossas seguradas. Enchei a apolice.” 165
A garota chama-se Euphemia L., tinha dezenove anos, rosto assaz formoso,
talentos de música, desenho, dança, agricultura, e a fortuna de quinhentos mil francos de
dote. O capitalista mandou que o jovem empreendedor determinasse, ele mesmo, o
premio a ser pago como indenização da apólice e a idade em que deve ser paga. E
dizendo que “- He mais que provavel que mademoiselle Euphemia não nos obrigará a
165 A Especulação.In: O Recreador Mineiro. Tomo IV. Nº 37, 01/07/1846. p. 587
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