Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
nossa "Guerra à miséria", à nossa "Batalha pela construcção<br />
do Brasil", o mesmo esforço, e mais até.<br />
Empenhemo-nos nessa grande guerra, a maior de<br />
nossa história, estimulemos a confiança das massas, punamos<br />
com energia os que tentem fraudar essas esperanças,<br />
e o Brasil terá ingressado numa obra cooperacional,<br />
que será aos olhos <strong>dos</strong> povos esgota<strong>dos</strong>, e famintos de<br />
paz, de todo o mundo, um exemplo maravilhoso do que<br />
se pode fazer em bem do trabalho-redenção.<br />
FORMAS COOPERACIONAIS<br />
Este tema merece estudo amplo, exaustivo, dada a riqueza<br />
dessas experiências desconhecidas da quase totalidade<br />
<strong>dos</strong> economistas e, sobretudo, <strong>dos</strong> próprios cooperativistas,<br />
com sua inspiração rochdaliana, embora de<br />
grande benefício, são as únicas no campo das possibilidades<br />
cooperacionais.<br />
No caso brasileiro, dada a índole do nosso povo, e as<br />
suas condições, essas experiências, feitas em diversos países,<br />
poderiam, aqui, dar frutos extraordinários, se guiadas<br />
com o mesmo espírito de cooperação que tiveram<br />
em suas origens. É voz quase unânime entre os cooperativistas<br />
que o regime cooperativo só pode fundar-se dentro<br />
<strong>dos</strong> quadros rochdalianos. Mas sucede que em países<br />
como a Bélgica, em primeiro lugar, a Inglaterra, Canadá,<br />
Austrália e França, certas empresas, constituídas<br />
sob o apoio <strong>dos</strong> poderes públicos, são verdadeiras grandes<br />
e gigantescas empresas cooperacionais e penetram até<br />
na grande indústria.<br />
Factos e não palavras, nos revelam que os poderes<br />
públicos podem associar-se sob forma de sociedade por<br />
acções, a fim de criar cooperativas de consumo, tendo,<br />
como membros, também, pessoas de direito público.<br />
O PROBLEMA SOCIAL 199<br />
Vandervelde, em seu "Le Socialisme contre 1'État", e<br />
Edgard Milhaud, em seu "La Marche au <strong>social</strong>isme", apesar<br />
de suas posições, acabaram por aceitar a conveniência<br />
e operância dessas formas de cooperação.<br />
Com os exemplos que se deram em tais países, pode<br />
assegurar-se que, além de uma cooperação privada, pode<br />
haver uma cooperação pública, e não apenas no self-help<br />
rochdaliano. Se as cooperativas são criações de particulares,<br />
não é verdade que só possam ser obra exclusiva<br />
desses particulares. O próprio economista Gaétan Pirou,<br />
um <strong>dos</strong> adversários dessas modalidades, ultimamente reconhece<br />
sua procedência. E Charles Andler, no "Bulletin<br />
de la Societé Française de philosophie", com toda a<br />
sua autoridade de cooperativista, reconhece que "... um<br />
meio termo se intercalou entre o direito público e o direito<br />
privado, a ponto de desfazer as fronteiras."<br />
Sabem to<strong>dos</strong> quão deficitárias são as empresas do<br />
Estado e tal se dá em toda a parte onde elas existem. No<br />
entanto, uma harmónica combinação de interesses através<br />
das formas cooperacionais têm evitado tais males, com<br />
proventos para to<strong>dos</strong>. Não há necessidade de falar sobre<br />
os males das nacionalizações. Basta que se olhe o<br />
espetáculo da França, com a producção estatal super-encarecida,<br />
e a da Inglaterra, essa ilha de carvão, quando<br />
no poder os trabalhistas, acabou por importar carvão<br />
para atender suas necessidades. As formas cooperacionais,<br />
aplicadas aos serviços públicos, vivem de suas próprias<br />
forças, com seus próprios recursos e se algumas tentativas<br />
entre nós têm malogrado, deve-se ao facto de não<br />
ter-se obedecido aos princípios cooperacionais.<br />
Nas sociedades estatais, não há mais a alma que anima.<br />
Têm tudo e mais que as outras, mas lhes falta o espírito<br />
fundamental: falta-lhe a paixão cooperacionista. É<br />
esse espírito, que leva a diminuir despesas, é a sua autonomia<br />
administrativa, comercial e financeira, que a ali-<br />
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