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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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192 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

potência, mas como actualidade. Se tal fôr feito, conheceria<br />

o governo, de imediato, a verdade do que se passa.<br />

No financiamento da producção, deve o Estado dar<br />

preferência a toda actividade que tenda à neotecnização<br />

e à biotecnização, e criar embaraços ao prosseguimento<br />

de obras paleotécnicas.<br />

Quanto à necessidade de armazéns para a guarda da<br />

producção, a criação de cooperativas facilitaria a solução<br />

de tal <strong>problema</strong>, porque estas poderiam coadjuvar com<br />

os esforços colectivos na construcção de armazéns.<br />

A não confiança na grande capacidade realizadora<br />

das massas é uma verdadeira calúnia que se lhes faz.<br />

O povo trabalhador tem, quando estimulado, uma capacidade<br />

criadora dobrada quando coloca nessa mesma<br />

actividade um fim e não um meio. Sentindo-se amparado,<br />

e tendo um fim em si mesmo, o homem redobra seus<br />

esforços. Desde o momento que o trabalhador sinta que<br />

o aumento da sua productividade lhe é directamente benéfico,<br />

êle redobra sua capacidade.<br />

Não são as cooperativas as únicas formas cooperacionais.<br />

As velhas, mas sempre novas experiências do<br />

mutualismo, foram esquecidas, em parte, entre nós, pelo<br />

desenvolvimento da especulação, que permitiu a muitos e<br />

aos mais activos, empreendessem sua actividade em sectores<br />

insolváveis. O cooperacionismo, por exemplo, é um<br />

género que tem, entre suas espécies, o cooperativismo.<br />

Este é um <strong>dos</strong> meios de cooperação, não o único. E nem<br />

todas as formas que se possam hoje estudar, entre as<br />

muitas já citadas, serão as únicas, porque a experiência<br />

humana é rica de novas sugestões.<br />

No caso nacional, nem todas as múltiplas formas de<br />

cooperação, experimentadas em diversos países, podem<br />

eoadunar-se com as nossas circunstâncias. Um <strong>dos</strong> males<br />

que podemos salientar, que surgem em to<strong>dos</strong> os que<br />

O PROBLEMA SOCIAL 193<br />

procuram uma solução para os <strong>problema</strong>s nacionais, consiste<br />

em desejar apenas uma solução, única, homogénea,<br />

mirífica, milagrosa, capaz de dar cobro às nossas mais<br />

prementes necessidades. Esquecem de considerar concretamente<br />

as nossas condições. Esquecem que o Brasil<br />

é um país complexo, heterogéneo, que o Brasil é o caboclo,<br />

o buriboca, o caipira, o caiçara, o gaúcho, o jeca, o<br />

sertanejo, o jagunço, como também o português, o italiano,<br />

o alemão, o espanhol, o japonês, o sírio, o húngaro,<br />

o eslavo, etc. Esquecem que temos, de ponta a ponta, as<br />

mais primitivas formas de producção da eotécnica e da<br />

paleotécnica; costumes diferentes, cosmovisões diferentes,<br />

ideais diferentes. Que embora falemos uma única<br />

língua, essa unidade é mais formal que de conteúdo, e<br />

que somos um povo em formação, pois ainda não há o<br />

brasileiro, mas apenas o habitante do Brasil. Nossa economia<br />

sofre das consequências do múltiplo das suas técnicas<br />

e não pode encontrar soluções únicas, uma solução,<br />

uma fórmula salvadora, mas soluções múltiplas, fórmulas<br />

múltiplas.<br />

Quem conhece a complexidade de uma cooperativa,<br />

os esquemas intelectuais que exige, além de outros, afectivos,<br />

e os superestructurais, como pode compreendê-la,<br />

com sua forma específica de actividade, em regiões ainda<br />

atrasadas como as que temos pelo nosso interior?<br />

No entanto, o cooperacionismo, graças à multiplicidade<br />

de suas formas, oferece múltiplas soluções. Os<br />

<strong>problema</strong>s, que se agitam na Europa sobre a transformação<br />

da empresa capitalista, encontram aqui eco apenas<br />

em algumas regiões, porque temos empresas, unidades<br />

económicas diversas, que exigem soluções adequadas.<br />

Além disso, o <strong>problema</strong> nacional não se cinge apenas aos<br />

grandes centros de São Paulo, Rio, Porto Alegre, Bahia,<br />

Recife, etc. A solução de uma para outra capital é diferente,<br />

como é diferente a que melhor convém ao campo.

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