Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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180 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
mercial equilibrada ou equilibrável. Vê-se desde logo<br />
que o equilíbrio qualitativo da balança comercial brasileira<br />
não pode ser descuidado. No entanto, as tentativas<br />
feitas até agora para regularizar a importação, por meio<br />
de restrições, foram em parte inoperantes.<br />
Aqui neste ponto, será necessária uma acção mais<br />
enérgica por parte do Estado.<br />
88) Os teóricos do <strong>social</strong>ismo pregam a <strong>social</strong>ização<br />
da distribuição do poder de compra. Todas as tentativas,<br />
seguindo este rumo, são inoperantes, porque a<br />
producção pode criar o poder de compra, quando orientada<br />
para um respeito ao equilíbrio cooperacional <strong>dos</strong><br />
valores. Enquanto o patronato admitir que a sua prosperidade<br />
pode fundar-se na miséria das massas, nada se<br />
poderá fazer. No entanto, um estudo cuida<strong>dos</strong>o da economia<br />
nos mostraria que os interesses individuais do patronato<br />
coincidem muito mais do que se pensa com o<br />
interesse colectivo das massas. Convém distinguir-se o<br />
salário solvável do salário insolvável. Seria solvável o salário<br />
incorporado ao preço de venda de um producto<br />
destinado ao consumo individual, e insolvável um salário<br />
que não responda às condições de solvabilidade.<br />
Nossa balança comercial beneficiária, e os benefícios<br />
especulativos de certas funções de intermediários,<br />
foram os causadores de um aumento exagerado do salário<br />
insolvável no Brasil. Não temos estatísticas suficientes<br />
para nos mostrar quanto é destinado aos trabalhos<br />
primários, secundários e terciários no Brasil, mas os<br />
nossos da<strong>dos</strong> que nos são ofereci<strong>dos</strong> nos revelam que há<br />
um aumento progressivo de salário insolvável, o que<br />
acarreta um grande "deficit" sobre o salário solvável.<br />
Consumindo os insolváveis, productos para os quais<br />
não contribuíram, são aqueles parasitários. Nada fazemos<br />
no Brasil para embaraçar o aumento <strong>dos</strong> salários insol-<br />
0 PROBLEMA SOCIAL 181<br />
váveis. Ao contrário, tudo favorece seu desenvolvimento.<br />
Dessa forma, tudo contribui para diminuir a producção<br />
e para aumentar a especulação sobre o produzido.<br />
Não nos iludamos: não realizaremos a prosperidade<br />
por uma baixa de preços. Esta seria efémera, pois traria<br />
desinteresse na producção, desaparecimento do producto,<br />
câmbio negro, necessidade de um exército de fiscais,<br />
aumento das despesas piíblicas, retrosperidade final.<br />
Inútil, também, por inoperante, o congelamento de<br />
preços. O que se aplicou e deu certo resultado nos Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong> não nos traria benefício algum, nem por<br />
um período curtíssimo. Não esqueçamos o carácter de<br />
conjuntura <strong>dos</strong> preços, que são interliga<strong>dos</strong>, e impedem,<br />
sob pena de prejuízos laterais, um congelamento. Se<br />
teoricamente esta ideia é boa, é irrealizável na prática.<br />
Até nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, que têm outros elementos, em<br />
breve, ela dará suas consequências.<br />
Restaria, assim, enfrentar a alta <strong>dos</strong> preços, a qual<br />
é inelutável, mas compensável, desde que haja a aplicação<br />
de certas normas convenientes a economia paleotécnica,<br />
que ainda vigora entre nós, a qual deverá ser acompanhada<br />
pela hábil aplicação do equilíbrio cooperacional<br />
<strong>dos</strong> valores.<br />
Não podemos deixar de considerar as relações entre<br />
o patronato, a classe média, e os assalaria<strong>dos</strong>. No caso<br />
<strong>dos</strong> assalaria<strong>dos</strong>, obtido um aumento do rendimento horário<br />
do trabalho, aumenta o valor do trabalho e diminui<br />
o valor da producção. Se o preço do producto estiver<br />
em função do preço do trabalho, se este preço permanecer<br />
fixo, diminuirá o preço da producção, na mesma proporção<br />
que o seu valor, mas se o preço do trabalho aumentar<br />
proporcionalmente ao seu valor, o preço da producção<br />
permanecerá imutável. Desta forma, os salários