Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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20 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
de das massas, mistificadas por seus falsos defensores, é<br />
explorada, magnificamente, para que tudo corra em proveito<br />
<strong>dos</strong> dominadores, alegam os libertários. E prosseguem:<br />
Essa a grande habilidade e sagacidade <strong>dos</strong> burgueses<br />
para iludirem as massas. Eles, quando é conveniente,<br />
vestem-se das cores vermelhas, mandam seus representantes<br />
para os parti<strong>dos</strong> de esquerda, usam também frases<br />
e palavras de ordem revolucionárias, pregam "a luta<br />
pacífica das urnas", a "grande arma do cidadão", a "alavanca<br />
da História", e vão contribuir para, de cambulhada<br />
com os parti<strong>dos</strong> operários, criar a maior confusão no<br />
meio <strong>dos</strong> trabalhadores.<br />
A política serve para isso: os ambiciosos de mando,<br />
os que desejam fazer carreira política, os que querem sobressair-se<br />
pela posição <strong>social</strong>, vão procurar os meios<br />
operários e os parti<strong>dos</strong> políticos <strong>dos</strong> trabalhadores.<br />
Quantos políticos reaccionários de hoje começaram a<br />
criar nome nos comícios operários, ao lado <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong><br />
de esquerda, pregando ideias rubras, passando até pelas<br />
delegacias de polícia, para, depois de guinda<strong>dos</strong> ao poder,<br />
fazerem cisões dentro <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong> ou aderirem a outros,<br />
e de degrau em degrau, chegar até a adesão, na meia<br />
idade, aos parti<strong>dos</strong> conservadores.<br />
A maioria <strong>dos</strong> políticos conservadores foram, em sua<br />
juventude, políticos <strong>social</strong>istas! E prosseguem os libertários:<br />
Atentem para esses factos os trabalhadores e os oprimi<strong>dos</strong><br />
do mundo.<br />
É necessário de uma vez por todas ter memória.<br />
É preciso conhecer o passado e procurar no passado<br />
os reaccionários do presente. Grande é a colheita que os<br />
O PROBLEMA SOCIAL 21<br />
burgueses têm feito nos parti<strong>dos</strong> políticos <strong>dos</strong> trabalhadores.<br />
Ora, todo homem, no mundo, tem um desejo de<br />
mandar, um impulso de domínio e um impulso de obediência<br />
e de passividade. Essa parte activa do homem,<br />
se levada para o terreno da política, se na política encontrar<br />
seu campo de acção e de desenvolvimento, logo se<br />
viciará na forma de mandonismo. A luta indirecta, a<br />
acção indirecta, gera a forma viciosa do impulso de<br />
acção: o mandonismo, o liderismo, o autoritarismo, o politiquismo.<br />
A acção directa deixa que o impulso activo do homem<br />
se manifeste com toda a sua pureza, sem desvios<br />
que o viciam, e leva-o à acção verdadeiramente <strong>social</strong>ista,<br />
ao desejo de erguer os irmãos da passividade para<br />
a acção; da inércia para a rebeldia. Ela é criadora, porque<br />
transforma cada um num ser responsável de acção<br />
<strong>social</strong>ista.<br />
Por isso, a política é a arma mais amada pela burguesia.<br />
A burguesia inteligente do mundo inteiro não<br />
combate os parti<strong>dos</strong> políticos operários senão aparentemente.<br />
Ataca-os, acusando-os de revolucionários e exigentes,<br />
para iludirem as massas, para fazer a essas acreditarem<br />
que realmente eles são revolucionários. Mas a<br />
burguesia inteligente sabe perfeitamente que esses parti<strong>dos</strong><br />
são os melhores guardiães de seus tesouros, porque,<br />
no darem às massas uma ilusão de conquistas, ajudam<br />
lambem a desmoralizar o <strong>social</strong>ismo e a apresentar aos<br />
olhos do povo o regime capitalista como algo de impres-<br />
(•riptível e sólido, como algo de eterno.<br />
E que melhor para tal que os "parlamentos", onde<br />
se debatem todas as ideias e se aumenta a confusão do<br />
povo? Que melhor que as campanhas políticas, essas<br />
"adoráveis dormideiras", esse ópio das multidões, que