19.04.2013 Views

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

176<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

Não poderá ser nem a eotécnica nem a paleotécnica,<br />

como infelizmente ainda perdura, e ainda se estabelece,<br />

mas de uma neotécnica tendente à biotécnica, ao trabalho<br />

agradável, dado o valor pouco tónico do mesmo entre<br />

nós. Tais factos exigem bases: a) inteligência, que<br />

temos; b) preparação cultural, que não temos, mas que<br />

pode ser compensada pelo grau de adaptação (combinação<br />

equilibrada entre acomodação e assimilação, que é<br />

típica de nosso povo). Portanto, a Tecnização de nossa<br />

lavoura e a da pecuária, não encontram óbices culturais,<br />

salvo os históricos, facilmente solucionáveis, dada a plasticidade<br />

típica de nosso povo, cuja resistência ao novo é<br />

muito menor que a de outros povos. Resta ainda uma<br />

dificuldade: a financeira.<br />

Esta merecerá um estudo à parte. Há outro aspecto<br />

a considerar: o ético. Nosso trabalhador, em geral, é um<br />

revoltado às vésperas do desespero. É um sabotador inconsciente.<br />

Julga que ao sabotar a producção, sabota o<br />

assalariador, quando na realidade sabota apenas a si<br />

mesmo. Tal concepção surge de não participar nunca<br />

nos proventos quando há aumento de producção (ex.:<br />

destruição do produzido, productos deteriorarem-se nas<br />

fontes, política de defesa de preços, etc). Não tem esperanças<br />

em melhorias quando produzir mais. Se fosse<br />

assegurada ao povo a sua participação no aumento da<br />

producção, ressurgiriam, neste ponto, possibilidades<br />

imensas, que conjuntura<strong>dos</strong> com outras providências,<br />

trariam benefícios imediatos.<br />

Um <strong>problema</strong> nos surge: o abandono <strong>dos</strong> campos.<br />

Este, embora grave, não é desastroso como pode parecer.<br />

A indústria, não compensando a falta de braços por máquinas,<br />

não cumpre seu papel, e a mutação da mão-de-<br />

-obra passa a ser, no Brasil, uma calamidade. Não se<br />

pode evitar a mutação da mão-de-obra. É uma invarian-<br />

O PROBLEMA SOCIAL<br />

177<br />

te de qualquer economia das fases da paleo e da neotécnica.<br />

Tem sido um erro considerar o trabalho como uma<br />

mercadoria, mas ainda assim se considera. Não podemos,<br />

aqui, separar os aspectos, individual e colectivo, que<br />

cooperam ou se antagonizam. A aplicação ao trabalho<br />

da chamada lei da oferta e da procura (que desdobraremos<br />

para dar-lhe seu verdadeiro sentido) tem sido desastroso.<br />

A remuneração pode sofrer os efeitos da procura,<br />

não pode, porém, acomodar-se a uma depreciação que surja<br />

da oferta. O trabalhador, na neotécnica, é um cliente, e<br />

principal. E é do interesse tanto <strong>dos</strong> emprega<strong>dos</strong> como<br />

<strong>dos</strong> empregadores, que não sofra êle uma depreciação<br />

por efeito da oferta.<br />

Portanto, o equilíbrio entre o rendimento e o preço<br />

do trabalho, em função do poder de compra, não pode<br />

reduzir-se.<br />

Erra, assim, o liberalismo económico ao considerar<br />

apenas o lado individual do trabalho, como erra o <strong>social</strong>ismo<br />

ao considerar apenas o lado colectivo, e ambos por<br />

não considerarem o aspecto cooperacional entre ambos.<br />

Esse equilíbrio exige, portanto, uma dualidade de salário<br />

(<strong>social</strong> e individual). A aplicação de normas justas,<br />

aqui, exigem um exame sobre o mecanismo <strong>dos</strong> preços<br />

e <strong>dos</strong> salários, o que, infelizmente, por ora, não pode<br />

ser feito. Entretanto, pode dizer-se que a participação<br />

<strong>dos</strong> trabalhadores nos lucros da empresa, poderia ser<br />

reestudada para transformação num salário-de-rendimento,<br />

com forte recompensa ao esforço individual, estimulante.<br />

Também se deve considerar que o salário vital<br />

(mínimo) não deve ser um salário de miséria, sob pena<br />

de falsear a função neotécnica do trabalhador como cliente,<br />

mas tem que sujeitar-se à producção colectiva, segun-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!