Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
junto e do seu processo, bem como a maior preocupação<br />
em não ofender esses invariantes.<br />
Pois bem: o valor de uma economia não reside nas<br />
cifras, mas na própria economia. O espírito da finança,<br />
que tende a actualizar a traducção em vez do traduzido,<br />
o símbolo, em vez do simbolizado, levou o mundo capitalista<br />
inteiro às absurdas concretizações do padrão ouro,<br />
do crédito bancário falso, da capitalização, da moeda-<br />
-mercadoria, etc, para cair, finalmente, nessa longa história<br />
das especulações, que tantos males trouxeram em<br />
muitos países mais avança<strong>dos</strong>, e que, hoje, entre nós,<br />
avassala muitas inteligências.<br />
Tratamos da nossa economia não com o espírito do<br />
economista, mas com o espírito do financista.<br />
Submetemos a economia à finança, porque consideramos<br />
as cifras como concreção do valor real.<br />
Ganhar dinheiro com o dinheiro, sem que esse dinheiro<br />
seja traducção de um acto económico, é ser financeiro.<br />
Mas a indústria e o comércio vivem, se processam<br />
e se desenvolvem apenas através de trocas. É fácil<br />
compreender-se que, na troca, há apenas estes elementos:<br />
producção, com as trocas imanentes de trabalho, capital<br />
e natureza, e o Consumo, como fim teleológico e eficaz<br />
A cooperação entre producção e consumo se torna sempre<br />
exigente, porque o falseamento ou actualização apenas<br />
de um <strong>dos</strong> aspectos tem sido sempre de terríveis consequências.<br />
Há, assim, um valor de trabalho, que está em função<br />
da producção, do produzido, e um valor de producção,<br />
que é determinado pela quantidade ou pela qualidade, ou<br />
por ambos juntos, desse trabalho utilizado pela producção.<br />
O consumidor (são to<strong>dos</strong>) não pode ser desprezado<br />
nem considerado como elemento autónomo, que trata de<br />
O PROBLEMA SOCIAL 173<br />
si, mas como meta da producção, como finalidade desta,<br />
não em sentido individual capitalista, mas em sentido <strong>social</strong>.<br />
Estimular a producção não é apenas financiá-la. E<br />
em breve veremos por que. E embora se considere o<br />
consumo como implicado naquela, esquecem-se muitos<br />
economistas que há antagonismos entre ambos, muito<br />
mais profun<strong>dos</strong> do que os que nos surgem apenas através<br />
das oscilações da lei da oferta e procura, que já desdobramos,<br />
para que, por sua vez, também não contribua<br />
para falsear a realidade.<br />
Costumam os economistas, quanto ao trabalho, virtualizar<br />
o aspecto qualitativo para considerar apenas o<br />
quantitativo, e facilitar sua medida através do tempo do<br />
trabalho, unidade de tempo, e as consequentes unidades<br />
de producção. Compreender-se que há uma intrínseca<br />
luta, um antagonismo entre quantidade e qualidade, impediria<br />
to<strong>dos</strong> os erros que são comuns nos estu<strong>dos</strong> sobre<br />
o valor <strong>dos</strong> salários, que fica reduzido apenas à quantidade<br />
de producção, que permite ao trabalhador consumir.<br />
Realmente, na troca, o valor do salário é mostrado<br />
pelo seu poder de consumo.<br />
O poder de consumo de um povo é igual à sua producção<br />
total. E é essa producção, o valor do trabalho<br />
de um país.<br />
Mas, nas relações entre trabalho e capital, há uma<br />
eifra: preço.<br />
O trabalho, medido pelo tempo, realiza uma producção,<br />
recebendo um salário, que é uma cifra.<br />
E essa cifra é o que permite falsear o valor do trabalho.<br />
E isso porque essas cifras são puramente convencionais,<br />
e não são adstritas a nenhuma invariante económica<br />
propriamente.