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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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172<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

junto e do seu processo, bem como a maior preocupação<br />

em não ofender esses invariantes.<br />

Pois bem: o valor de uma economia não reside nas<br />

cifras, mas na própria economia. O espírito da finança,<br />

que tende a actualizar a traducção em vez do traduzido,<br />

o símbolo, em vez do simbolizado, levou o mundo capitalista<br />

inteiro às absurdas concretizações do padrão ouro,<br />

do crédito bancário falso, da capitalização, da moeda-<br />

-mercadoria, etc, para cair, finalmente, nessa longa história<br />

das especulações, que tantos males trouxeram em<br />

muitos países mais avança<strong>dos</strong>, e que, hoje, entre nós,<br />

avassala muitas inteligências.<br />

Tratamos da nossa economia não com o espírito do<br />

economista, mas com o espírito do financista.<br />

Submetemos a economia à finança, porque consideramos<br />

as cifras como concreção do valor real.<br />

Ganhar dinheiro com o dinheiro, sem que esse dinheiro<br />

seja traducção de um acto económico, é ser financeiro.<br />

Mas a indústria e o comércio vivem, se processam<br />

e se desenvolvem apenas através de trocas. É fácil<br />

compreender-se que, na troca, há apenas estes elementos:<br />

producção, com as trocas imanentes de trabalho, capital<br />

e natureza, e o Consumo, como fim teleológico e eficaz<br />

A cooperação entre producção e consumo se torna sempre<br />

exigente, porque o falseamento ou actualização apenas<br />

de um <strong>dos</strong> aspectos tem sido sempre de terríveis consequências.<br />

Há, assim, um valor de trabalho, que está em função<br />

da producção, do produzido, e um valor de producção,<br />

que é determinado pela quantidade ou pela qualidade, ou<br />

por ambos juntos, desse trabalho utilizado pela producção.<br />

O consumidor (são to<strong>dos</strong>) não pode ser desprezado<br />

nem considerado como elemento autónomo, que trata de<br />

O PROBLEMA SOCIAL 173<br />

si, mas como meta da producção, como finalidade desta,<br />

não em sentido individual capitalista, mas em sentido <strong>social</strong>.<br />

Estimular a producção não é apenas financiá-la. E<br />

em breve veremos por que. E embora se considere o<br />

consumo como implicado naquela, esquecem-se muitos<br />

economistas que há antagonismos entre ambos, muito<br />

mais profun<strong>dos</strong> do que os que nos surgem apenas através<br />

das oscilações da lei da oferta e procura, que já desdobramos,<br />

para que, por sua vez, também não contribua<br />

para falsear a realidade.<br />

Costumam os economistas, quanto ao trabalho, virtualizar<br />

o aspecto qualitativo para considerar apenas o<br />

quantitativo, e facilitar sua medida através do tempo do<br />

trabalho, unidade de tempo, e as consequentes unidades<br />

de producção. Compreender-se que há uma intrínseca<br />

luta, um antagonismo entre quantidade e qualidade, impediria<br />

to<strong>dos</strong> os erros que são comuns nos estu<strong>dos</strong> sobre<br />

o valor <strong>dos</strong> salários, que fica reduzido apenas à quantidade<br />

de producção, que permite ao trabalhador consumir.<br />

Realmente, na troca, o valor do salário é mostrado<br />

pelo seu poder de consumo.<br />

O poder de consumo de um povo é igual à sua producção<br />

total. E é essa producção, o valor do trabalho<br />

de um país.<br />

Mas, nas relações entre trabalho e capital, há uma<br />

eifra: preço.<br />

O trabalho, medido pelo tempo, realiza uma producção,<br />

recebendo um salário, que é uma cifra.<br />

E essa cifra é o que permite falsear o valor do trabalho.<br />

E isso porque essas cifras são puramente convencionais,<br />

e não são adstritas a nenhuma invariante económica<br />

propriamente.

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