Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
ração das conjunturas, umas mais benéficas do que outras.<br />
Tal conhecimento já abre caminho para procurarmos<br />
desenvolver uma conjuntura para que ela possa ter<br />
uma influência benéfica.<br />
Não deveriam nunca esquecer os nossos economistas<br />
e financistas que as "cifras" são apenas traducções,<br />
para facilidade de expressão, das facilidades económicas.<br />
O simbolizante substitui o simbolizado, por não ter este<br />
acomodação actual, mas deve sempre estar apto a ser<br />
substituído por êle, sob pena de ocultá-lo definitivamente<br />
ou não, e prejudicar a boa inteligência do mesmo. O<br />
salário, em cifras, é uma traducção do "standard" de<br />
vida, como a producção em cifras é uma traducção da<br />
actividade económica nacional.<br />
Por outro lado, nunca se deve esquecer a verdadeira<br />
significação da moeda tão confundida com a do dinheiro,<br />
de lamentáveis consequências. A moeda é um significante.<br />
Sinal de todas as categorias económicas, surge nas<br />
obras de economia, ora como riqueza, ora como reserva<br />
de valor; ora como medida comum de valores e serviços,<br />
ou como instrumento de pagamento, ou mercadoria, ou<br />
convenção, ou expressão de trabalho, ou capital, ou ainda<br />
como instrumento de conta, ou direitos, ou representante<br />
de valor ou crédito, ou instrumento de actividade<br />
económica e muitas outras modalidades que provocam<br />
inúmeras e inúteis disputas entre economistas e financistas.<br />
Como sinal (e esse é o verdadeiro carácter proteico<br />
da moeda) é sempre algo que está em lugar de... E<br />
como é fácil confundir-se o significante com o significado,<br />
caem os economistas nesse erro, e disputam entre si<br />
o significado, o que aponta o que é a essência em suma,<br />
da moeda.<br />
Na verdade, é ela, portanto, um significado, e como<br />
tal é um meio.<br />
O PROBLEMA SOCIAL 171<br />
E como todo facto económico se processa num tender<br />
para a troca, é ela meio de troca, e tem, como teve,<br />
e terá, o papel de facilitador da troca, e não o de embaraçá-la.<br />
E, por ser um meio, nunca deve ser confundida<br />
com um fim. Deve ela facilitar o desabrochamento do<br />
facto económico e não coarctá-lo.<br />
Hoje, ela antecede à troca, e nesse caso, existe antes<br />
da troca, como um acordo sobre o futuro, e sua cifra<br />
significa apenas a traducção do que ela representa em<br />
bens capazes de satisfazer necessidades. Que diríamos<br />
de um matemático que quisesse, com a Matemática, falsear<br />
os factos e ocultar a verdade? Não seria falsear os<br />
fins da Matemática? O mesmo é falsear os fins da Economia<br />
se forem troca<strong>dos</strong> ou falsifica<strong>dos</strong> os seus verdadeiros<br />
conceitos, que terminam por violar suas invariantes.<br />
Em toda ciência cultural, é de magna importância a<br />
presença <strong>dos</strong> variantes e <strong>dos</strong> invariantes, e nunca devem<br />
os primeiros ser despreza<strong>dos</strong> em benefício <strong>dos</strong> segun<strong>dos</strong>,<br />
e vice-versa. Um hábil manejo entre ambos permite melhor<br />
acomodação aos factos e melhor assimilação <strong>dos</strong><br />
mesmos. Preferimos aqui chamar de invariantes o que<br />
se costuma chamar lei, evitando o sentido restrito deste<br />
último termo.<br />
Esses invariantes nem sempre são profundamente<br />
compreendi<strong>dos</strong>.<br />
Mas, na verdade, toda a vez que os afrontamos, estamos<br />
às portas de um grande risco.<br />
Somos, por exemplo, um país capitalista, em que<br />
ainda predominam formas eotécnicas e paleotécnicas de<br />
producção, com um primário desenvolvimento neotécnico,<br />
e com grandes possibilidades biotécnicas. Nossa economia<br />
é uma economia de um período terrivelmente caótico,<br />
e por isso, mais que outras, exige um estudo de con-