Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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160 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
estão à altura <strong>dos</strong> mesmos. Há médicos, engenheiros,<br />
advoga<strong>dos</strong>, técnicos, professores, que poderiam dar parte<br />
de sua actividade em benefício do bem comum, e que<br />
não o fazem pela simples razão de serem avessos, refractários<br />
à política.<br />
A organização, sob base de representação das capacidades<br />
reais, selectivamente organizada, como propomos,<br />
resolveria um <strong>dos</strong> nossos maiores <strong>problema</strong>s. Sobretudo<br />
daria uma solução cabal à autoridade investida, substituindo-a<br />
pela autoridade funcional, inerente, a autoridade<br />
do médico, do engenheiro em seus misteres, por<br />
exemplo.<br />
Para construirmos um novo Brasil, necessitamos da<br />
presença de to<strong>dos</strong> os brasileiros cultos para essa obra<br />
grandiosa. A cooperação, estimulada na e pela neotécnica,<br />
por seus fundamentos científicos e filosóficos, é<br />
uma acção aplicável a todas as regiões do mundo. Pode<br />
ter uma forma internacional, mas conserva e permite desenvolver<br />
um conteúdo nacional. Nós, brasileiros, necessitamos<br />
da construcção de uma visão genuinamente nossa,<br />
que não seja uma cópia das construídas em países de<br />
características diversas.<br />
Herdamos aquele coração <strong>dos</strong> portugueses, a liberdade<br />
do índio e o estoicismo do negro. É sobre esses pilares<br />
que temos de construir a nossa humana visão das coisas.<br />
O brasileiro é um povo amante da paz, é um povo<br />
fraternal por natureza, que gostaria de derramar-se em<br />
manifestações afectivas mais amplas. A contingência de<br />
sua vida e de certas condições históricas, fizeram-no triste,<br />
apático até. Há uma frase que corre de boca em boca,<br />
por to<strong>dos</strong> os quadrantes de nossa terra, e que expressa<br />
o espírito cooperacionista do brasileiro: "dar a mão<br />
ao amigo".<br />
O brasileiro não é um competidor, mas um colaborador<br />
por natureza. Por isso, a cooperação é uma solução<br />
O PROBLEMA SOCIAL 161<br />
bem nossa para <strong>problema</strong>s nossos, porque tem suas profundas<br />
raízes também na alma de nosso povo, e pode projectar-se<br />
como uma solução de confraternização <strong>dos</strong> homens<br />
em todas as partes do mundo, porque também, em<br />
outras partes, por exigência das realizações técnicas, a<br />
cooperação se impõe cada vez mais.<br />
E no Brasil se impõe, não só por exigência técnica,<br />
como por exigência económica. Somos um país de grande<br />
extensão territorial, de população reduzida e de capitais<br />
escassos.<br />
ESPIRITO PALEOTÉCNICO<br />
É natural que ante as injustiças do capitalismo paleotécnico<br />
e de suas formas de exploração, os olhos de<br />
muitos se volvam para a Rússia, onde julgam dar-se uma<br />
experiência <strong>social</strong>ista. Como o capitalismo paleotécnico<br />
é totalmente vertido para um individualismo extremado,<br />
a reacção correspondente tinha de tomar a forma de uma<br />
destruição extremada do individualismo. Nessas condições,<br />
a primeira forma viciosa encontrou pela frente outra<br />
forma viciosa. Capitalismo paleotécnico e bolchevismo<br />
são consanguíneos, nascem e vivem numa simbiose<br />
impressionante, em que um se alimenta do que outro<br />
dejecta.<br />
Uma propaganda anti-russa, mal feita, mal orientada,<br />
inculta, tem servido para fortalecer o movimento bolchevista,<br />
porque atacar mal é, realmente, uma boa forma de<br />
defender. O poder, que está nas mãos do capitalista paleotécnico,<br />
que dirige atrás das cortinas o Estado, que<br />
elege, graças aos seus meios de propaganda, os representantes<br />
que lhe convêm, passa, no bolchevismo, a ser, não<br />
mais dirigido e orientado pelos capitalistas, mas pelos<br />
elementos burocratas do partido, em nome do proletariado,<br />
por intermédio <strong>dos</strong> quais se processa a ditadura, com